terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Em defesa do livre-arbítrio. Uma pequena exegese de Efésios 1:4,5 e 4:30.

Segue um pequeno e básico (mas suficiente) tratado sobre as passagens da carta do Apóstolo Paulo aos Efésios que são costumeiramente usadas pelos defensores da predestinação incondicional (calvinismo). Quem quiser pode ler também o meu post de 26/10/2007 "Faraó, predestinação e livre arbítrio", que também trata da questão livre-arbítrio X predestinação.

Abraços!

Efésios 1:4-5

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade”.

Glórias a Deus! Que palavras mais lindas! Que Deus misericordioso o que servimos! A cada diz que passa confesso me achar menos digno de tanto amor.

Deus, que não conhece a limitação da palavra tempo, sabia que o homem cairia no pecado e que a única solução para a salvação do mesmo seria a morte de seu amado Filho (1 Co 2:7; At 4:28; Ap 13:8), ou seja, mesmo antes da fundação (criação) do mundo a morte de Cristo já estava determinada por Deus; como a salvação é somente em Cristo, todos os que viriam a aceitar esta salvação foram eleitos nEle antes da fundação do mundo, ou seja, a eleição é possível somente em Cristo; é o sangue de Jesus que nos torna santos e irrepreensíveis diante de Deus. Esta argumentação responde também a pretensão calvinista de usar 2 Tm 1:9 como defesa da predestinação, é o mesmo raciocínio.

Assim como Deus pré-determinou que os salvos seriam os que tivessem fé em Cristo, Ele também pré-determinou que os que aceitassem a Cristo seriam feitos como filhos adotivos (Gl 4:4-5), em outras palavras, os que se convertem a Cristo são predestinados a serem filhos adotivos de Deus e co-herdeiros de Cristo (Rm 8:16-17).

Efésios 4:30

“E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção”.

Novamente os irmãos calvinistas caem em um erro interpretativo. O próprio verso em análise afirma claramente a existência do livre arbítrio; ora, quando Paulo aconselhou que “não entristeçais”, é porque os crentes de Éfeso poderiam vir a entristecer o Espírito Santo.

O verso em estudo se encontra em uma seção que se inicia no verso 4:17 e se estende até o 5:21, seção essa em que o apóstolo comenta sobre ‘a santidade cristã X os costumes mundanos’. Paulo demonstrou claramente a sua preocupação de instruir os cristãos de Éfeso sobre como proceder em sua nova fé, em sua nova vida (Ef 4:22-24), e, dentre muitos conselhos, estava o de não entristecer o Espírito Santo, que seria cair no erro de cometer algumas das muitas faltas que o apóstolo citou entre 4:17 e 5:21, ou seja, entristecer o Espírito Santo seria nada mais nada menos do que fazer algo contrário a plenitude da santidade de Deus.

Paulo em nenhum momento afirmou que os cristãos efésios estavam determinados para a salvação e que nunca a perderiam, pelo contrário! No verso 21 do capítulo 4 do mesmo livro, Paulo diz que “Se é que o tendes ouvido, e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus”, ou seja, ele afirma a possibilidade de alguns irmãos efésios não terem verdadeiramente aprendido de Cristo (Ef 4:20), e, consequentemente, não terem se revestido do novo homem (Ef 4:24a). No capítulo 5, nos versos 5 e 6, está escrito: “Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Estes versos acabam, literalmente, com toda a idéia de predestinação. Dando continuidade ao seu discurso sobre o contraste entre a santidade cristã e os costumes mundanos, o apóstolo Paulo mostrou alguns atos de pessoas desobedientes a Deus, ora, quem desobedece é porque recebeu a opção da obediência, isso é irrefutável, só há desobediência aonde há a opção de obediência! Como um pai chamaria o filho de desobediente sem mostrar-lhe o caminho da obediência? E o apóstolo ainda alertou os efésios para que não fossem enganados com palavras vãs, mas por quê? Porque Paulo sabia que os efésios poderiam usar de seu livre arbítrio para dar lugar ao engano.

A presença do Espírito Santo em nossos corações é a garantia de que estamos verdadeiramente debaixo da graça da salvação, de que estamos ligados com Cristo, e de que gozaremos do arrebatamento ou da ressurreição, conforme 2 Co 1:22: “O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações”.

Para finalizar esta explanação sobre Ef 4:30, deixo o texto de Jr 22:24: “Vivo eu, diz o SENHOR, que ainda que Conias, filho de Jeoiaquim, rei de Judá, fosse o anel do selo na minha mão direita, contudo dali te arrancaria”.

Anchieta Campos

7 comentários:

Anônimo disse...

A paz de Cristo,

O irmão poderia por favor definir o que significa livre-arbítrio?

Obrigado.

Ednaldo

Anchieta Campos disse...

Caro irmão Ednaldo, primeiramente obrigado pela sua participação no meu blog. Sinta-se sempre bem para poder interagir conosco.
O amado foi curto e objetivo, como também o serei.
Dividindo as palavras temos:
LIVRE = liberdade, sem estar preso a algo (seja vontade, pessoa, lugar, instituição, etc.).
ARBÍTRIO = é capacidade de arbitrar, tomar decisões, escolher, fazer julgamentos.
Logo livre-arbítrio seria a capacidade de se tomar decisões livremente, sem a interferência de ninguém e de nada.
É claro que essas escolhas muitas vezes podem vim a ser manipuladas por más informações recebidas, seja a fonte que for. Mas a escolha em si sempre recairá na liberdade que cada um individualmente detém.
É evidente também que cada escolha tem as suas conseqüências, dependendo se forem boas ou más, é o que se percebe claramente em Dt 30:15:19.
Espero que tenha respondido satisfatoriamente ao seu questionário.

Anchieta Campos

Anchieta Campos disse...

Corrigindo a referência, ela é Dt 30:15-19, ou seja, capítulo 30 e os versos do 15 ao 19.

Anchieta Campos

Paulo Silvano disse...

Caro Anchieta,
Paz do Senhor.Parabens pela postagem. Há algum tempo li a outra postagem sua, sobre o mesmo tema. Vc está entre os poucos que não se envergonham em assumir que são arminianos, com todas as implicações.
Foi de grande valia travar relacionamento com o irmão nesse ano de 2007, através da blogosfera. Desejo a você um bom final de ano e que 2008 revele um tempo em que o labor mais precioso na nossa comunicação continue sendo a busca da afirmação dos nossos blogs como espaços de koinonia.
Obrigado pelas visitas e valiosos comentários lá no Sinergismo.

Um abraço
Paulo Silvano

Anchieta Campos disse...

Ilustre Pr. Paulo Silvano,
Suas palavras em meu blog mais uma vez só trazem mais brilho e sabedoria para o mesmo.
É bom saber que no barco bíblico do arminianismo existem pensadores como o amado. Esse fato só vem a nos animar e incentivar para que mantenhamos nossa posição em defesa dos ensinos bíblicos.
Desejo também um excelente período de fim de ano! E que em 2008 nossos laços fraternos possam se estreitar cada vez mais!
É uma honra tê-lo como amigo e parceiro na blogosfera cristã-pentecostal!

Anchieta Campos

Anônimo disse...

É só usar a lógica!Existe um barco predestinado a ir para seu destino(céu) e este vai para lá de todo jeito,porém Jesus convida a todos a entrarem no barco,ele não escolhe ninguem para ir.A decisão é nossa ser queremos seguir nosso capitão ou não.O problema é que muitos gostam de ficar acamodados na almofada da predestinação.

Graça e Paz.

Discípulo de Cristo disse...

Prezado irmão Anchieta Campos.

Sua reflexão sobre a questão "Livre-arbítrio", foi verdadeira e brilhante.

Permita-me comentar sobre um outro tipo de sutileza dos que defendem (a predestinação),em causa própria:

1. Se alguém foi predestinado à salvação, esse mesmo não precisará testemunhar Jesus (Sal e Luz) e consequentemente não sofrerá perseguição.

2.Não se fará necessário também lutar espiritualmente, com a pregação da Verdade pelas almas daqueles que estão no caminho da perdição. Espera-se apenas que os "predestinados" compareçam nos respectivos templos de "teologia calvinista".

3. Enfim, basta enganar-se a si mesmo e transferir toda batalha de evangelismo espiritual(sem pagar o ônus) para um período no futuro, onde afirmam que os que estiverem vivos em tal período, "supostamente" pagarão o preço de morrerem como mártires do Evangelho.

Conclusão:
Se no tempo do Evangelho da Graça, onde o Espírito Santo fortalece a Igreja com poder para testemunhar Jesus, os mesmos escolhem pertencer ao grupo das noivas néscias, como acreditar que no governo do anticristo, esses defensores de tal teologia, terão coragem de serem fiéis até a morte?

APENAS PARA MEDITAR!

Um abraço do Discípulo,
J.C. de Araújo Jorge

Paz Seja Contigo!