terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Resposta a um apologista católico-romano

Resposta ao comentário feito pelo caro amigo católico-romano Rodrigo Pedroso, sobre o meu post "Lucas 1:28 e a Imaculada Conceição de Maria", de 21 de novembro de 2007. O comentário do Rodrigo pode ser visto na página de comentários do referido post.

Meu caro Rodrigo Pedroso,

Primeiramente gostaria de lhe agradecer pela visita ao meu blog e pela sua participação, que com certeza só vem a enriquecer este humilde espaço. Em relação ao meu nome, sinto desapontá-lo, haja vista que a esmagadora maioria das pessoas que conheço (aqui no Nordeste, aonde o Catolicismo Romano é maior) são desconhecedoras de quem foi o Padre jesuíta Anchieta, que não vou entrar em detalhes na história de vida dele para não lhe causar sentimentos não apropriados. Isso só vem a reforçar que o catolicismo romano no Brasil (assim como o é em todo o mundo) não passa de uma religião de colonização e tradição, com seguidores totalmente ignorantes em relação ao que seguem.

Em relação a sua tentativa de defesa do dogma humano-católico da Imaculada Conceição de Maria, cabe de logo dizer que é uma exegese tendenciosa e sem o respaldo do contexto bíblico. Começando por um breve histórico a respeito dessa doutrina romanista, cabe lembrar que essa “verdade” teológica só veio a ser conhecida recentemente, agora, em meados do século XIX, mais precisamente no ano de 1854, aonde o Papa Pio IX, na bula “Ineffabilis Deus”, declarou como dogma e artigo de fé da igreja católica essa doutrina da ICM. Portanto percebe-se que se trata de mais uma doutrina de origem puramente humana, que veio a ser ‘descoberta’ quase 1800 anos após o fechamento da Bíblia Sagrada.

Na história da Igreja, cabe lembrar que os pais da Igreja não acreditavam nessa ICM, nem se quer dela falaram. Eusébio de Cesaréia (265-340), Ambrósio, Doutor da Igreja e Bispo de Milão (século IV) e o próprio Agostinho, Doutor da Igreja (354-430), dentre todos os demais pais e doutores da Igreja Primitiva, refutavam a idéia da ICM. Agostinho, comentando Salmos 34:3, diz: “Maria, filha de Adão, morreu por causa do pecado; e a carne do Senhor, nascida de Maria, morreu para apagar o pecado”.

Cabe aqui a citação integral de três passagens de duas obras católico-romana:

“Em certo estado de desenvolvimento, a questão foi estudada pelos escolásticos e, coisa rara, quase todos creram que a doutrina da imaculada não estava em harmonia com a universidade do pecado original e da redenção. Sto. Anselmo, Sto. Alberto, Pedro Lombardo, Alexandre de Hales, São Boaventura, Santo Alberto Magno e São Tomás, ainda que ternamente devotos da Mãe de Deus e prontos a defender seus muitos privilégios, contudo, ensinaram que havia sido concebida em pecado original”. “Entretanto, ainda que os escolásticos mais conspícuos antes do século XIV se opusessem terminantemente à Imaculada Conceição, não faltaram outros, de menos fama, que com igual resolução defenderam esta prerrogativa da Virgem por todos os meios que estavam ao seu alcance”. (1)

“No século XIII, a época da escolástica, vem ao nosso encontro o fato surpreendente de que a maioria dos grandes teólogos se declara bem explicitamente contra a Conceição Imaculada. Da mesma maneira Alexandre de Hales, o próprio São Tomás nas passagens autênticas, Sto. Alberto Magno, São Boaventura, Juan de la Rochelle, Pedro de Tarentasia, Henrique de Gante, Egidio, Romano, etc”. (2).

(1) Juan Rosanas, S.1. Historia de los Dogmas, iii, Ed. cultural, Buenos Aires, 1945, pp. 173 e 174.
(2) Enciciopedia de ia Reilgión Católica, Art. “Concepciõn lmmaculada de lá Santissima Virgen”.

Próprios Papas já rejeitaram esse dogma romanista. Leão I (440-461) diz: “Assim como nosso Senhor não encontrou a ninguém isento de pecado, assim também veio para o resgate de todos”. Se fosse certa a imaculada conceição de Maria, esta afirmação papal seria falsa. Gregório, o Grande, cuja sabedoria todos reconhecem, comentando a passagem de Jó 14:4, expressa que Jesus Cristo é o único que não foi concebido de sangue impuro e o único também que foi verdadeiramente puro em sua carne; ele não faz menção de Maria. Inocêncio III diz: “Eva foi formada sem culpa, e engendrou na culpa; Maria foi formada na culpa, e engendrou sem a culpa”.

Quanto a sua exegese, ela é passível de correções em alguns pontos.

Primeiro: a mesma expressão que se usa no original grego em Jo 1:14 é a mesma que se usa em At 6:8. Veja: João 1: 14 - E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigénito do Pai. - χαριτος [charitos] Gen. sing. Atos 6:8 - Estevão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. - χαριτος [charitos] Gen. sing. E é esta mesma graça χαριτος [charitos], que emana do Senhor Jesus, que opera a salvação de todos que crêem em Cristo, cf. At 15:11 - Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram. - της χαριτος [tês charitos] Gen. sing. ("pela graça" - δια της χαριτος [dia tês charitos] Lit: "através da graça") http://dicionariobiblico.blogspot.com/2007/08/graa-i-1-40-de-158.html.

Segundo: a correta tradução de Lc 1:28 nunca foi, não é, e nunca será “cheia de graça”. O termo original utilizado por Lucas no verso 28, κεχαριτωμένι “kecharitoméni”, que é realmente o particípio perfeito do verbo “charitoo”, significa “favorecida”, “ser o objeto de um gracioso convite”, literalmente, “agraciada”. A revisão de 1960 da Bíblia Católica Nácar-Colunga traduz corretamente o verso como “agraciada”. “Cheia de graça” é a tradução que dão as antigas versões aos particípios "agraciada", “gratificada”, em sumo grau.

Terceiro: não é porque o verbo se encontra no particípio perfeito que isso significa que Maria não pecou. O anjo usou o particípio perfeito para corroborar as palavra de Isaías em Is 7:14 que prediziam que uma virgem conceberia. Deus já sabia que Maria seria a escolhida por Ele mesmo para ser a mãe física de seu Filho. Portanto as palavras do anjo Gabriel indicam que a graça alcançada por Maria já era algo anunciado e esperado, pois o próprio Deus já havia anunciado e feito notório há séculos atrás que uma virgem seria escolhida para dar à luz ao seu Filho. O verso 30 de Lucas 1 mostra claramente que a graça que Maria recebeu (a de receber o Filho de Deus) fora-lhe dada efetivamente naquele momento. “Disse-lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus” Lc 1:30 - χαριν [charin] Acus. Sing. O mesmo termo grego para graça empregado em Lc 1:30 é o mesmo que aparece, dentre em muitas passagens, em Jo 1:16: Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça¹ sobre graça². ¹χαριν [charin] Acus. sing. / ²χαριτος [charitos] Gen. sing. ("graça sobre graça" - χαριν αντι χαριτος [charin anti charitos] Lit: "graça em lugar de graça"). http://dicionariobiblico.blogspot.com/2007/08/graa-i-1-40-de-158.html.

Quarto: se formos analisar o original grego, como o querido amigo romanista pede, vamos ver que o negócio se complica para o lado das doutrinas católicas. Tomemos apenas o dogma da “Perpétua Virgindade de Maria”, aonde se ensina claramente no Catecismo da Igreja Católica Romana, no nº 501, que “Jesus é o único filho de Maria”. Mas quem conhece do grego bíblico sabe que existem palavras distintas para irmão de sangue (adelphós), primo (anepsiós) e parentes (sungenes). Paulo, o maior teólogo da Igreja e um homem letrado, um verdadeiro poliglota, é claro e evidente que ele sabia a diferença entre essas três palavras, sendo que o mesmo refere-se claramente aos irmãos carnais de Jesus em 1 Co 9:5 “Não temos nós direito de levar conosco esposa crente, como também os demais apóstolos, e os irmãos (adelphós) do Senhor, e Cefas?” e em Gl 1:19 “Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão (adelphós) do Senhor”. Percebemos que Paulo sabia a diferença entre estas três palavras, pois o apóstolo usa as outras duas, “Saúda-vos Aris­tarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo (anepsiós) de Barnabé...” Cl 4:10 e “Saudai a Herodião, meu parente (sungenes) Rm 16:11.

Meu caro amigo romanista, poderia aqui dissertar sobre inúmeros outros erros teológicos da Igreja Católica Apostólica Romana, poderia inclusive escrever um livro (e não pequeno) sobre os absurdos doutrinários e práticas que a sua grande igreja propaga mundo a fora. Com toda humilde, digo-lhe que já li mais de 600 páginas sobre a história, doutrinas e práticas de sua igreja, e digo, convicto, que a cada página que lia mais percebia o quão grande engodo é a Igreja Católica Apostólica Romana.

Venho de uma família tradicionalmente católica, na verdade o nordeste, principalmente o interior (por ser aonde se concentra o maior número de pessoas humildes e sem educação), é o maior centro de adeptos (pelo menos oficialmente) do catolicismo romano. Mas esses fatores não me impediram de enxergar a verdade bíblica através da obra do Espírito Santo em minha vida.

O segmento protestante, principalmente o pentecostal, liderado pela Assembléia de Deus (a maior igreja evangélica da América Latina e maior pentecostal do mundo), vem crescendo, por força da profecia do próprio Cristo em Mt 13:31-33. Enquanto que a ICAR vem perdendo membros a cada dia, estimando-se que no Brasil chegue a 600 mil pessoas que abandonam a fé católica por ano.

Ainda há esperança para o amado e querido amigo se socorrer no Deus vivo, e não em um deus que necessita de homens que o façam do barro ou madeira, que o carregue em uma procissão, que tem olhos, mas não vê, ouvidos, mas não ouve, boca mas não fala (cf. Sl 115 e Jr 10), mas sim em um Deus que nos criou do barro (Gn 2:7), que nos sustenta com sua poderosa mão (Sl 37:24), que nos ouve e nos vê (Sl 34:15 e 1 Pe 3:12) e fala conosco (Jó 40:1 e Sl 34:4)!

Respeitosamente,

Anchieta Campos

5 comentários:

daladier.blogspot.com disse...

O problema é estes católicos explicarem como Maria ouve a oração de pessoas em diversas partes do mundo, que num dado instante pedem sua intercessão, se ela não é Onisciente?

Visitem http://daladier.blogspot.com - Reflexões Sobre Quase Tudo

Anchieta Campos disse...

Meu caro Irmão e Evangelista Daladier, obrigado pela sua visita em meu humilde espaço, seu comentário só vem a enriquecer e abrilhantar meu blog.
Já havia analisado dessa mesma forma, somente ela sendo Onisciente (e por conseqüência uma deusa) para poder responder a todas essas orações simultâneas.
Realmente a ICAR é uma religião politeísta.
Deus abençoe grandemente a você e os seus!

Anchieta Campos

Anônimo disse...

"Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem." (I Timóteo 2 : 5)


"Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura (MARIA)do que o Criador (DEUS), que é bendito eternamente. Amém." (Romanos 1 : 25)

Anônimo disse...

Somos todos irmãos em Cristo. A busca pelo conhecimento deve ser inspirada pela sabedoria que vem do Espírito Santo de Deus! Não venho até aqui mostrar passagens para exemplificar meus argumentos. Não quero fazer assim. Só acredito que como cristãos deveríamos buscar unidade. A Igreja Católica Apostólica Romana serve ao Deus Pai Criador, busca a redenção em Jesus Cristo Salvador e possui a graça do Espírito Santo de Amor, assim como as demais denominações cristãs. Somos cristãos! Seguimos a Cristo, o único mediador entre Deus e os homens. Há nos santos profundo respeito e exemplo, como pessoas que serviram e amaram a Deus, se entregando e buscando amar com um amor verdadeiro. Engodo? De maneira alguma! Nunca se chegará a um acordo entre as denominações cristãs. Cada um acredita que detém a verdade sobre os fatos. Se cada um fosse apresentar seus fatos e argumentos, haveria um debate sem fim. O que devemos ter certeza é de que Deus é Onipotente, Onisciente, Onipresente e nos ama e nos concedeu a redenção através de Jesus, de uma vez por todas! Querendo ou não, Jesus nasceu de Maria. Ela é mãe de Jesus e sua discípula, modelo, eu repito, modelo de aceitação e prática da vontade de Deus. 100 anos de Assembléia de Deus! Que Deus abençoe essa instituição, e que todos os fiéis vivam com amor no coração e busquem o caminho a verdade e a vida, que é Jesus Cristo (e que vocês bem sabem disso)! Não é necessário difamar, ofender a humildade de um povo (que realmente não sabe - mas quantos na Assembléia estão em processo de aprendizagem? Que ainda não sabem? Que precisam aprender? Que necessitam de lideranças que se capacitem para bem ensiná-los? Pois ninguém nasce sabendo de tudo). Religião é um tema muito extenso e milhares de pessoas estudaram, estudam e a estudarão e ficarão fascinados com a diversidade, o grande conteúdo e a grandeza desse estudo. A busca pelo conhecimento deve ser constante. Não achemos que sabemos de tudo, pois não sabemos!!! Vivamos na humildade de aprender cada vez mais, buscando na Sabedoria do Espírito de Deus, para alcançarmos nossa salvação. Mais de 2000 anos de história! Uma instituição com tantos anos, com tantos exemplos de amor e fé (sem idolatria, deixo claro aqui) e que perdura até hoje, não pode ser tão ruim assim... Engodo? Não. Apenas divergências de doutrinas...

Paz e Bem a todos!

Anchieta Campos disse...

Anônimo, saudaçõs.

Já havia dito aqui que não aceitaria mais postagens anônimas. Mas você foi tão educado e moderado em suas palavras que não consegui excluir seu comentário.

Tenho que dizer que concordo com alguns pensamentos seus, mas alguns são inegociáveis.

Você fala como religioso quando se refere a unidade. Unidade cristã não é existir uma única denominação, pois não somos fundados sobre igreja ou homem algum, mas sim sobre Cristo (1 Co 3:1-11; Ef 2:20,21). Logo a unidade está em Cristo, que é a Palavra de Deus (Jo 1:1,14; Ap 19:13). Portanto, a verdadeira unidade cristã repousa na Palavra de Deus, em suas doutrinas e ensinos, a qual testifica de Jesus (Jo 5:39).

Isto posto, demonstrado fica a nossa razão de não confirmarmos uma comunhão cristã entre o protestantismo clássico, para não dizer bíblico, com grupos cristãos como a Igreja Católica Romana, Igreja Ortodoxa Grega, Testemunhas de Jeová, Mórmons, Adventistas do Sétimo Dia, igrejas evangélicas neo-pentecostais e etc, pois os mesmos fogem em demasia dos fundamentos doutrinários/bíblicos da fé cristã, que é justamente o ponto que promove a verdadeira unidade da Igreja/Corpo de Cristo.

Destaco também que nenhum cristão protestante genuíno achará que já sabe de tudo, pois sempre teremos o que aprender com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra (Os 6:3a).

Por fim, seu comentário final "Mais de 2000 anos de história! Uma instituição com tantos anos, com tantos exemplos de amor e fé (sem idolatria, deixo claro aqui) e que perdura até hoje, não pode ser tão ruim assim...", me perdoe, mas, sinceramente, dizer que sua igreja tem tantos exemplos de amor e fé é algo um tanto quanto contraditório com aquilo que é de conhecimento público e notório da história de sua igreja.

Encerrando, você bem sabe que somos a favor da paz e da convivência harmônica entre os mais variados credos, pois defendemos piamente a liberdade religiosa e de fé. Liberdade esta que inclui podermos criticar doutrinas e instituições, mas nunca as pessoas que as seguem.

Abraços fraternos.

Anchieta Campos