domingo, 8 de julho de 2012

O cristão e o vinho – O que a bíblia ensina sobre a bebida alcoólica?

O meio protestante (ou evangélico, como queiram) é notadamente o seguimento da cristandade mais voltado para o estudo e a observância da Bíblia Sagrada. Desde a época da Reforma Protestante que o próprio conhecimento em si (em suas mais variadas vertentes científicas e filosóficas) ganhou força e desenvolvimento no mundo, sendo a Reforma – com seus teólogos reformadores – uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da literatura alemã, inglesa, francesa, e etc., por intermédio da tradução da Bíblia para essas e outras línguas.

A cada ano que se passa o conhecimento teológico só vem sendo cada vez mais lapidado e aperfeiçoado no segmento reformado da cristandade, com uma expansão de produções teológicas e de um acervo de literatura bíblica sempre ascendente. Hoje são inúmeras as editoras evangélicas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, dotadas de uma boa safra de teólogos altamente gabaritados e preparados na Sagrada Escritura.

Porém, ainda que o mais raso estudioso da teologia tenha conhecimento do fundamento bíblico do princípio da Sola Scriptura, ainda não raro encontramos certos temas relativamente “complicados” de serem tratados e abordados de um modo puro e imparcial em nosso meio. Um deles (e um dos principais) é o do relacionamento entre o crente e a bebida com conteúdo alcoólico.

O fato é que até mesmo nas igrejas ditas mais “liberais” o assunto bebida alcoólica é difícil (principalmente nas correntes pentecostais clássicas e no Brasil). Verdadeiramente será raro achar um crente em Jesus com o qual você consiga prosear biblicamente sobre o assunto, pois a mente da maioria esmagadora dos evangélicos está, digamos, “formada” para condenar imediatamente o uso (mesmo que moderado) de qualquer bebida alcoólica.

Mas afinal de contas, o que a história judia e cristã, e principalmente a Bíblia (nossa regra maior de fé e conduta humana) têm a dizer a respeito deste assunto?

Vamos descobrir!


UMA ABORDAGEM HISTÓRICA

Fazendo empréstimo das palavras do irmão Danilo Fernandes (editor do Portal Genizah), temos o valioso registro da história da Igreja Cristã sobre o tema bebida alcoólica, em artigo de sua autoria publicado na festejada revista cristã “Cristianismo Hoje” (Leia o artigo completo aqui http://www.genizahvirtual.com/2012/07/o-evangelico-e-o-alcool.html):

“O que a maioria dos evangélicos brasileiros desconhece é que esta visão estigmatizada acerca do álcool é coisa muito recente na história da Igreja. Ao longo de quase 2 mil anos de cristandade, prevaleceu a noção de que a bebida, em si, é neutra, uma dádiva do Senhor que traz alegria – sendo o seu consumo excessivo, ou embriaguez, esta sim, pecaminosa. De fato, muitos crentes se escandalizariam ao descobrir que, na galeria dos heróis da fé protestante, homens e mulheres de Deus consumiam bebida alcoólica (...) O produto da uva era parte fundamental da cultura, da religiosidade e da economia do povo hebreu, desde sua origem”.

Realmente a questão do uso (moderado) da bebida alcoólica sempre foi – na história da cristandade – tratado com normalidade. Aprendemos ainda que tal assunto foi abordado já no primeiro catecismo cristão de que se tem registro, a famosa Didaquê (também conhecida como Instrução dos Doze Apóstolos), datada do século I, ou seja, elaborada na Era Apostólica da Igreja. Em referido catecismo ficou cristalino a liberdade do livre uso do vinho, tanto na celebração da Ceia do Senhor, bem como no consumo cotidiano dos irmãos primitivos, onde inclusive havia uma instrução determinando a existência de uma reserva de vinho da comunidade, para ser servida aos profetas visitantes e, quando na ausência destes, fornecido aos pobres.

Continua o irmão Danilo: Clemente de Alexandria (que viveu aproximadamente entre os anos 150 e 215 da Era Cristã) julgava absolutamente justo ao homem consumir a bebida para o seu relaxamento e defendeu fortemente a presença obrigatória do vinho na Ceia do Senhor, contra as tentativas de gnósticos de substituir o vinho por água (...) O fim do Império Romano, no século 5, fez surgir o modelo econômico feudal, no qual os mosteiros, abadias e outras estruturas religiosas passaram a produzir os seus víveres – e o vinho era item fundamental, não apenas na dieta, mas para as celebrações religiosas. A cerveja também era produzida e largamente consumida pelos religiosos. Os monges foram responsáveis pela maior parte da produção de vinho e cerveja na idade média e também pelo aprimoramento dos processos de fabricação.

O irmão Danilo Fernandes prossegue com a descrição histórica até chegar à época da Reforma Protestante: “A Reforma Protestante é marcada pelo retorno às Escrituras, mas também pelo esforço dos reformadores em romper com as tradições católicas o quanto fosse possível, estabelecendo uma distância não apenas teológica, mas também cultural. Contudo, a visão dos reformadores quanto ao consumo da bebida não recebeu novo escrutínio, ao contrário: eles doutrinaram a Igreja a receber a bebida como uma bênção de Deus e a usufruir dela com moderação, não se deixando dominar por ela. Lutero consumia vinho e era conhecido como um grande bebedor de cerveja, produzida por sua esposa, Catharina. Já João Calvino recebia como parte de seu salário anual da Igreja Reformada suíça sete tonéis de vinho.

Inquestionavelmente a Reforma Protestante foi uma grande obra levantada por Deus para reavivar a Igreja Cristã da Idade Média, a qual havia sido feita refém dos abusos e desvios doutrinários e teológicos da Igreja Católica Romana. Mas não vemos nenhum reformador combatendo o recorrente uso da bebida alcoólica no meio da cristandade. Como bem já citado acima, a esposa de Lutero fabricava a sua própria cerveja, a qual o reformador alemão consumia com regularidade; bem como João Calvino recebia tonéis de vinho como porção do seu pagamento por parte da Igreja Reformada Suíça. Poderia também (e tranquilamente) discorrer linhas e mais linhas sobre a relação (bem próxima) entre o reformador escocês John Knox com o whisky. As palavras de Martinho Lutero refletem bem a naturalidade com a qual a bebida alcoólica era tratada no meio religioso cristão do século XVI: “E enquanto eu dormia ou bebia a cerveja de Wittenberg junto de meus amigos Philipe e Amsdorf, a Palavra enfraquecia o papado de forma tão grandiosa que nenhum príncipe ou imperador conseguiu infligir-lhes tantas derrotas. Eu nada fiz: a Palavra fez tudo” (Martinho Lutero, LW 51.77).

Por fim, só vemos a contemplar a primeira objeção à bebida alcoólica no século 18, com o movimento metodista emplacado pelo célebre inglês John Wesley. A partir daí a tese da abstenção total da bebida alcoólica veio ganhando força no meio evangélico, com reflexos mais fortes no meio pentecostal brasileiro.


UMA ABORDAGEM BÍBLICA-TEOLÓGICA

A Bíblia é um livro que contém mais princípios que mandamentos isolados. A bem da verdade, todo mandamento bíblico (objetivo) é o reflexo de um princípio geral-norteador maior (de caráter essencialmente subjetivo). Devemos ter a consciência de que assim como no Direito o subjetivo pesa tanto quanto o objetivo, na justiça divina também não é diferente. Deus consegue não ser um intransigente total e ainda assim cumprir a justiça de sua Palavra. Provérbios 12:22 diz que “O homem de bem alcançará o favor do SENHOR, mas ao homem de intenções perversas ele condenará”, ver ainda Hb 4:12 com atenção e Lc 10:13,14; 1 Sm 16:7; Pv 6:16-19; Mt 22:35-40; Rm 13:8; Gl 5:22,23. Devemos ainda compreender que mais importante é a intenção motivadora do coração em praticar determinado feito, do que o próprio e mero ato cumpridor e observador da lei (mandamento objetivo); é o que podemos perceber claramente em Mt 19:16-24. Portanto, devemos ter a consciência de que na questão bíblica da bebida alcoólica (notadamente do vinho) não é diferente.

De todo modo, percebemos de pronto que não há simplesmente nenhuma norma bíblica proibindo o consumo moderado de bebida alcoólica (a partir de agora podendo ser tratada neste artigo somente como vinho). A palavra de Deus censura o consumo imoderado do vinho (cf. Pv 23:29,30; Is 5:11; Dt 21:20; Rm 13:13; Gl 5:21; 1 Pe 4:3; Ef 5:18; 1 Tm 3:8; Tito 2:3; 1 Co 5:11; Lc 21:34), mas não o consumo moderado do mesmo.

Destarte, em Provérbios 23:20 está escrito: “Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne”. O vocábulo hebraico para “beberrões de vinho” é sâbhâh, que significa “beber fartamente”, “ficar embriagado”, sendo também sinônimo de “bêbado”. Tal significado fica ainda mais evidente ao se analisar que tal palavra está posta justamente ao lado de “comilões de carne”, ou seja, o que se censura em Provérbios 23:20 é o exagero, tanto no vinho como na ingestão de alimentos (cf. Lc 21:34: ‘E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez’).

Destaque-se ainda que toda vez que a bíblia trás no Novo Testamento a reprovação a “bebedice” e “bebedeiras”, cita tais vocábulos imediatamente ao lado do vocábulo “glutonarias” (cf. Rm 13:13; Gl 5:21; 1 Pe 4:3), em uma clara alusão que a reprovação repousa sobre o excesso, tanto na bebida como na comida do banquete.

O vinho tem uma representatividade tão grande em toda a Bíblia que foi instituído como elemento dos sacrifícios nas cerimônias de consagração da Antiga Aliança (Êx 29:40; Esdras 6:9), cf. Lv 23:13: “E a sua oferta de alimentos, será de duas dízimas de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta queimada em cheiro suave ao SENHOR, e a sua libação será de vinho, um quarto de him”. Ver ainda Nm 15:5-10 e 28:14. Ainda no Antigo Testamento vemos a seguinte sentença: “E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa” Dt 14:26.

Analisemos ainda as palavras de Isaías: “Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei; sim, vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se deleite com a gordura” Is 55:1,2. Oras, há aqui um convite divino para comprar vinho. Percebe-se mais uma vez que o consumo moderado de vinho não é censurado, mas sim chega a ser incentivado! Neste exemplo o vinho é citado ao lado do leite, notadamente como sendo também um alimento, um alimento bom e que satisfaz (versículo 2).

O salmista afirma que é Deus quem faz o vinho, o qual alegra o coração do homem: “E o vinho que alegra o coração do homem, e o azeite que faz reluzir o seu rosto, e o pão que fortalece o coração do homem” Salmos 104:15. Oras, qual vinho será esse senão o vinho alcoólico? Pode, porventura, o suco de uva não alcoólico alegrar o coração do homem? Este versículo é uma clara alusão ao vinho fermentado, alcoólico. Destarte, o prensado natural da uva é o mosto (não alcoólico), o qual evolui rapidamente para um produto alcoólico em função da fermentação natural.

No Novo Testamento, conforme já citado, o ensino é a censura ao exagero, e não ao vinho em si. Oras, porventura o primeiro sinal e milagre de Jesus não fora justamente transformar água em vinho?! Destarte, Jesus transformou a água em vinho, e o termo original usado em Jo 2:9 (grego oinos) é o mesmo usado em Ef 5:18, onde Paulo fala do vinho alcoólico capaz de embriagar. Ademais, a palavra grega para “embriagueis” em Ef 5:18 é methyskô (E não vos embriagueis (methyskô) com vinho (oinos), em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito), que significa “intoxicar”, “estar embriagado”, palavra correlacionada com methysos, que significa “bêbado”, “beberrão”, e sendo methyskô ainda a forma prolongada transitiva de methyô, que significa “beber até a intoxicação”, “ficar embriagado”, “beber muito”. Portanto, Jesus transformou água em vinho alcoólico, capaz de embriagar, tanto que os participantes da festa de casamento em Caná não perceberam nenhuma diferença entre o vinho transformado por Jesus e os vinhos que eles costumavam beber e já tinham bebido na festa.

Mas não fica só nisso, ao ponto de vermos recomendações de consumo moderado de vinho no Novo Testamento. “Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho (oinos), por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” 1 Timóteo 5:23. O vinho que o Apóstolo Paulo fala para Timóteo é o mesmo vinho (oinos) tratado em Ef 5:18, ou seja, vinho alcoólico.


CONCLUSÃO

É inegável que o vinho faz parte de toda a Bíblia e de toda a história de Israel e de toda a história da Igreja, inclusive desde os dias da Igreja Apostólica. Seu uso se fez presente nos patriarcas do Antigo Testamento, nos sacrifícios e cerimônias da Antiga Aliança, na dieta de reis, sacerdotes, judeus, dos apóstolos, etc. Igualmente seu uso se fez presente e sem objeções no seio da Reforma Protestante. Seu simbolismo e importância são incontestáveis em toda a Bíblia (inclusive na Ceia do Senhor). O vinho, naturalmente, é uma dádiva de Deus, que o criou, assim como criou naturalmente o álcool e o processo de fermentação. Relegar ao vinho ou ao álcool um status de pecado é o mesmo que atribuir a Deus a criação de algo pecaminoso, a criação do próprio pecado.

O pecado não repousa no vinho em si, pois o mesmo é neutro, incapaz de carregar o mal em si mesmo. Se assim fosse deveríamos nos abster de comer carne e de nos alimentar, pois haveria a possibilidade de se exagerar na comida da carne e se findar por entrar na gula e na glutonaria, o que é condenável por Deus. Logo a culpa seria da carne ou do alimento? De modo nenhum! Do mesmo modo a culpa pela embriaguez não é do vinho ou da bebida alcoólica, mas de quem fez uso imoderado do mesmo.

A questão de beber ou não, moderadamente, é algo da liberdade cristã, não sendo pecado, como acima se demonstrou exaustivamente; portanto não cabe ao cristão ser julgado por beber moderadamente (‘Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber’ Colossenses 2:16). O fato de um irmão achar que beber vinho é pecado não torna tal prática pecado, pois quem legislou foi Deus e não nos é dado legislar (Ap 22:18,19); sobre isso fica apenas o cuidado da recomendação de Paulo em Romanos 14:20-23, bem como a sentença: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” 1 Co 10:31.

Como bem falou o Apóstolo Paulo, “tudo é limpo” (Rm 14:20) e “Todas as coisas são puras para os puros” Tito 1:15. Devemos ter o cuidado descrito em Cl 2:20-23: “Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne”. Amém!

“Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe com coração contente o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras” Eclesiastes 9:7.



“E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa” Dt 14:26.

Com amor e temor,

Anchieta Campos

domingo, 24 de junho de 2012

Adventistas apontam para uma mudança de entendimento sobre a Lei Mosaica

Houve mais um lampejo de Sola Scriptura no seio adventista em relação à questão doutrinária-teológica da Lei Mosaica. Tradicionalmente os adventistas do sétimo dia sempre fizeram confusão hermenêutica entre os aspectos cerimonial e moral da lei (o que é de conhecimento de todos), o que findava por ter implicações sérias no campo soteriológico adventista (notadamente com um apelo muito grande pra observância da lei para fins de salvação).

Na Revista Adventista do mês de maio, em um artigo sobre o Livro de Gálatas de autoria de Wilson Paroschi, encontramos a seguinte assertiva:

“Uma importante questão hermenêutica (ou interpretativa) suscitada por Gálatas diz respeito à natureza da lei de que se fala o apóstolo. Espera-se que, depois dessas lições, tenhamos sepultado para sempre aquela velha distinção entre lei moral e lei cerimonial como a chave para se entender a epístola. Não que não houvesse leis morais e cerimoniais na vida do antigo Israel, mas o ponto é que tal distinção não é de forma alguma a solução para se interpretar Gálatas ou quaisquer outras passagens em que Paulo parece falar da lei de uma perspectiva negativa. Introduzido pelos nossos pioneiros em meados do século dezenove e no contexto das discussões quanto à validade do sábado, o argumento – de que quando Paulo parecia falar mal da lei ou enfatizar sua temporariedade (como em Gl 3:24-25), ele tinha em mente a lei cerimonial, e de que, quando falou bem da lei (como em Rm 7:10-14), ele se referiu à lei moral – não está correto, apesar de sua praticidade e eficiência evangelísticas. A lei em Gálatas não é a lei cerimonial, mas principalmente a lei moral, pois é a lei moral que revela o pecado, condena o pecador e o conduz a Cristo. É disso que Paulo falou nessa carta. Em Hebreus, sim, o ponto é a transitoriedade da lei cerimonial e, com ela, de todo o sistema sacrificial levítico (Hb 8:7-13; 9:9-10; 10:1-10). Mas, em Gálatas, como em Colossenses 2.14 e 2 Coríntios 3:7-11, o apóstolo se referiu sobretudo à lei moral. (Wilson Paroschi – Lições de Gálatas - Revista Adventista, maio de 2012, p.18 – destaque nosso). Fonte: http://www.cacp.org.br/adventismo/artigo.aspx?lng=pt-br&article=2848&menu=1&submenu=8

Inegável que este texto representa mais uma sincera (e ousada) amostra de que há uma tendência (e anseio) no meio adventista pela correta interpretação das Escrituras. Admitir um erro histórico (de mais de século) não é algo tão simples quanto se parece.

Em relação a esta temática sobre o paralelo entre a Observância da Lei x Salvação, conforme já explanado neste blog, o mero fato de observar os mandamentos da lei mosaica não garante a vida eterna (cf. Mt 19:17-24). Destaque-se ainda, de pronto, que conforme a referência supra citada, a guarda do sábado, a observância da circuncisão, a observância das festas judaicas, os holocaustos, e outros caracteres da lei mosaica, não foram citados por Jesus como requisitos para a salvação (ver At 15:25; 1 Co 7:18-20; Cl 2:16,17).

A bem da verdade, é inconteste que a observância da lei e seus mandamentos não tem o poder de tornar o homem justo perante Deus, mas tão somente o sacrifício de Cristo é que detém tal eficácia (cf. Rm 3:19-28; 8:3; Gl 2:16,21; 3:10,11; Ef 2:8,9,13-16; 2 Tm 1:9; Hb 9:19-28; 10:1-4), tendo a lei sido revogada como meio divino para se chegar à Deus (cf. Gl 3:24,25; Hb 7:18,19).

Uma passagem bastante pertinente sobre o tema é Mt 5:19, que diz: “Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus”. Aqui Jesus está se referindo justamente à lei mosaica (v. 18), e percebemos que a ênfase soteriológica repousa no correto ensino bíblico, e não necessariamente na irrestrita e perfeita observância dos mandamentos ensinados. Vemos que mesmo que um crente chegue a violar algum mandamento, ainda assim o mesmo poderá herdar o reino dos céus, pois na verdade não há pessoa alguma que esteja isenta de pecar (Ec 7:20; 1 Jo 1:8-10). Lembremos ainda, como eu já disse aqui no blog em outra oportunidade, que por mais que o exterior possa ser um reflexo do interior de uma pessoa, o mesmo é enganoso em ambos os sentidos, sendo que o que define realmente uma pessoa para com Deus é o seu interior (1 Sm 16:7; 2 Co 5:12; Gl 2:6; Cl 2:23; 3:22; 2 Tm 3:5). Por isso que o julgamento de uma pessoa deve se iniciar sempre pela doutrina que a mesma professa (Rm 16:17; Ef 4:14; 1 Tm 1:3,10; 4:1,6; 6:3-5; 2 Tm 4:3,4; Tt 1:9; Hb 13:9; 2 Jo 1:9,10; Ap 2:14,15), sendo que os atos condenáveis (Gl 5:19-21; Ap 21:8; 22:15) não são necessariamente o estado permanente e imutável de uma pessoa, cf. 1 Co 6:9-11; Ef 2:2,3; 5:8; Cl 1:21; 3:5-8; Tt 3:1-5.

Os mandamentos maiores da fé cristã não estão relacionados diretamente com a observância dos regramentos da lei, mas sim em relação a termos fé em Jesus e a amarmos uns aos outros (1 Jo 3:23; 4:21; Jo 13:34,35; 15:12). Ver Mt 22:36-40.

Portanto, a observância dos mandamentos da lei mosaica não é requisito para a salvação. Pontos como a guarda do sábado, circuncisão, festas judaicas e holocaustos, não fazem parte do quadro de mandamentos que devem ser observados na Nova Aliança. A observância perfeita dos mandamentos confirmados pela Nova Aliança, bem como os surgidos na mesma, conquanto sirvam de padrão para a vida cristã, não vem a ser requisito primário e indispensável para a salvação, visto que, conquanto o crente sempre busque levar uma vida santa aqui na terra, o mesmo jamais conseguirá ter uma vida imaculada; devendo, quando pecar (o que deve ser exceção na vida do crente), buscar em Cristo (e não na inútil observância dos mandamentos) o perdão pelos pecados (cf. 1 Jo 2:1,2).

Que os queridos adventistas (que reconhecidamente é um grupo detido na prática da leitura bíblica e complementar) possam -  de uma vez por todas – se firmar na maravilhosa graça de Deus, que é o único meio que detemos para alcançar a remissão dos nossos pecados e da nossa culpa perante Deus, e possam confiar unicamente nela (na graça) para alcançarem a vida eterna, e não em observâncias de preceitos legalistas, os quais nunca serão capazes de justificar nenhum pecador. Amém!

Com amor,

Anchieta Campos

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Pesa mais o pecado contra a doutrina que o pecado contra a disciplina cristã

“Por doutrina falsa se deteriora a fonte da vida da igreja e da disciplina eclesiástica. Por isso, pesa mais o pecado contra a doutrina que o pecado contra a disciplina cristã. Quem rouba da igreja o Evangelho merece condenação irrestrita; quem, porém, peca em sua conduta, para esse existe o Evangelho. Disciplina doutrinária refere-se, em primeiro lugar, aos ministros encarregados de ensinar o Evangelho na igreja. (...) É dever do ministro propagar, na igreja, a reta doutrina e combater qualquer perversão. Onde se instalam heresias evidentes, o ministro ordenará que ‘não ensinem outra doutrina’ (1Tm 1.3), pois ele é portador do ministério da doutrina e tem direito de ordenar. Além disso, deverá evitar contendas de palavras (2Tm 2.14). Se for comprovada a heresia, admoeste-se o herege primeira e segunda vez; se não ouvir, rompa-se a comunhão com ele (Tt 3.10; 1Tm 6.4s.), pois ele seduz a igreja (2Tm 3.6s.)”.

Dietrich Bonhoeffer*, Discipulado, p. 193-194.

Como discordar deste nobre teólogo e pastor luterano? Não há como!

*Dietrich Bonhoeffer (Breslau, 4 de fevereiro de 1906 – Berlim, 9 de abril de 1945) foi um teólogo, pastor luterano, membro da resistência alemã anti-nazista e membro fundador da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política nazista. Fonte: Wikipédia.

Anchieta Campos

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Não murmureis

“Fazei todas as coisas sem murmurações” Filipenses 2:14


Esta vida terrena realmente não é nada fácil. O próprio Cristo nos alertou que teríamos aflições neste mundo (Jo 16:33). Ao contrário do que apregoam os apologistas da famigerada teologia da prosperidade e da doutrina da confissão positiva, as enfermidades e as dificuldades (em seus mais variados aspectos terrenos) podem vir a fazer parte da vida de algum crente fiel (Fl 2:25-27; 2 Tm 4:20; Tg 5:14,15; Fp 4:12; Rm 12:13; 2 Co 6:4).

Como seres humanos, super limitados em nossa própria essência e natureza, passaremos por inúmeros momentos nesta vida onde a nossa paciência (e fé) será testada, sendo tentados a nos queixarmos de algumas dessas situações desagradáveis, e, no caso de nós cristãos, a nos queixarmos com Deus.

Primeiramente cabe destacar que Deus não é o culpado por nenhum dos males e problemas que eventualmente venham a afligir os crentes em Jesus, haja vista ser o Deus de Israel um Deus justo (Salmo 7:11; 119:137; 145:17; Ap 16:7), onde toda murmuração e queixa do homem é conseqüência de seus pecados (Lm 3:39), em reflexo da lei da semeadura (Gl 6:7); bem como também pode ser conseqüência de próprias falhas e erros na administração e/ou execução secular de determinados atos e/ou projetos. Portanto, já vemos que não cabe ao crente em Jesus (e nem ao ímpio, evidentemente) reclamar de Deus por alguma adversidade.

A murmuração tratada na Bíblia, notadamente no Novo Testamento, em seu sentido exegético, está relacionada com a idéia de sussurro. A palavra traduzida por “murmuradores” em Rm 1:30 é psithyristes, e significa alguém que sussurra, murmura. Logo a murmuração é uma queixa que se exterioriza de modo contrito, mas que pode carregar consigo uma queixa-reclamação forte. Ademais, não importa o modo como se exterioriza o sentimento queixoso, mas sim a real motivação subjetiva (i.e., do coração) do murmurador (cf. Mt 12:34; 15:18,19).

Os sussurros da murmuração nem sempre serão queixas ou reclamações, mas podem ser também conversas de cunho reservado sobre temas que desagradam, causam escândalo, ou não são aceitos pelo público em geral que se está ao redor (cf. Mt 20:11; Lc 5:30; 15:2; Jo 6:41-43,61; 7:12,32); mas também podem se referir a queixas e/ou reclamações propriamente ditas (cf. 1 Co 10:10; Jd 1:16; Nm 14:1-3,27; Dt 1:27). De todo modo, a murmuração é reprovável pela Bíblia (Fp 2:14; 1 Pe 2:1; 4:9), notadamente esta última espécie de murmuração (a queixosa, reclamante), a qual é a tratada neste artigo.

Por fim, a murmuração queixosa revela a falta de paciência do crente, a qual é a origem da nossa esperança (Rm 5:3,4), e se reveste ainda de suma importância para a vida do cristão (Cl 1:11; 1 Tm 6:11); além de revelar também uma falta de confiança na providência e no cuidado do nosso Pai Celestial para conosco (Mt 6:25-34).

Que possamos ser, a cada dia mais, crentes afastados da prática da murmuração, pacientes para com as adversidades desta vida, sempre confiantes no amor e no cuidado de Cristo por nós (1 Pe 5:7); sabendo que, se alguma adversidade nos atinge, com certeza não é Deus o culpado, mas sim o agente capaz de nos fazer superar a mesma. Amém!

Anchieta Campos

sábado, 16 de junho de 2012

De volta ao ministério escrito

“TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” Eclesiastes 3:1

Após mais de dois anos sem fazer aquilo que sempre me deu prazer, que é escrever sobre a Bíblia e a fé cristã, estou de volta a este tão importante ministério cristão.

Nos primeiros anos de blog (2007-2009) aprendi bastante sobre a Palavra de Deus, cultivei relações de amizades que até hoje se mantém firmes e sinceras, inclusive com nomes ilustres da Assembléia de Deus do Brasil e da CPAD, e pude, mesmo com as limitações de um novo convertido, produzir mais de 200 artigos teológicos e ganhar uma notoriedade no meio evangélico que jamais pensei que fosse alcançar. Toda honra e toda glória seja para o nome de Jesus!

Por motivos seculares, parei por dois anos (2010-2011) de escrever e atualizar este blog. Final de faculdade, monografia, estudos para exames da OAB e concursos, e uma estranha (e nunca assimilada) oposição de uma pessoa que nunca pensei que iria se sentir ofendido com os meus escritos me levaram a fraquejar na produção de artigos, até findar na paralisação total das atualizações.

Durante este período de inércia sempre senti em meu espírito o desejo ardente de voltar a escrever sobre a Bíblia e sobre a fé cristã, desejo este sempre mantido vivo pelo Espírito Santo de Deus, o qual é a origem de toda boa dádiva e capacidade que recebemos nesta vida. Amém!

A cada atentado (novo ou já velho conhecido) contra a sã doutrina das Sagradas Escrituras, meu coração sentia uma dor enorme no peito, e minha consciência era acusada pelo Espírito do SENHOR de negligência ao ministério que o Eterno Deus havia me confiado e capacitado a realizar.

Boa surpresa sempre vinha quando eu acessava a página de administração do blog, onde contemplava muitos comentários elogiosos e de incentivo para eu voltar a escrever. Observava também que o número de acessos ao meu blog nunca diminuiu (até hoje, como constatei), sempre se mantendo em um patamar considerável de acessos diários. Glória a Deus por isso!

Aprendi e amadureci bastante nestes dois anos de inércia no ministério. Certas coisas só se aprendem com o tempo e com o convívio na igreja. Oremos pela Igreja do Senhor e pela igreja evangélica em todo o Brasil e no Mundo. Isso é algo mais que necessário!

Eu sabia que não podia renegar a este ministério que o Senhor Jesus me entregou. Sabia que a volta era questão de tempo!

Nos últimos meses o cenário foi tomando forma para uma volta a este tão nobre ministério. A posse do Pr. Martim Alves da Silva como o novo Presidente da Igreja Evangélica Assembléia de Deus no Rio Grande do Norte, sucedendo o nobre e ilustre Pr. Raimundo João de Santana, e a posse do também ilustre e nobre Pr. Israel Caldas Sobrinho na Presidência da Assembléia de Deus em Pau dos Ferros-RN (minha igreja local), apontavam para um cenário de renovação e recomeço de obras inerentes ao Reino dos Céus, o que acabou influenciando em meu ministério.

Consegui minha formatura em Direito, passei no Exame da OAB, passei em dois concursos públicos e estou aguardando a nomeação no que vou assumir; nunca me afastei da Casa do Senhor e da comunhão com o Eterno Deus; nunca reneguei a graça do Senhor Jesus, a qual todos os seres humanos são necessitados.

Hoje estou aqui, mais do que nunca dependente da graça e do amor do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou um vaso pequeno, que tem muito a aprender, mas que se põe (assim como em setembro de 2007, quando iniciei este blog) nas mãos do Oleiro, para ser usado em defesa da Palavra de Deus, refutando as heresias e os modismos contrários a Sã Doutrina Bíblica, a qual é sem misturas e sem interesses.

Realizei algumas mudanças no blog, tanto na aparência quanto no conteúdo, onde houve alterações na estrutura de links da lateral direita, com a inclusão e remoção de alguns itens, bem como com a atualização de outros. O padrão para a aceitação dos comentários continua o mesmo, onde serão evitados comentários anônimos e de pessoas que procuram apenas causar contendas, sem interesse real e sincero em debater sobre a Palavra de Deus e assuntos pertinentes com a fé cristã.

Rogo as orações de todos os santos que lêem este humilde espaço. O único objetivo deste blog é honrar a Sagrada Escritura e o nome de Jesus, anunciando-o como o único e suficiente Salvador de nossas almas, e proclamando a Bíblia Sagrada de modo puro e sem misturas, anunciando-a como a perfeita, inerrante, infalível, perfeita e suficiente Palavra de Deus aos homens.

Hoje se cumpre em minha vida a palavra do Apóstolo Paulo em Romanos 11:29, que diz: “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”, para que assim eu possa cumprir com a missão delegada em Judas 1:3: “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”. Amém!

Em Cristo,

Anchieta Campos