sábado, 30 de maio de 2009

A disciplina eclesiástica local e a comunhão com Deus

Quem é evangélico sabe que existe em nosso meio o instituto da “disciplina”, o que nada mais é do que uma sanção aplicada pelo pastor local (na maioria das vezes com o prévio aval do presbitério) a determinado membro ou grupo de membros da igreja local. Pelo fato de já ter presenciado e tido notícia de diversas disciplinas sentenciadas sobre membros, pelos mais variados motivos, e com as mais variadas sanções e resultados sobre a vida dos “condenados”, deliberei realizar esta pequena análise sobre o tema, notadamente enfocando qual a relação de uma disciplina aplicada por um líder eclesiástico local, com a vida espiritual do “apenado”.

Primeiramente tem que se destacar que o protestantismo está voltando a sofrer (ou ainda sofre) com uma nada boa herança do catolicismo romano, que é a falsa idéia de que o líder eclesiástico tem o poder de determinar quando certo membro está ou não em comunhão com o Corpo de Cristo, e, por sua vez, em comunhão com Deus. É isso mesmo! Temos em nosso meio os papas evangélicos! Muitos líderes pensam que tem a chave de Mt 16:19! Sei que é meio absurdo e até cômico (realmente romanismo no seio protestante é absurdo e cômico!), mas é uma realidade patente em nosso meio.

O exemplo maior desta realidade é a proibição do membro em disciplina de participar do pão e do vinho na Santa Ceia. Oras, quem é o líder local para dizer se o membro está ou não em comunhão com Deus e com os irmãos? É por acaso ele Deus para conhecer o coração de “suas” ovelhas? Não estou aqui menosprezando e nem desmerecendo a figura das igrejas locais e dos seus líderes (ver meu artigo Em defesa da igreja local), muito menos dizendo para a igreja local ser benevolente com o pecado (ver meu artigo O crente e o pecado), mas apenas que se saiba tratar o pecado do modo que é para ser. Se o pecado foi público e notório para toda a igreja e sociedade próxima, tudo bem ser repreendido (conforme o seu grau) de um modo que a igreja local perceba que houve uma medida de coibição, que o pecado não fora tolerado (cf. Rm 16:17; 1 Co 5:1-5; Gl 2:11-14), e para isto não é necessário proibir o irmão de participar da Santa Ceia, pois isto foge da atribuição do pastor, sendo algo estritamente entre o crente e Deus (ver meu artigo Compreendendo a Santa Ceia). Se o pecado não é público e notório para a igreja, sendo conhecido apenas da liderança ou de alguém próximo, e o crente insiste em permanecer no erro, aplica-se, por analogia, o disposto em Mt 18:15-17. Destaque-se que em relação aos presbíteros (leia-se líderes), a recomendação bíblica é de uma repreensão sempre pública, apenas com a ressalva de não ser uma acusação feita por uma pessoa só (1 Tm 5:19,20); o que vem a ser justo, haja vista a posição que eles ocupam, bem como a responsabilidade que carregam.

A disciplina basilar sobre a temática em questão se encontra em Hb 12:5-11: “E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do SENHOR, e não desmaies quando por ele fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (cf. Ap 3:18-20). A disciplina que vem a ser o reflexo da comunhão com Deus, por evidente, apenas pode partir do próprio Deus! Por mais que o exterior possa ser um reflexo do interior de uma pessoa, o mesmo é enganoso em ambos os sentidos, sendo que o que define realmente uma pessoa para com Deus é o seu interior (1 Sm 16:7; 2 Co 5:12; Gl 2:6; Cl 2:23; 3:22; 2 Tm 3:5). Por isso que o julgamento de uma pessoa deve se iniciar sempre pela doutrina que a mesma professa (Rm 16:17; Ef 4:14; 1 Tm 1:3,10; 4:1,6; 6:3-5; 2 Tm 4:3,4; Tt 1:9; Hb 13:9; 2 Jo 1:9,10; Ap 2:14,15), sendo que os atos condenáveis (Gl 5:19-21; Ap 21:8; 22:15) não são necessariamente o estado permanente e imutável de uma pessoa, cf. 1 Co 6:9-11; Ef 2:2,3; 5:8; Cl 1:21; 3:5-8; Tt 3:1-5. Lembremo-nos apenas do exemplo da mulher do vaso de alabastro em Lc 7:37-50, a qual fora julgada como pecadora pelo fariseu (v. 39), mas que já havia entrado na casa arrependida (v. 38), tendo alcançado o perdão dos seus pecados (v. 48) e a paz (v. 50).

Portanto, não é uma disciplina humana/eclesiástica, algumas vezes motivada por motivos espúrios e egoístas, que irá definir a bênção ou a maldição sobre a vida de um membro local, que irá definir se um cristão está ou não em comunhão com Deus; não cabe ao líder local definir se um membro pode ou não cear! Não há espaço no protestantismo para um “papa evangélico”, detentor das chaves do céu, que liga e desliga o vínculo de uma pessoa com Deus na hora que bem quiser, que excomunga ao seu bel prazer. Não!

“Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência” 36ª Tese de Lutero.

Anchieta Campos

quarta-feira, 27 de maio de 2009

22ª AGO da CEMADERN

Será realizada no período de 06 a 10 de julho a 22ª Assembléia Geral Ordinária da Convenção de Ministros da Assembléia de Deus no Rio Grande do Norte (CEMADERN), órgão máximo da denominação no estado.

Sob o tema “O obreiro e os desafios doutrinários e vocacionais (Tito 1:9)”, pastores, evangelistas, presbíteros e diáconos, se reunirão no Templo Central da Assembléia de Deus em Natal. O evento terá como preletores oficiais o Pr. Wagner Gaby (PR) e o Pr. Messias dos Santos (SC). As esposas dos convencionais participarão dos encontros promovidos pela União de Esposas de Ministros da Assembléia de Deus no Rio Grande do Norte (UEMADERN).

A Taxa de Inscrição é de R$ 50,00 para os convencionais (incluindo alimentação e material), e de R$ 30,00 para as esposas, sendo que pastores e evangelistas terão também que pagar a anuidade, no valor de R$ 50,00.

Oremos, pois!

“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” 1 Co 1:10.

Ah! Aproveitando que estou no assunto, ainda não consegui ter acesso ao novo Estatuto e Regimento Interno da IEADERN, aprovados agora em 10 de abril. O site da AD em Natal ainda não está disponibilizando os documentos, nem abrindo corretamente ele está. Alguém pode me ajudar a consegui-los?

Obs.: o tempo para postar anda meio escasso, mas em breve trarei mais reflexões e artigos para os nobres leitores.

Anchieta Campos

sábado, 16 de maio de 2009

Uma sensível melhora

Depois de um período considerável sem interagir com os queridos leitores deste humilde espaço, volto hoje com uma boa (podemos assim chamar) constatação: o meio evangélico está, mesmo que ainda seja de um modo muito tímido, se libertando das garras da ignorância filosófica e, acima de tudo, da ignorância bíblico/teológica. É verdade que ainda há muito o que melhorar, muitas concepções e parvoíces humanas ainda precisam cair, muito do misticismo e ignorância “pentecostal” necessita cair por terra, e, acima de tudo, uma consciência bíblica e teológica ainda precisa ser bastante difundida e treinada em nosso meio. Mas, repito, que está melhorando, isso está.

E o que me leva a essa conclusão? Bem, posso falar do que tenho conhecimento, seja pessoalmente ou virtualmente, através da internet ou outros meios de comunicação. Pessoalmente vejo um despertar em uma parte considerável (claro que ainda é a minoria) da igreja local ao meu redor. Já é possível vermos membros do ministério local, mesmo que ainda timidamente, comentando com uma certa propriedade sobre assuntos teológicos, citando com uma boa variedade fatos e nomes marcantes da história da igreja, bem como obras e escritores de cunho teológico da atualidade (parece que o bom ensino ortodoxo da CPAD finalmente está alcançando as Assembléias de Deus no Brasil). Cito aqui o nobre exemplo do pastor Everton, da Assembléia de Deus em Luis Gomes/RN, onde o mesmo detém uma coletânea das principais obras teológicas editadas pela CPAD, e isso é muito importante, verdadeiramente essencial para quem se dispõe a ser o orientador doutrinário/teológico de uma porção do povo de Deus. Vemos também que as aberrações pneumatológicas e práticas estranhas hodiernas, durante os cultos, já estão sendo raras exceções (aleluia!); já é possível vermos membros (inclusive jovens) elogiando hinos de adoração verdadeira, puramente espirituais/bíblicos, em detrimento dos hinos que tocam e mexem meramente com a carne.

E por falar em jovens, esta é uma parcela em que o despertar da ortodoxia tem produzido bons frutos. Praticamente em toda igreja em que eu vou, vejo jovens (nem que seja apenas um) com um preparo teológico bem apurado e orientado, já tendo lido pelo menos algum livro ortodoxo da área. Fiquei surpreso quando cheguei em uma Assembléia de Deus da Paraíba e um jovem veio falar comigo em relação a teologia dos pais da igreja e dos reformadores, de suas vidas, práticas e crenças; termos teológicos eram bem tratados e recebidos por ele, doutrinas sistemáticas da Bíblia também não sofriam com ele! Vi ali, verdadeiramente, um jovem ortodoxo, esclarecido e já firmado bíblica e teologicamente, e isso nestes tempos em que vivemos! Meu Deus! Isso é fabuloso! Glórias sejam dadas ao nome de Jesus!

Não poderia deixar passar em branco outro fato que também muito me alegrou e animou. Outro jovem, de uma cidade pequena, vizinha a Pau dos Ferros, que esta estudando aqui, quando lhe apresentei uma obra teológica de referência, escrita por vários autores, o mesmo disse: “Nossa meu irmão, só tem fera! Doutrina bíblica pura e sem misturas aí!”. Confesso que fiquei surpreso, mas foi uma surpresa muito gratificante. Saber que os maiores expoentes da teologia pentecostal clássica são reconhecidos por alguns jovens da atualidade, é, sem sombra de dúvidas, algo a ser comemorado. Já vi também jovens reconhecendo os erros de seus grandes ídolos do mar gospel contemporâneo, sejam eles pregadores ou cantores famosos, quando confrontados com uma exposição bíblica sistemática e pura. Isso é o Sola Scriptura tornando a ganhar força.

E o que vejo pela internet também me anima consideravelmente. O que falar da nobre e gigantesca blogosfera evangélica? Vemos que não somente os renomados pastores e escritores assembleianos (e de outras denominações também) estão em sintonia com a ortodoxia cristã/bíblica, mas também que muitos, inúmeros líderes e pastores espalhados pelo Brasil estão verdadeiramente capacitados para promover um desenvolvimento saudável de suas igrejas locais. E não somente líderes, mas são muitos os presbíteros, diáconos, pregadores, e muitos jovens, que apresentam escritos de uma qualidade bíblica muito apurada, irrepreensíveis no trato da Palavra e da doutrina. Temos, verdadeiramente, muito conteúdo ortodoxo sendo publicado na internet, seja diariamente, semanalmente, ou quinzenalmente, e esse exército da sã doutrina está crescendo e se multiplicando cada vez mais. E o que é isso? É a demonstração de que a Palavra está agindo nos corações, está ganhando cada vez mais espaço no meio evangélico como sendo a nossa regra maior de fé e conduta humana, soberana, inerrante, infalível, verdadeiramente viva e eficaz. Até mesmo nas comunidades do Orkut, onde há muitos desvios e excessos, sempre vemos vez por outra jovens e líderes com posições bíblicas ortodoxas firmes, mesmo em detrimento a grande maioria, em alguns casos.

Então está tudo indo bem? Como já destaquei no começo, as frutas teológicas boas ainda são a grande exceção. A grande maioria ainda é daqueles que são mais humanos do que bíblicos, que condenam e menosprezam o desenvolvimento filosófico, cultural, científico e teológico, que colocam a experiência acima da razão bíblica, que colocam suas vaidades acima da Palavra de Deus. Ainda é normal vermos pessoas que se dizem tradicionais, mas nem se quer conhecem verdadeiramente as origens e história de sua denominação, muito menos tem ciência de todo o contexto da reforma protestante e seus participantes, e pior ainda da época dos pais da igreja. Ainda é normal vermos a grande parte dos pregadores e cantores apelando para o emocionalismo barato, para a animação externa do público. Ainda é possível vermos um presbítero que se diz assembleiano defendendo apregoadores de heresias e modismos, como B.H., M.M., M.C., R.R.S., M.F., e por aí vai. Ainda é comum vermos jovens defendendo a unhas e dentes (quase que morrendo) um grupo unicista que alega ter a “Voz da Verdade”. Ainda é comum vermos crentes (alguns membros de ministério local) apanhando para encontrar livros bíblicos como Obadias, Naum, Ageu e Filemon. Ainda é comum chegarmos para um jovem e pedirmos pra ele procurar 2 Macabeus na Bíblia e vermos ele quase endoidar atrás do livro. Ainda é possível vermos em nosso meio pessoas dançando no espírito, caindo do poder, outras dando uns golpes bem invocados, outras “plantando bananeira”, e muitas outras manifestações exóticas. E poderia aqui citar inúmeros outros exemplos, o que me levaria muito tempo, e cansaria desnecessariamente o caro leitor.

Portanto, tenho a dizer que vejo os raios de sol se tornarem levemente mais fortes, mas a tempestade ainda deixa o ambiente bastante escuro. O importante é que o negócio está melhorando. Amém.

Viva a Palavra de Deus! Viva a Sã Doutrina! Viva a boa razão! Viva ao pensamento!

“Persiste em ler” 1 Tm 4:13.

“Examinai as Escrituras” Jo 5:39.

“Quando vieres, traze os livros, principalmente os pergaminhos” 2 Tm 4:13.

Anchieta Campos

Alteração nos links do blog

Realizei recentemente uma pequena alteração na estrutura do blog. Quem for atento deve ter percebido que dei uma reformulada na disposição dos links citados, na lateral direita. Antes era apenas um grupo só para todos os links citados, sendo que agora são oito grupos de links:

Blogosfera Evangélica

A Blogosfera Evangélica é onde temos o maior conteúdo cristão de qualidade da internet. Nesta seção o leitor irá encontrar de um modo genérico os links dos principais blogs cristãos da internet, os que se destacam pela qualidade de seus escritos. São pastores, escritores da CPAD, presbíteros, diáconos, professores de Escola Dominical, e irmãos que mesmo sem cargo eclesiástico algum, nos agraciam com seus escritos que muito nos ensinam e edificam. Uma verdadeira representação da ortodoxia cristã de todo o Brasil. É o maior grupo de referências do blog, contando com 32 links.

Páginas cristãs de referência

Este grupo se propõe a reunir os principais sites evangélicos da internet, que se destacam no que dispõem a fazer. São páginas verdadeiramente de referência. Apologia, teologia em suas mais variadas vertentes, sociedades bíblicas, institutos teológicos e livrarias evangélicas, você encontrará nesta seção. Desfrute bem estes 15 links.

Escola Bíblica Dominical – CPAD

O menor grupo de links, mas de uma grandeza imensurável. A EBD é hoje talvez o único meio de se alcançar a quase totalidade da igreja com um material de estudo bíblico de alta qualidade e fidelidade bíblica. É verdadeiramente uma das principais armas da sã doutrina. São 3 links que remetem para páginas que nos trazem ótimos subsídios para as Lições Bíblicas da CPAD.

Criacionismo

O ateísmo tem se levantado cada vez mais fortemente para tentar desqualificar a Bíblia, notadamente para tentar ridicularizar a idéia da criação divina do universo e do homem. Selecionei 7 páginas que mostram, de um modo brilhante e amplamente fundamentado, a razão científica da fé cristã.

Grego, Hebraico e Latin

Dicionários das principais palavras bíblicas em suas línguas originais, análises gramaticais, a Bíblia em grego, hebraico e latin, bem como clássicas traduções da Palavra de Deus, é o que está ao seu dispor nestes 7 links. Subsídios indispensáveis para qualquer exegeta.

Assembléia de Deus

A maior denominação evangélica da América Latina e maior pentecostal do mundo, tem o seu espaço próprio no blog. As principais páginas referentes a Assembléia de Deus, tanto a âmbito nacional, como estadual, estão reunidas nestes 11 links.

Demais denominações evangélicas

As principais denominações protestantes também tem o seu espaço garantido no blog. É claro que não referenciei as igrejas neo-pentecostais, pseudo-cristãs e gedozistas, bem como as minúsculas que são criadas quase todo dia. São 5 links que remetem para as maiores e mais tradicionais denominações evangélicas, marcadas por uma história própria e uma ortodoxia extremamente plausível.

Páginas Calvinistas

A Teologia Calvinista (oriunda dos pensamentos do teólogo francês João Calvino) também merece seu espaço em meu blog. E digo que é com muita honra que faço referência a esta linha teológica, a qual merece o respeito de todo o seguimento protestante, por tudo o que representou na reforma, e pelo o que representa ainda hoje. Selecionei 4 destaques do calvinismo, os quais recomendo a leitura, principalmente para quem já está bem amadurecido na doutrina bíblica, pelas questões evidentes, as quais quem é maduro sabem quais são. Por fim, é uma linha ortodoxa, que forma bons pensadores cristãos.

Portanto, meu caro leitor, quando já tiver lido todos os artigos do meu blog e não tiver nada de novo por aqui, saiba que não estou deixando você sem nada de edificante para ler ou fazer, pois são dezenas de links que indico, os quais com certeza terão material ortodoxo o suficiente para lhe entreter, o que notadamente será bem melhor do que ficar lendo e repassando fofocas da vida dos outros, ou ficar se importando com a vida dos famosos. Amém.

Anchieta Campos

domingo, 10 de maio de 2009

Frase quase divina – 57

Mais uma frase do memorável reformador e teólogo francês, João Calvino, o qual, assim como outros grandes nomes do cristianismo, dispensa apresentações.

“A sã doutrina certamente jamais prevalecerá, até que as igrejas sejam melhor providas de pastores qualificados que possam desempenhar com seriedade o ofício de pastor” João Calvino.

Anchieta Campos

domingo, 3 de maio de 2009

Em defesa da pregação expositiva

“E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” Lc 24:27.

Bem, que a igreja evangélica brasileira (e não somente a ‘canarinha’) não está lá essas coisas, isto já sabemos faz tempo. Já apontei aqui neste símplice espaço várias causas para este quadro clínico nada saudável, bem como vários efeitos, tanto na doutrina como nas práticas costumeiras, que atingem o hoje gigantesco seio cristão reformado.

Neste sucinto artigo (estou tentando ser cada vez mais objetivo em minhas palavras) irei abordar mais um assunto de extrema relevância para a igreja cristã, sendo o mesmo um fator determinante na qualidade de qualquer denominação protestante. Refiro-me a pregação expositiva, notadamente como uma marca necessária para se ter uma igreja verdadeiramente saudável, ortodoxa.

Pois bem, sem muitas delongas, eu pergunto: onde está a pregação expositiva em nossos púlpitos? Por que as pregações triunfalistas, proféticas, “pentecostais”, do reteté, transcendentais, são sempre mais presentes em nosso meio? Pior ainda, será que pelo menos a grande maioria dos pregadores contemporâneos sabem o que é uma pregação expositiva? E o que mais me preocupa é que estas pregações tem hoje preferência sobre pregações expositivas justamente porque a grande massa evangélica prefere àquelas. O que vemos hoje é uma situação em que os pregadores são moldados pelo público, pelos seus desejos e vaidades pessoais, e não o contrário, o que seria, pelo menos em tese, um modelo mais ideal de cristianismo (pela premissa de que os pregadores são dotados de um conhecimento bíblico mais apurado que o dos ouvintes).

A pregação expositiva, tão rara em nosso tempo, é o modelo de pregação vivenciada em toda a Bíblia, notadamente no Novo Testamento. Ela fora praticada tanto pelos discípulos e apóstolos, bem como pelo próprio Cristo. Essa pregação se baseia fundamentalmente na exposição organizada/sistemática da Palavra de Deus para o público ouvinte, fazendo com que ela, a Palavra, seja o centro da pregação, o que, por conseguinte, redundará em apresentar a Cristo como o centro da mensagem, o que resultará em conversões de almas e renovação para o povo de Deus, além de formar crentes verdadeiramente firmados na rocha, que é Cristo (Rm 9:33; 1 Pe 2:8; At 4:11), sendo Cristo a Palavra de Deus (Jo 1:1,14; Ap 19:13). As pregações triunfalistas, proféticas, “pentecostais”, do reteté, transcendentais, apresentam o homem como o centro da mensagem (mesmo que seja camufladamente), o que chamamos de pregação antropocêntrica; são pregações que dão uma falsa esperança ao crente, um avivamento enganoso, que se desfaz instantes após o término do culto, que levantam o “eu” em detrimento da soberana e melhor vontade de Deus, que dá força aos sonhos vaidosos do homem em detrimento da eterna e absoluta vontade de Deus para o mesmo, a qual se apresenta notadamente no projeto de vida eterna, o que finda por gerar crentes materiais, apegados a este mundo, corrompendo assim seus entendimentos, o que resulta, por fim, em uma grande massa evangélica doente espiritualmente, sem discernimento bíblico algum, facilmente levada por qualquer modismo, seja ele doutrinário ou costumeiro/consuetudinário. É um efeito dominó que pode até parecer complexo, mas é simples, e bastante destrutivo.

Filipe e o Eunuco Etíope
A passagem de At 8:26-35, a qual relata a conversão do Eunuco Etíope através da pregação do evangelista Filipe, é um exemplo de pregação expositiva. Vejamos o texto citado:

“E o anjo do SENHOR falou a Filipe, dizendo: Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus” At 8:26-35.

Vejam bem a abordagem de Filipe para o Eunuco: “Entendes tu o que lês?”. Filipe estava preocupado com o entendimento bíblico do Eunuco, pois sabia que se o mesmo entendesse o que lia, isto seria fator fundamental para a conversão dele. E mais interessante ainda foi a resposta do Eunuco: “Como poderei entender, se alguém não me ensinar?”. Que lindo! Que maravilhoso! Vemos uma conversão genuína a Cristo tomando forma, e sendo formada por dois pilares fundamentais: entendimento e ensino! Mas entendimento e ensino de que? A resposta é confirmada no próprio texto: “Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus”. Vemos que todo o processo de conversão do Eunuco foi totalmente baseado na Palavra de Deus, e não somente em Isaías, mas em todo um conjunto e sistemática bíblica, que é o que fica implícito na sentença “e começando nesta Escritura”, sendo confirmado pelo fato de Filipe ter pregado/ensinado até mesmo sobre o batismo (vs. 36-38). Não vemos Filipe profetizando, falando línguas, plantando bananeira, dando um “kame-rame-rá”, caindo no chão, não! Vemos Filipe ensinando a Palavra para o Eunuco, e como conseqüência disto, vemos a conversão do mesmo a Cristo.

Paulo em Tessalônica
“E PASSANDO por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando que convinha que Cristo padecesse e ressuscitasse dentre os mortos. E este Jesus, que vos anuncio, dizia ele, é o Cristo. E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais” At 17:1-4.

Aqui presenciamos o maior nome do cristianismo de todos os tempos, o do apóstolo dos gentios, Paulo, grande evangelista, doutrinador e teólogo da Igreja Cristã, em ação evangelizadora. E em que se baseou a pregação de Paulo? Como não poderia ser diferente, Paulo apresentou Cristo aos judeus através do fundamento das Escrituras. Mas Paulo não fez uso indiscriminado e aleatório das Escrituras, irracional, mas fez uso correto, inteligente, organizado e sistemático. Esta verdade fica clara na sentença “... disputou com eles sobre as Escrituras, expondo e demonstrando...”; oras, Paulo demonstrou a razão da fé cristã da melhor maneira que poderia, qual seja, testificando a fé cristã através das Escrituras, “expondo e demonstrando” pelas Escrituras o atestado de veracidade do cristianismo. E qual foi o resultado da pregação bíblico-expositiva de Paulo? Conversão de almas! “E alguns deles creram, e ajuntaram-se com Paulo e Silas; e também uma grande multidão de gregos religiosos, e não poucas mulheres principais”. Mais uma vez vemos a pregação expositiva e racional da Palavra sendo o fator fundamental para conversão de almas.

Jesus

O Mestre, o Rei, o Senhor, o Salvador, o Divino Jesus, como não poderia ser diferente, sabia que a pregação expositiva é o método correto para se ter crentes firmados na Palavra, e, conseqüentemente, um cristianismo saudável e verdadeiramente ortodoxo. A máxima da doutrina da pregação expositiva é de autoria direta do próprio Cristo, em uma síntese brilhante sobre o tema, registrada pelo médico Lucas sob inspiração divina: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” Lc 24:27. Simplesmente perfeita esta sentença! Vejam a perfeição da construção deste versículo! Uma progressão sistemática bíblica simplesmente completa. “... começando por Moisés...”, clara alusão ao Pentateuco; “... por todos os profetas...”, definição que abrange tanto os livros poéticos quanto os profetas (maiores e menores); e encerra com “... explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras...”, onde fecha com chave de ouro a demonstração de uma prática da pregação expositiva, explicando por meio de todas as Escrituras (exposição e sistemática) o fundamento da fé cristã. Ver Lc 24:44.

Achou pouco? Dentre muitas outras referências temos a pregação expositiva de Pedro em At 2:14-36, tendo como resultado o descrito em At 2:37-41, bem como a pregação expositiva do também Pedro em At 3:12-26, tendo como fruto o descrito em At 4:4.

Portanto, a igreja evangélica precisa, como um todo, mas principalmente o meio pentecostal e neo-pentecostal, voltar a dar voz e vez a pregação bíblico-expositiva, rejeitando as pregações triunfalistas, proféticas, “pentecostais”, do reteté e transcendentais, as quais nada tem a oferecer ao povo de Deus, a não ser a satisfação momentânea das vaidades individuais e prazeres materiais. É algo difícil, haja vista a corda já ter sido esticada demais, mas é algo necessário, e que com certeza será o melhor para o povo de Deus.

Anchieta Campos

Frase quase divina – 56

Mais uma frase de Lutero.

“A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes, e a teologia, pecadores” Martinho Lutero.

Anchieta Campos

Katharina Von Bora

Passeando pela blogosfera, mais especificamente no blog “A Tenda na Rocha”, da irmã Wilma Rejane, vi uma breve biografia da esposa de Martinho Lutero, a alemã Katharina Von Bora (Lippendorf, 29 de janeiro de 1499 – Torgau, 20 de dezembro de 1552), a qual pode ser lida AQUI.

Confesso que ao ler tal artigo me senti com um peso na consciência, haja vista realmente sempre fazermos referência aos grandes homens da fé cristã, notadamente os reformadores, dentre eles se destaca (o que é fato claro) o alemão e expoente maior da reforma, Lutero. Mas sempre passamos em branco as mulheres que, quase sempre de modo discreto e sem destaque, foram peças importantes para que as grandes obras de seus maridos ou parentes fossem concretizadas.

Portanto, nada mais justo do que eu também fazer a minha humilde homenagem a esta mulher exemplo, esposa de Lutero, que fora a alemã Katharina Von Bora, a qual chamo de “Primeira Dama da Reforma”.

Katharina foi filha de um nobre empobrecido, tendo nascido próximo a Leipzig no ano de 1499, no atual Estado de Sachsen, sendo que aos 10 anos de idade ingressou no monastério de Nimbschen, vindo a se tornar uma freira católica da Ordem de Cister. Era leitora assídua das produções contrárias às práticas da igreja romana da época, inclusive as 95 Teses de Lutero, o que é tido como a leitura que desencadeou o desejo nela e em mais 11 freiras de fugirem do convento e seguirem os ideais da reforma pregados por Lutero, pois em um trecho das 95 Teses, Lutero assim se expressou “Nós não podemos ganhar o céu com bons trabalhos e nem com uma vida exemplar no convento. Só Jesus, filho de Deus, nos leva ao céu com sua morte, se nós o aceitarmos como nosso Senhor”. Conseguiram fugir do convento com a ajuda de um comerciante, tendo se escondido em barris de arenques (sardinhas). Na fuga foram parar no Castelo em que Lutero morava em Wittemberg, cedido pelo Príncipe Frederico, vindo a se casar com Lutero posteriormente. Do casamento resultaram 6 filhos, tendo somente três filhos e uma filha chegado a idade adulta.

Segundo relato do pastor luterano Altemir Labes, “Katharina tomava conta da casa, cuidava dos estudantes que lá moravam e assim cozinhava para umas 40 a 50 pessoas diariamente. Educava os filhos, lia, bordava, fazia cerveja, tinha uma horta e ainda criava animais. Compreendia e acompanhava muito bem tudo o que acontecia a sua volta”.

Conta-se que certa vez, quando Lutero esteve cabisbaixo durante vários dias, muito triste e deprimido, ela entrou no seu quarto vestida toda de preto. Ao vê-la Lutero assustou-se, tendo perguntado quem havia morrido. Katharina respondeu: “Deus morreu! Afinal de contas, você não pára com isso, de ficar se preocupando”. O resultado foi um Lutero novamente animado e feliz.

Depois da morte de Lutero, com os efeitos da guerra, fuga e pobreza, Katharina passou muitas dificuldades com seus filhos, vindo a falecer em um acidente, em Torgau, no dia 20 de dezembro de 1552, com 53 anos.

Dos filhos de Lutero com Katharina, apenas Margaretha manteve a linhagem até os dias atuais, sendo o presidente alemão Paul von Hindenburg (1847-1934) um descendente direto do casal.

Anchieta Campos