sábado, 15 de dezembro de 2007

O crente e o pecado

Depois de salvo, o crente fica isento de pecar? A única resposta bíblica para esta pergunta é um grande NÃO!!! A pecaminosidade universal do homem antes e mesmo depois de se converter a Cristo é um fato irrefutável da sã doutrina bíblico-cristã (e é o que será exposto através da Bíblia Sagrada neste artigo). Todo e qualquer ensino, parta ele de onde for, que negue essa verdade bíblica, deve ser considerado anátema e herético. Devemos aplicar os ensinos de Paulo de que “não vos movais facilmente do vosso modo de pensar” 2 Ts 2:2 e de que “tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido” 2 Tm 3:14, para evitarmos maiores confusões e apostasias da sã doutrina, o que, infelizmente, vem ocorrendo de um modo cada vez mais freqüente. Como exemplo do caso em questão podemos citar o herético "Ministério Creciendo en Gracia", aonde se ensina aos fiéis que os mesmos não tem que temer as conseqüências do pecado, pois o pecado não existe e não habita na vida dos "crentes" em Jesus; HERESIA!!! Quem quiser saber mais do aludido movimento pode acessar o endereço <http://www.youtube.com/watch?v=UZOE25ZYTq4>.

Não vou fazer apologia ao pecado, é lógico, pois o mesmo separa o homem da sua comunhão com um Deus que é a perfeição de santidade e que condena categoricamente o pecado; pelo contrário, o presente artigo irá defender uma das principais bandeiras que o cristão deve empunhar: A Santidade; através do processo da santificação que o Espírito Santo opera em nós.

O objetivo aqui é demonstrar que o homem, mesmo depois de aceitar ao Senhor Jesus como seu Salvador, não perde a sua natureza pecaminosa, e, conseqüentemente, não deixa de cometer pecados; também é necessário demonstrar qual o comportamento esperado de alguém que nasceu de novo em relação ao pecado e como esses pecados ocorrem na vida do crente.

A Bíblia responde que não

São muitas as referências neo-testamentárias que atestam a condição pecaminosa do homem, mesmo um crente em Jesus; vamos expor e analisar algumas.

Mateus 18:15,21-22 (Ora, se teu irmão pecar, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, terás ganho teu irmão; Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete).

Aqui a Bíblia relata um diálogo entre o Senhor Jesus e o apóstolo Pedro. Jesus orienta no verso 15 como um crente deveria proceder com um irmão que pecasse; ora, se o Senhor disse teu irmão, é por que um crente já convertido poderia cair no pecado. No verso 21 Pedro interroga Jesus até quantas vezes ele deveria perdoar um irmão que pecasse contra ele, e Jesus responde que até setenta vezes sete, ou seja, sempre! Fica-se mais que claro que o crente pode vir a cair no pecado.

Lucas 11:4 (e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação, mas livra-nos do mal).

Quando o Senhor Jesus orientou seus discípulos de como deveriam proceder em suas súplicas e orações, Ele ensinou que eles deveriam sempre se lembrar de pedir o perdão pelos seus pecados, algo que seria desnecessário se eles não fossem vulneráveis ao pecado. Nós, como discípulos contemporâneos de Cristo, também devemos sempre ter em mente que estamos vulneráveis para pecar, pedir sempre o perdão sincero quando pecamos e pedir também pro Senhor não nos deixar cair na tentação do pecado.

Lucas 18:9-14 (Propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele).

O texto fala por si mesmo. A parábola que o Senhor Jesus propôs é clara e inquestionável em seu sentido. Cristo faz uma distinção muito clara entre dois grupos de pessoas: aqueles que dizem não ser pecadores e dignos de se apresentarem perante Deus, e os que se consideram homens pecadores e inaptos de serem filhos de um Deus que é a plenitude da Santidade. A parábola mostra o caminho para a justificação, que é reconhecer que é um pecador e clamar pela misericórdia, pela graça de Deus, pois nós, com nossos próprios esforços nunca poderíamos alcançar a santidade que o Senhor exige para entrarmos em sua presença (Tito 3:5).

Romanos 3:10,12 (como está escrito: Não há um justo, nem sequer um. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só).

Aqui nós vemos o apóstolo Paulo escrevendo para uma das Igrejas mais santa e espiritual da Era Apostólica, a igreja de Roma. Paulo não esteve em Roma antes de escrever esta carta aos crentes romanos, mas com certeza ouvira falar da fé exemplar deles (Rm 1:8). Tendo em mente a que tipo de crente Paulo estava se dirigindo e parafraseando com os versos acima, fica claro que nem mesmo os cristãos de Roma estavam livres do pecado. O apóstolo não é nada hesitante em afirmar aos fiéis cristãos romanos que não há um justo sequer, nem sequer um... não há quem faça o bem, não há um só. Não há quem esteja livre de pecar, não há quem não peque, e os cristãos estão inseridos neste grupo universal.

I Timóteo 1:15 (Fiel é esta palavra e digna de toda a aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o principal).

Aqui o apóstolo Paulo, cujas credenciais não precisam nem ser lembradas, afirma expressamente que ele era o principal dos pecadores por quem Jesus veio ao mundo para salvar. Ele afirma ser o principal, e não que foi o principal pecador, ou seja, mesmo depois de ter se convertido ao Senhor Jesus, ter empreendido três viagens missionárias, fundado inúmeras igrejas locais e ter sofrido em demasia pelo Evangelho, o apóstolo Paulo não perdeu a sua natureza pecadora de homem. É lógico que Paulo não era o maior de todos os pecadores, pelo contrário! Mas o que o verso nos transmite de ensino é que quanto mais a pessoa se aproxima de Cristo e de seu padrão de santidade, mais ela percebe que é uma pessoa pecadora em relação a um Deus Santo.

Tiago 5:14-16 (Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. A súplica de um justo pode muito na sua atuação).

Tiago, irmão do Senhor Jesus e líder da Igreja Apostólica de Jerusalém (o homem tinha gabarito), afirma sob orientação do Espírito Santo que se algum irmão está enfermo, chame os anciãos (neste caso os presbíteros) da congregação para que ele seja ungido e receba oração, e que se houver algum pecado no irmão, eles serão perdoados. Ora, se uma pessoa que já é crente terá seus pecados perdoados na oração da fé, é por que o crente pode cair no pecado, tanto é que no verso seguinte o líder Tiago orienta aos crentes que busquem apoio nos irmãos confessando os seus pecados (fraquezas) uns aos outros.

I João 1:8,10 (Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós).

O apóstolo João, o amigo mais íntimo de Jesus, sob orientação divina e com sua autoridade apostólica, afirma da forma mais clara possível que o pecado ainda faz parte da vida do crente, que nós não nos livramos de nossa natureza carnal pecaminosa. Ele vai mais além e afirma que quem diz não ter pecado engana-se a si mesmo, a verdade não está nele e faz Deus de mentiroso. Isso é bastante sério!

A nova vida do crente

Depois de respondida a questão principal do artigo, é necessário fazer uma breve exposição do caráter da nova vida do crente, as mudanças que ocorrem e a relação que o crente tem com o pecado que o cerca.

O apostolo Paulo escreveu que “se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo” (2 Co 5:17); essa nova criatura diz respeito ao novo nascimento que Jesus comentou com o Doutor da lei Nicodemos, diálogo que se encontra registrado em João 3. Esse renascer se refere a uma mudança interior do ser, uma mudança de visão sobre o mundo físico e espiritual que nos cerca, um renascer espiritual; é o que se compreende quando Jesus responde a Nicodemos que esse renascer não é como ele pensava (o homem retornar ao ventre da mãe), não era algo físico, carnal, mas sim estritamente espiritual, sendo que essa mudança espiritual trazia consigo uma mudança externa de comportamento, pois tudo se torna novo.

O homem, mesmo depois de renascer espiritualmente, continua no mesmo corpo carnal e pecador de antes, a diferença básica é que “Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:17), logo, o crente não peca por que quer, ou seja, ele faz algo que não quer, “Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:20). Como o crente em seu interior (com o espírito renascido) sempre quer fazer o bem (Rm 7:19), ou seja, não pecar, e a sua carne humana (exterior) que é pecadora, quer sempre o pecado (Rm 7:14b), cria-se então um cenário constante de guerra entre o espírito renascido contra o mesmo e velho corpo carnal pecador (Rm 7:23; Hb 12:4). É nesse dramático cenário de forçosa ligação entre o crente como homem (que é carnal) e o pecado (que é carnal), que o homem percebe o miserável estado em que se encontra (Rm 7:24) e passa a recorrer ao único caminho para a salvação, que é a Graça de Deus, mas continuando com a noção de que com o entendimento (espírito) serve aos mandamentos de santidade de Deus, e que com a carne serve, não voluntariamente, ao pecado (Rm 7:25), pois “se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados” (Hb 10:26). Continuar voluntariamente é se conformar com o pecado que nos rodeia, aceitá-lo como algo normal e que não desagrada a Deus, além de não fazer por onde fugir do mesmo; portanto, devemos seguir o conselho do escritor aos hebreus: “Portanto, nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” Hb 12:1.

Como fora exposto acima, o crente que realmente nasceu de novo espiritualmente não quer pecar, não sente prazer no seu interior pelo pecado, e como Deus quer a santidade de seu povo (1 Pe 1:17), surge aí um cenário perfeito para uma parceria entre Deus e os crentes: A SANTIFICAÇÃO. Como já fora exposto neste artigo, o homem enquanto habitar neste mundo nunca poderá se ver totalmente livre do pecado, nunca poderá ser 100% santo, mas ele poderá ser cada dia mais santo (mais parecido com Cristo) através do processo da santificação; a cada dia ele estará mais afastado da influência do pecado. A santificação não tem por objetivo tornar o crente um ser imaculado e sem pecado/culpa, até por que este estado de perfeição é impossível aqui nesta terra e neste corpo que habitamos, mas a santificação, como o próprio nome em grego (hagiasmos) nos mostra, significa “tornar santo”, “consagrar”, “separar do mundo” e ainda “apartar-se do pecado”. A santificação do crente é a vontade de Deus (1 Ts 4:3), Deus nos chamou para a santificação (1 Ts 4:7). A santificação é promovida através do Espírito Santo, que vivifica o espírito do crente (Rm 8:10), para que ele possa andar segundo o Espírito e passar a gozar de nenhuma condenação (Rm 8:1), de vida e de paz (Rm 8:6). Enfim, sem a santificação é impossível de se chegar a salvação (Hb 12:14).

O crente enquanto estiver aqui na Terra estará sujeito a cair no pecado, pois estamos em corpos corruptíveis, carnais e mortais (1 Co 15:53), e essa natureza pecaminosa só será extirpada de nós na ressurreição (para os que já morreram) ou no arrebatamento (para os que vivem) cf. (2 Co 15:50-52; I Jo 3:2), é quando estaremos para sempre livres do pecado. Amém!

“Aparta-te do mal e faze o bem” Sl 34:14.

“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” I Jo 1:9.

“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” I Jo 2:1-2.

“E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro” I Jo 3:3.

Mais referências para a meditação: Lc 15:11-32; Rm 4:7-8; Rm 6:1-23; Rm 8:3-4; 2 Co 5:21; Gl 2:17-18.

Sola Gratia (somente a Graça)!!!

Anchieta Campos

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