domingo, 28 de junho de 2009

Compreendendo Mt 24:34 – A importância da exegese

“Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” Mt 24:34 (cf. Mc 13:30; Lc 21:32).

Como compreender a declaração de Jesus acima? A geração da época de Jesus evidentemente que já morreu, já passou. Teria o Mestre cometido um erro? Claro que não.

Por mais que o crente leia a Bíblia de cima a baixo em busca de um esclarecimento para esta frase de Jesus, o mesmo nunca achará uma sistemática que venha satisfatoriamente a lhe esclarecer Mt 24:34, pois a resposta está no próprio versículo em análise, só que “escondida” na exegese do grego remoto dos escritos neo-testamentários.

A palavra “geração” no versículo acima provém do grego “γενεὰ”, palavra transliterada como “genea”, que significa simplesmente “raça, tipo de povo”. Logo, Jesus quis dizer que todos os eventos escatológicos até então mencionados se cumpririam sem que o povo judeu passasse, ou fosse extinto (sumisse) da terra.

Inegavelmente a velha e boa teologia (neste particular representada pela exegese bíblica), às vezes tão censurada e menosprezada no meio protestante (principalmente no meio pentecostal), é de uma importância indispensável para um correto e puro entendimento das Sagradas Escrituras. Citei o simples exemplo de Mt 24:34, mas são inúmeros os exemplos do nosso dia-a-dia que mostram, por ‘a’ mais ‘b’, que sem educação teológica é impossível ser um bom crente ortodoxo e fiel a sã doutrina.

Infelizmente não é raridade vermos a ortodoxia bíblica sendo assassinada nos púlpitos reformados, tanto por líderes como por “meros” membros. Fico doente quando vejo o estudo e formação teológica serem censurados e/ou menosprezados em nosso meio. Por que ainda há em muitos lugares o receio de que o conhecimento bíblico/teológico seja difundido e alcance mais o povo evangélico? Será que o conhecimento verdadeiro e puro da Palavra de Deus é mesmo temido por algumas pessoas de posição no meio eclesiástico? Interesses e comodidades pessoais estariam realmente em jogo com a difusão deste nobre saber? Quem tem o conhecimento tem as respostas!

“A fé não consiste na ignorância, mas no conhecimento” João Calvino.

Sola Scriptura!
Anchieta Campos

sábado, 20 de junho de 2009

A observância dos mandamentos e a salvação

A relação entre observar os mandamentos (em sentido geral) e a salvação, aparentemente lembra um paradoxo, mas não o é.

Primeiramente tem que se destacar que o mero fato de observar os mandamentos da lei mosaica não garante a vida eterna (cf. Mt 19:17-24). Destaque-se ainda, de pronto, que conforme a referência supra citada, a guarda do sábado, a observância da circuncisão, a observância das festas judaicas, os holocaustos, e outros caracteres da lei mosaica, não foram citados por Jesus como requisitos para a salvação (ver At 15:25; 1 Co 7:18-20; Cl 2:16,17).

A bem da verdade, é inconteste que a observância da lei e seus mandamentos não tem o poder de tornar o homem justo perante Deus, mas tão somente o sacrifício de Cristo é que detém tal eficácia (cf. Rm 3:19-28; 8:3; Gl 2:16,21; 3:10,11; Ef 2:8,9,13-16; 2 Tm 1:9; Hb 9:19-28; 10:1-4), tendo a lei sido revogada como meio divino para se chegar à Deus (cf. Gl 3:24,25; Hb 7:18,19).

Uma passagem bastante pertinente sobre o tema é Mt 5:19, que diz: “Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus”. Aqui Jesus está se referindo justamente à lei mosaica (v. 18), e percebemos que a ênfase soteriológica repousa no ensino, e não necessariamente na irrestrita e perfeita observância dos mandamentos ensinados. Vemos que mesmo que um crente chegue a violar algum mandamento, ainda assim o mesmo poderá herdar o reino dos céus, pois na verdade não há pessoa alguma que esteja isenta de pecar (Ec 7:20; 1 Jo 1:8-10). Lembremos ainda, como eu já disse aqui no blog em outra oportunidade, que por mais que o exterior possa ser um reflexo do interior de uma pessoa, o mesmo é enganoso em ambos os sentidos, sendo que o que define realmente uma pessoa para com Deus é o seu interior (1 Sm 16:7; 2 Co 5:12; Gl 2:6; Cl 2:23; 3:22; 2 Tm 3:5). Por isso que o julgamento de uma pessoa deve se iniciar sempre pela doutrina que a mesma professa (Rm 16:17; Ef 4:14; 1 Tm 1:3,10; 4:1,6; 6:3-5; 2 Tm 4:3,4; Tt 1:9; Hb 13:9; 2 Jo 1:9,10; Ap 2:14,15), sendo que os atos condenáveis (Gl 5:19-21; Ap 21:8; 22:15) não são necessariamente o estado permanente e imutável de uma pessoa, cf. 1 Co 6:9-11; Ef 2:2,3; 5:8; Cl 1:21; 3:5-8; Tt 3:1-5.

Para uma melhor compreensão sobre a relação entre o crente e o pecado, ver meu artigo O crente e o pecado.

Os mandamentos maiores da fé cristã não estão relacionados diretamente com a observância dos regramentos da lei, mas sim em relação a termos fé em Jesus e a amarmos uns aos outros (1 Jo 3:23; 4:21; Jo 13:34,35; 15:12). Ver Mt 22:36-40.

Portanto, a observância dos mandamentos da lei mosaica não é requisito para a salvação. Pontos como a guarda do sábado, circuncisão, festas judaicas e holocaustos, não fazem parte do quadro de mandamentos que devem ser observados na Nova Aliança. A observância perfeita dos mandamentos confirmados pela Nova Aliança, bem como os surgidos na mesma, conquanto sirvam de padrão para a vida cristã, não vem a ser requisito primário e indispensável para a salvação, visto que, conquanto o crente sempre busque levar uma vida santa aqui na terra, o mesmo jamais conseguirá ter uma vida imaculada; devendo, quando pecar (o que deve ser exceção na vida do crente), buscar em Cristo (e não na inútil observância dos mandamentos) o perdão pelos pecados (cf. 1 Jo 2:1,2).

“Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” 1 Tm 1:5.

“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” Mt 7:20; “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei” Gl 5:22,23.

Anchieta Campos

Entendendo Salmo 1:5

“Pelo que os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos” Salmo 1:5.

Não é raro ouvirmos sermões onde, desvirtuando-se a boa hermenêutica, o versículo acima é citado como fundamento para a falsa idéia de que ‘os pecadores intra-eclésia findarão por abandonar a igreja evangélica em que congregam antes de morrerem’ (não se sabe por intermédio de que força), sendo assim esta “congregação dos justos” a igreja evangélica local.

Primeiramente tem que se destacar que isso é apenas mais um reflexo da materialização da fé. Tudo que é espiritual, celeste, está sendo adaptado e recebendo uma capa de secularização, sendo que o conceito de igreja é um dos que mais tem sofrido com este mal. Mais uma triste constatação inegável.

Pois bem, a verdade sistemática bíblica é que o salmista (não se sabe o autor deste Salmo 1) não quis dizer que a “congregação dos justos” se refere a uma congregação terrena, secular, mas sim o mesmo fez menção ao céu eterno de glória, onde realmente os ímpios pecadores não terão participação alguma (1 Co 6:9,10; Gl 5:19-21; Ap 21:27; 22:14,15). E para se alcançar tal conclusão, além da própria sistemática bíblica, basta apenas recorrer ao próprio versículo em análise.

O termo “juízo”, na primeira parte do verso, é uma clara alusão ao juízo final, o que determinará o destino eterno de cada ser humano. Ao se aceitar o termo “congregação dos justos” como sendo as congregações protestantes, simplesmente estar-se-ia colocando a salvação como propriedade exclusiva das mesmas, onde só se salvaria quem estivesse forçosamente se congregando em alguma igreja protestante, além de garantir ao crente que, enquanto participante de uma igreja evangélica, o mesmo necessariamente seria um justo/salvo, visto que subsistiu na “congregação dos justos”. Logo a salvação estaria restrita só e tão somente a fatores externos (estar fisicamente em uma igreja evangélica), conclusão essa que vem a contrariar tudo que a Palavra ensina sobre salvação e comunhão com Deus.

Discorrendo sobre o tema, o memorável teólogo Donald C. Stamps, autor das notas e estudos da Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, assim se expressou com a sua peculiar propriedade:

“1.4-6 OS ÍMPIOS. O Sl 1 descreve os pecadores impenitentes sob três quadros horríveis: (1) são como a “moinha” lançada para longe por forças que não conseguem ver (v. 4; ver Ef 2.2 nota); (2) serão condenados na presença de Deus no dia do juízo (v. 5; cf. 76.7; Ml 3.2; Mt 25.31-46; Ap 6.17); (3) perecerão eternamente (v. 6; ver Mt 10.28 nota)”.

Como bem frisou Stamps, o versículo 5 trata da condenação ‘no dia do juízo’, e não de uma separação ainda terrena. Lembremo-nos que muitos que se dizem crentes e que se congregam serão condenados no dia do juízo (cf. Mt 7:21-23; Tg 1:26; Ap 2:4,5,16; 3:3), não devendo nós colocarmos a confiança no fato de estarmos com regularidade em um templo dedicado à Deus (cf. Jr 7:2-4).

Portanto, não procede o pensamento de que todos os que permanecerem em uma igreja local é porque Deus tem “negócio” com eles, ou que tal membro de cadeira cativa na igreja é certamente um justo/salvo. A salvação não repousa exclusivamente dentro de um templo protestante, conquanto venha a ser o ideal que um conhecedor e seguidor da Palavra se congregue em uma igreja reformada.

Anchieta Campos

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pérola episcopal

Olha, tenham a certeza que eu tentei; saibam que me esforcei muito para não fazer menção aqui no blog, mas, sinceramente, não consegui me conter.

Estava eu no MSN há pouco tempo, quando me deparei com um subnick um tanto quanto interessante. O subnick desse meu contato dizia exatamente o seguinte: “A caminhos que levam a morte espiritual, rebeliar-se contra quem tem cajado na mão (Pastor) é um deles!!!!!”.

Bem, de cara percebe-se que se trata de um evangélico, mas não um simples membro qualquer. Essa pérola, como o mediano entendedor já deu para perceber desde o título, foi escrita por um presbítero! E por sinal um presbítero da nossa quase centenária e mui querida Assembléia de Deus! Isso mesmo! Pelo conteúdo da mesma já dá para se ter uma noção até onde viemos parar (o buraco é fundo!) como igreja evangélica.

O dito presbítero (presbítero?), além de dar uma escorregada feia na teologia sistemática, achou pouco e resolveu assassinar a nossa recém alterada língua portuguesa.

Na teologia eu não sabia que o pastor tem o poder de matar espiritualmente um membro. Em outras palavras tal presbítero afirmou que o pastor tem prerrogativas espirituais suficientes para matar espiritualmente um crente, e por conseqüência lógica condená-lo ao inferno. Tal pensamento, caro leitor, é um absurdo teológico imensurável. Reconheço, como cristão ortodoxo que sou, que a igreja local e sua composição eclesiástica, tal qual se apresenta hoje na maioria das igrejas protestantes, são retratos de uma boa hermenêutica bíblica (ver meu artigo Em defesa da igreja local). Agora, é bem verdade que o pastor local não tem atribuição bíblica alguma para determinar em que estado se encontra a comunhão do membro com Deus, muito menos determinar a morte ou a vida espiritual do mesmo (ver meu artigo A disciplina eclesiástica local e a comunhão com Deus).

Tal presbítero, o qual conheço pessoalmente, por isso que posso afirmar com convicção, além dele próprio ter reforçado com essa frase infundada, é daquele tipo de crente que tem como uma verdade bíblica a famosa frase “não toqueis nos meus ungidos”. Isto posto, e para efeito de esclarecimento do mesmo sobre o assunto, recomendo a leitura do artigo “Não toqueis nos meus ungidos?”, onde faço menção de uma produção teológica do pastor e escritor assembleiano, Ciro Sanchs Zibordi.

E a língua portuguesa? Como sempre sendo assassinada de modo cruel! Afinal de contas trocar “há” por “a”, e “rebelar-se” por “rebeliar-se”, não vem a ser um erro de difícil percepção para um brasileiro médio. “Rebeliar-se” foi demais!

Destarte, esse artigo serve para demonstrar a que ponto chegamos, pois certas pessoas que levam o título de presbítero, as quais mesmo não sabendo lá essas coisas de português, pelo menos não deveriam assassinar a sã doutrina bíblica com frases aberrantes como esta.

Por essas e outras que o povo evangélico ainda é taxado de ignorante por muitos céticos letrados, muitos dos quais inclusive realizariam um juízo de valor sobre o pastor ser habilitado ou não para determinar a morte espiritual de um membro, o que só viria a aumentar o prejuízo.

“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” 2 Tm 2:15.

Sola Scriptura!

Anchieta Campos

domingo, 14 de junho de 2009

Paradoxos evangélicos

Paradoxo, segundo a já batida e difundida definição, é “uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum. Em termos simples, um paradoxo é o oposto do que alguém pensa ser a verdade”.

Pois bem, estava analisando alguns dos componentes da sistemática evangélica brasileira, e cheguei a algumas conclusões que divido neste momento com os nobres leitores deste humilde espaço.

Pude constatar que o protestantismo, conquanto seja o modelo sistemático da cristandade que mais se aproxima das Sagradas Escrituras, é ainda assim detentor de alguns não poucos paradoxos, dentre os quais alguns são um tanto quanto absurdos.

Vejamos alguns exemplos práticos de paradoxos no nosso meio:

1) No meio protestante é mais fácil acolher e ajudar um pecador que se converte, do que um crente que veio a pecar, sendo que ambos são igualmente humanos.

2) No meio protestante coloca-se o tempo como pré-requisito para se ocupar determinado cargo eclesiástico, anulando e/ou sumprimindo com isso outras características (mais importantes), como o preparo bíblico/teológico, habilidades administrativas, compromisso sincero com Deus, além da própria vontade de Deus.

3) No meio protestante, em algumas igrejas, devem as mulheres usarem sempre saia (ou vestido), sendo que prefere-se a uma saia curta do que a uma calça.

4) No meio protestante, em algumas igrejas, condena-se a prática de esportes, notadamente o futebol, incentivando assim o descuido com o próprio corpo, que é o templo do Espírito Santo.

5) No meio protestante se incentiva os membros a serem leais a sua nação (Estado), contribuindo com os impostos, prestando o serviço militar em seus devidos caracteres, etc., mas se censura o ato de torcer pela pátria em algum esporte.

6) No meio protestante, em algums igrejas, não se censura o fato do membro vir a ser um comilão (fazem até piada com isso na maioria dos casos), mas se um membro vier a ingerir um copo de vinho que seja, o mesmo é imediatamente taxado de beberrão e pecador.
7) No meio protestante, em algumas igrejas, promove-se abertamente rifas e outras modalidades de sorteios (formas do termo popular ‘jogo’), sempre de forma onerosa e sem contribuição alguma para o fundo social comum, mas censura-se o membro que concorre a sorteios em jogos legalizados (loterias da Caixa, por exemplo).


Poderia aqui citar outros fatos presentes em nossa realidade diária, mas estes elencados já servem para demonstrar o quão ainda precisamos amadurecer como povo que se diz Igreja do Senhor Jesus e conhecedor da Palavra de Deus. Contradições como estas citadas dificultam um saudável crescimento do evangelho, bem como são pratos cheios para escândalos e críticas destrutivas dos opositores.

Agora uma coisa é verdade: a Igreja verdadeira, a que será arrebatada, anda longe de cair nestes paradoxos da tradição religiosa evangélica.

Anchieta Campos

Frase quase divina – 59

Mais uma frase do memorável inglês William Shakespeare (1564-1616).

“Nossas dúvidas são as traidoras que nos fazem perder tudo de bom que poderíamos haver ganho, caso não houvéssemos sucumbido ao medo do fracasso” William Shakespeare.

Anchieta Campos

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Compreendendo a Festa de Corpus Christi

Amanhã (11/06) será feriado nacional. Particularmente achei bom saber que não precisarei ir trabalhar amanhã de manhã, bem como não precisarei me deslocar até a cidade paraibana de Sousa para a minha faculdade. E a quem devo essas minhas alegrias? Oras, claro que devo estas “bênçãos” à Igreja Católica Romana (e depois ainda dizem que ela não funciona!).

Pois bem, falando sério agora, o fato é que o feriado não é em homenagem a algum nome histórico do Brasil, nem mesmo é em comemoração a algum fato histórico importante para a nossa querida nação brasileira. Comemora-se neste dia a independência? A proclamação da República? Não! O dia 11 de junho de 2009 é feriado nacional em virtude da festa católica romana de Corpus Christi. É, depois dizem que o Brasil é um país laico, onde o Estado não tem influência alguma da toda poderosa igreja romana.

A Festa católica romana de Corpus Christi (expressão latina que significa “Corpo de Cristo”), foi instituída oficialmente pelo Papa Urbano IV com a sua Bula ‘Transiturus’, de 11 de agosto de 1264, sendo que o mesmo viera a morrer pouco tempo após a promulgação da referida Bula. A festa foi instituída para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes, tendo uma tríplice finalidade:

1) Prestar as mais excelsas honras a Jesus Cristo;

2) Pedir perdão a Jesus Cristo pelos ultrajes cometidos pelos ateus;

3) Protestar contra as heresias dos que negavam a presença de Deus na hóstia consagrada.

Tudo começou com a freira agostiniana belga Juliana de Mont Cornellon (1193-1252). Ela teria tido insistentes visões da "Virgem Maria" ordenando-lhe a realização de uma grandiosa festa da Eucaristia no Ano Litúrgico. Juliana, que posteriormente viria a ser a Santa Juliana, afirmava que a festa seria instituída para honrar a presença real de Jesus na hóstia, ou seja, o corpo místico de Jesus na "Santíssima Eucaristia".

A festa é marcada por uma procissão realizada nas vias públicas das cidades, onde a hóstia (o corpo de Cristo para os católicos) é carregada sob um cuidado impecável. A procissão é realizada pelas vias públicas para atender a uma orientação do Código Canônico da Igreja Católica Romana, onde em seu art. 944 determina ao Bispo diocesano que a providencie, onde for possível, “para testemunhar publicamente a veneração para com a santíssima Eucaristia, principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo”. É recomendado também que nestas datas, a não ser por uma causa grave e urgente, não se ausente da diocese o Bispo (art. 395).

O ensino católico sobre a Eucaristia é de uma atrocidade teológica só. O texto oficial da igreja romana assim se expressa: “A Eucaristia é um Sacramento que, pela admirável conversão de toda a substância do pão no Corpo de Jesus Cristo, e de toda a substância do vinho no seu precioso sangue, contém verdadeira, real e substancialmente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, debaixo das espécies de pão e de vinho, para ser nosso alimento espiritual”. Roma ainda doutrina que na Eucaristia está o mesmo Jesus Cristo que se encontra no céu. Esclarece também que essa mudança, conhecida como transubstanciação, “ocorre no ato em que o sacerdote, na santa missa, pronuncia as palavras de consagração: ‘Isto é o meu Corpo; este é o meu sangue’.

Para completar as aberrações bíblicas, o catecismo católico ainda traz uma pergunta com relação ao Sacramento da Eucaristia nos seguintes termos: “Deve-se adorar a Eucaristia?”. E responde: “A Eucaristia deve ser adorada por todos, porque ela contém verdadeira, real e substancialmente o mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor”. Isto não passa de uma oficial recomendação à idolatria!

Como bem pode perceber o leitor atento e inteligente, a igreja católica romana ensina que quando o sacerdote romano abre sua boca e pronuncia as palavras mágicas “Isto é o meu Corpo; este é o meu sangue”, neste exato momento a hóstia se transforma (literalmente) no corpo de Jesus, e o vinho se transforma (literalmente) no sangue de Jesus. Isto, meu caro leitor, é um absurdo sem igual. Conhecendo como conheço as doutrinas da igreja de Roma, posso afirmar que este ensino é um dos mais sem lógica, nexo e fundamento bíblico que eu já vi.

Tomando por base textos bíblicos como Mt 26:26-29; Lc 22:14-20 e Jo 6:53-56, os “eixegetas” romanistas realizam uma interpretação sem contexto e, o pior de tudo, extremamente literal destas passagens. Me lembrei agora que um certo católico romano alegou que os evangélicos é que interpretam literalmente a Bíblia. É uma piada e tamanha ignorância mesmo.

Ao se crer que a doutrina da transubstanciação fora instituída e ensinada por Cristo na última ceia, está-se incorrendo em um extremo absurdo. Se fosse verdade este pensamento católico, teríamos então que admitir que o próprio Cristo estaria comendo e bebendo do seu próprio corpo e sangue no momento em que estava vivo (em carne e sangue) diante dos apóstolos! As palavras de Jesus foram simbólicas! Jesus quis dizer que “Este pão que estou partindo agora representa o meu corpo que vai ser partido por vossos pecados; o vinho que neste momento está no cálice representa o meu sangue, que vai ser derramado por causa dos vossos pecados”. Não há nenhum bom senso e lógica em se interpretar as palavras de Jesus “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue” como se fossem literalmente o seu corpo e sangue; ademais, lembremo-nos que não fora o pão e nem o vinho usados na última ceia que foram crucificado e derramado (respectivamente) na cruz do calvário, mas sim o corpo real de Cristo e o sangue real de Cristo, mostrando claramente que Jesus usou de uma linguagem meramente figurativa.

Devemos nos lembrar também que o corpo de Jesus, como homem, é uno; Jesus ressuscitou corporalmente (ver meu post A Ressurreição FÍSICA e REAL de Cristo), ascendeu aos céus em seu corpo físico e assentou-se à destra de Deus (Mc 16:19; Lc 24:51; At 1:9-11), sendo inconcebível que o corpo e sangue de Jesus estejam na terra na figura da Eucaristia, pois o mesmo encontra-se no céu. Destaque-se também que o corpo de Jesus atualmente é um corpo glorioso (Ap 1:13-16; Fl 3:21), além do ensino de Paulo que diz que carne e sangue não podem herdar a incorrupção (cf. 1 Co 15:50), logo a carne e o sangue de Cristo como homem não existem mais como o era aqui nesta terra antes de sua ascensão.

Lembremo-nos que Jesus sempre usou de figuras para lhe representar e representar o seu ministério. Jesus disse que Ele era a videira verdadeira e nós as varas (Jo 15:5), disse que era a porta (Jo 10:9) e disse ainda que era o pão vivo que desceu do céu (Jo 6:51), mas nem por causa disso nós imaginamos Jesus literalmente como sendo uma árvore onde nós podemos chegar e arrancar um fruto, uma porta por onde nós passamos por dentro e muito menos um pedaço de pão que possamos comer.

No demais, fora usado pão, e não uma hóstia com simbologia pagã, o que, por si só, já desqualifica (mais uma vez) a Eucaristia romana.

Anchieta Campos

domingo, 7 de junho de 2009

Frase quase divina – 58

Depois de alguns domingos sem o quadro, volto hoje com uma frase do teólogo e escritor reformado, o americano Vincent Cheung.

“Uma ignorância da teologia significa que a interpretação de alguém de cada assunto carecerá do fator definitivo que coloca nela a perspectiva correta” Vincent Cheung.

Simplesmente brilhante!

Anchieta Campos

sábado, 6 de junho de 2009

Eu sou um herege?

Fiquei sabendo que recebi ontem, durante um culto denominado de “doutrina”, o qual não pude comparecer por estar em minha faculdade, que inclusive é em outra cidade, os “amáveis” títulos de herege, criança, rebelde, ignorante teológico, e outras sutilezas a mais, bem como fora liberada uma recomendação expressa para que os crentes ouvintes se afastassem de mim. Tudo isso motivado, acreditem se quiser, pelo meu artigo abaixo, intitulado de “A disciplina eclesiástica local e a comunhão com Deus”, o qual fora lido quase que praticamente em seu conteúdo total. O meu artigo fora classificado como impróprio, herege, sem valor bíblico algum, por uma pessoa que a partir de agora irei denominá-la de Luis XVI.

Primeiramente gostaria de agradecer a Luis XVI por ter divulgado meu blog em um culto relativamente concorrido. Talvez assim eu tenha mais leitores dentro do círculo de amigos que conheço pessoalmente. Gostaria também de dizer que Luis XVI sinta-se sempre à vontade para fazer uso de qualquer outro artigo do meu blog em seus sermões de instrução doutrinária, pois talvez só assim a igreja local receba um pouco de instrução doutrinária, e quem sabe teremos crentes mais preparados teologicamente e que não venham a serem “enrolados e colocados nos bolsos” por adventistas, testemunhas de Jeová, espíritas, romanistas, e etc; não é mesmo “proeminente e erudito doutrinador” Luis XVI? Com certeza também ao fazer uso de meus artigos, o tema de “dízimos e ofertas” irá perder um pouco de sua atual proeminência e destaque nos sermões doutrinários de Luis XVI, haja vista não ser esse o tema principal do Novo Testamento (apenas destacando, para quem está mal informado, que vejo os dízimos e ofertas como algo notadamente bíblico).

Gostaria apenas de discordar do ilustre Luis XVI em um único ponto: não me chame de herege! Não vou nem fazer menção aos outros títulos atribuídos infundadamente a minha pessoa, mas irei me deter somente ao título de herege, pois este fora, claramente, o que mais me machucou. Nobre Luis XVI (não nobre como os de Beréia), não me chame de herege, eu peço encarecidamente, pois, se o senhor fosse um leitor atento do meu blog e se realmente me conhecesse, saberia que a minha principal labuta é o anúncio e defesa do Santo Evangelho, assim como ele é, sem misturas humanas. Desde que me converti aprendi o ensino e essência dos ideais da Reforma Protestante, brilhantemente sintetizados em seu grito maior, o de Sola Scriptura. Quem me conhece sabe que o que tenho de mais precioso nesta vida como escritor cristão é o zelo pela sã doutrina bíblica, pela ortodoxia bíblica. Simplesmente não suporto desvios doutrinários, afrontas para com a pureza doutrinária externada na infalível e soberana Palavra de Deus. Caro Luis XVI, se quiser pode me classificar como uma pessoa que tem o pecado em sua natureza humana, e tenha certeza que não ficarei magoado, pois ainda tenho juízo o suficiente para reconhecer essa minha situação (Ec 7:20; 1 Jo 1:10), bem como conhecimento bíblico o suficiente para buscar unicamente na graça de Deus o perdão dos meus pecados (Lm 3:22; Mt 16:26; Rm 11:6; Gl 2:16; Ef 2:8,9; Tt 3:5); mas, repito, por favor, herege não!

Absolutista Luis XVI, fiquei sabendo que Vossa Majestade questionou em seu sermão que “ele está querendo me ensinar irmãos!?”. Ora, ora Majestade, quem sou eu para ousar querer lhe ensinar? Um mero e simples membro de uma igreja local como eu jamais se atreveria em ensinar a Vossa Majestade. Saiba que honro seu reinado, o que é de direito, conquanto vosso governo se mantenha pautado na Palavra de Deus, caso contrário...

Gostaria também de discordar em outro ponto: se escrevo algo que lhe incomoda, por favor, não mande recados por presbíteros (pois eu não sou menino), mas venha o senhor mesmo conversar comigo. Saiba que tens total liberdade para me abordar onde quer que seja, afinal de contas creio que não estamos intrigados. Venha, converse comigo, se quiser reúna a sua cúria e eu para uma assembléia, mas, lhe peço, me convença do erro refutando biblicamente o que escrevo. Convido-lhe a mostrar teologicamente os erros dos meus escritos, no que terei imenso prazer em me retratar aqui neste espaço, e onde mais o senhor desejar, mas não se esconda atrás de seu trono (para não dizer, mas já dizendo, púlpito).

E para finalizar, se Vossa Majestade pensa que eu vou parar de escrever e/ou tirar o blog do ar, está redondamente enganado, pois a causa de ser deste espaço é muito mais nobre que qualquer desejo e vaidade humana.

Sim, mas eu sou mesmo um herege?

Sola Scriptura!

Obs.: Caros leitores, desculpem por trazer um pouco do lado pessoal para este espaço, mas, afinal de contas, mesmo que a razão de ser desse blog seja anunciar e defender a Palavra de Deus, ele não deixa de ser uma página oficial da minha pessoa, e como um artigo daqui foi atacado em público, vejo como justo usá-lo para os fins desta publicação.

Anchieta Campos