domingo, 24 de junho de 2012

Adventistas apontam para uma mudança de entendimento sobre a Lei Mosaica

Houve mais um lampejo de Sola Scriptura no seio adventista em relação à questão doutrinária-teológica da Lei Mosaica. Tradicionalmente os adventistas do sétimo dia sempre fizeram confusão hermenêutica entre os aspectos cerimonial e moral da lei (o que é de conhecimento de todos), o que findava por ter implicações sérias no campo soteriológico adventista (notadamente com um apelo muito grande pra observância da lei para fins de salvação).

Na Revista Adventista do mês de maio, em um artigo sobre o Livro de Gálatas de autoria de Wilson Paroschi, encontramos a seguinte assertiva:

“Uma importante questão hermenêutica (ou interpretativa) suscitada por Gálatas diz respeito à natureza da lei de que se fala o apóstolo. Espera-se que, depois dessas lições, tenhamos sepultado para sempre aquela velha distinção entre lei moral e lei cerimonial como a chave para se entender a epístola. Não que não houvesse leis morais e cerimoniais na vida do antigo Israel, mas o ponto é que tal distinção não é de forma alguma a solução para se interpretar Gálatas ou quaisquer outras passagens em que Paulo parece falar da lei de uma perspectiva negativa. Introduzido pelos nossos pioneiros em meados do século dezenove e no contexto das discussões quanto à validade do sábado, o argumento – de que quando Paulo parecia falar mal da lei ou enfatizar sua temporariedade (como em Gl 3:24-25), ele tinha em mente a lei cerimonial, e de que, quando falou bem da lei (como em Rm 7:10-14), ele se referiu à lei moral – não está correto, apesar de sua praticidade e eficiência evangelísticas. A lei em Gálatas não é a lei cerimonial, mas principalmente a lei moral, pois é a lei moral que revela o pecado, condena o pecador e o conduz a Cristo. É disso que Paulo falou nessa carta. Em Hebreus, sim, o ponto é a transitoriedade da lei cerimonial e, com ela, de todo o sistema sacrificial levítico (Hb 8:7-13; 9:9-10; 10:1-10). Mas, em Gálatas, como em Colossenses 2.14 e 2 Coríntios 3:7-11, o apóstolo se referiu sobretudo à lei moral. (Wilson Paroschi – Lições de Gálatas - Revista Adventista, maio de 2012, p.18 – destaque nosso). Fonte: http://www.cacp.org.br/adventismo/artigo.aspx?lng=pt-br&article=2848&menu=1&submenu=8

Inegável que este texto representa mais uma sincera (e ousada) amostra de que há uma tendência (e anseio) no meio adventista pela correta interpretação das Escrituras. Admitir um erro histórico (de mais de século) não é algo tão simples quanto se parece.

Em relação a esta temática sobre o paralelo entre a Observância da Lei x Salvação, conforme já explanado neste blog, o mero fato de observar os mandamentos da lei mosaica não garante a vida eterna (cf. Mt 19:17-24). Destaque-se ainda, de pronto, que conforme a referência supra citada, a guarda do sábado, a observância da circuncisão, a observância das festas judaicas, os holocaustos, e outros caracteres da lei mosaica, não foram citados por Jesus como requisitos para a salvação (ver At 15:25; 1 Co 7:18-20; Cl 2:16,17).

A bem da verdade, é inconteste que a observância da lei e seus mandamentos não tem o poder de tornar o homem justo perante Deus, mas tão somente o sacrifício de Cristo é que detém tal eficácia (cf. Rm 3:19-28; 8:3; Gl 2:16,21; 3:10,11; Ef 2:8,9,13-16; 2 Tm 1:9; Hb 9:19-28; 10:1-4), tendo a lei sido revogada como meio divino para se chegar à Deus (cf. Gl 3:24,25; Hb 7:18,19).

Uma passagem bastante pertinente sobre o tema é Mt 5:19, que diz: “Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus”. Aqui Jesus está se referindo justamente à lei mosaica (v. 18), e percebemos que a ênfase soteriológica repousa no correto ensino bíblico, e não necessariamente na irrestrita e perfeita observância dos mandamentos ensinados. Vemos que mesmo que um crente chegue a violar algum mandamento, ainda assim o mesmo poderá herdar o reino dos céus, pois na verdade não há pessoa alguma que esteja isenta de pecar (Ec 7:20; 1 Jo 1:8-10). Lembremos ainda, como eu já disse aqui no blog em outra oportunidade, que por mais que o exterior possa ser um reflexo do interior de uma pessoa, o mesmo é enganoso em ambos os sentidos, sendo que o que define realmente uma pessoa para com Deus é o seu interior (1 Sm 16:7; 2 Co 5:12; Gl 2:6; Cl 2:23; 3:22; 2 Tm 3:5). Por isso que o julgamento de uma pessoa deve se iniciar sempre pela doutrina que a mesma professa (Rm 16:17; Ef 4:14; 1 Tm 1:3,10; 4:1,6; 6:3-5; 2 Tm 4:3,4; Tt 1:9; Hb 13:9; 2 Jo 1:9,10; Ap 2:14,15), sendo que os atos condenáveis (Gl 5:19-21; Ap 21:8; 22:15) não são necessariamente o estado permanente e imutável de uma pessoa, cf. 1 Co 6:9-11; Ef 2:2,3; 5:8; Cl 1:21; 3:5-8; Tt 3:1-5.

Os mandamentos maiores da fé cristã não estão relacionados diretamente com a observância dos regramentos da lei, mas sim em relação a termos fé em Jesus e a amarmos uns aos outros (1 Jo 3:23; 4:21; Jo 13:34,35; 15:12). Ver Mt 22:36-40.

Portanto, a observância dos mandamentos da lei mosaica não é requisito para a salvação. Pontos como a guarda do sábado, circuncisão, festas judaicas e holocaustos, não fazem parte do quadro de mandamentos que devem ser observados na Nova Aliança. A observância perfeita dos mandamentos confirmados pela Nova Aliança, bem como os surgidos na mesma, conquanto sirvam de padrão para a vida cristã, não vem a ser requisito primário e indispensável para a salvação, visto que, conquanto o crente sempre busque levar uma vida santa aqui na terra, o mesmo jamais conseguirá ter uma vida imaculada; devendo, quando pecar (o que deve ser exceção na vida do crente), buscar em Cristo (e não na inútil observância dos mandamentos) o perdão pelos pecados (cf. 1 Jo 2:1,2).

Que os queridos adventistas (que reconhecidamente é um grupo detido na prática da leitura bíblica e complementar) possam -  de uma vez por todas – se firmar na maravilhosa graça de Deus, que é o único meio que detemos para alcançar a remissão dos nossos pecados e da nossa culpa perante Deus, e possam confiar unicamente nela (na graça) para alcançarem a vida eterna, e não em observâncias de preceitos legalistas, os quais nunca serão capazes de justificar nenhum pecador. Amém!

Com amor,

Anchieta Campos

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Pesa mais o pecado contra a doutrina que o pecado contra a disciplina cristã

“Por doutrina falsa se deteriora a fonte da vida da igreja e da disciplina eclesiástica. Por isso, pesa mais o pecado contra a doutrina que o pecado contra a disciplina cristã. Quem rouba da igreja o Evangelho merece condenação irrestrita; quem, porém, peca em sua conduta, para esse existe o Evangelho. Disciplina doutrinária refere-se, em primeiro lugar, aos ministros encarregados de ensinar o Evangelho na igreja. (...) É dever do ministro propagar, na igreja, a reta doutrina e combater qualquer perversão. Onde se instalam heresias evidentes, o ministro ordenará que ‘não ensinem outra doutrina’ (1Tm 1.3), pois ele é portador do ministério da doutrina e tem direito de ordenar. Além disso, deverá evitar contendas de palavras (2Tm 2.14). Se for comprovada a heresia, admoeste-se o herege primeira e segunda vez; se não ouvir, rompa-se a comunhão com ele (Tt 3.10; 1Tm 6.4s.), pois ele seduz a igreja (2Tm 3.6s.)”.

Dietrich Bonhoeffer*, Discipulado, p. 193-194.

Como discordar deste nobre teólogo e pastor luterano? Não há como!

*Dietrich Bonhoeffer (Breslau, 4 de fevereiro de 1906 – Berlim, 9 de abril de 1945) foi um teólogo, pastor luterano, membro da resistência alemã anti-nazista e membro fundador da Igreja Confessante, ala da igreja evangélica contrária à política nazista. Fonte: Wikipédia.

Anchieta Campos

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Não murmureis

“Fazei todas as coisas sem murmurações” Filipenses 2:14


Esta vida terrena realmente não é nada fácil. O próprio Cristo nos alertou que teríamos aflições neste mundo (Jo 16:33). Ao contrário do que apregoam os apologistas da famigerada teologia da prosperidade e da doutrina da confissão positiva, as enfermidades e as dificuldades (em seus mais variados aspectos terrenos) podem vir a fazer parte da vida de algum crente fiel (Fl 2:25-27; 2 Tm 4:20; Tg 5:14,15; Fp 4:12; Rm 12:13; 2 Co 6:4).

Como seres humanos, super limitados em nossa própria essência e natureza, passaremos por inúmeros momentos nesta vida onde a nossa paciência (e fé) será testada, sendo tentados a nos queixarmos de algumas dessas situações desagradáveis, e, no caso de nós cristãos, a nos queixarmos com Deus.

Primeiramente cabe destacar que Deus não é o culpado por nenhum dos males e problemas que eventualmente venham a afligir os crentes em Jesus, haja vista ser o Deus de Israel um Deus justo (Salmo 7:11; 119:137; 145:17; Ap 16:7), onde toda murmuração e queixa do homem é conseqüência de seus pecados (Lm 3:39), em reflexo da lei da semeadura (Gl 6:7); bem como também pode ser conseqüência de próprias falhas e erros na administração e/ou execução secular de determinados atos e/ou projetos. Portanto, já vemos que não cabe ao crente em Jesus (e nem ao ímpio, evidentemente) reclamar de Deus por alguma adversidade.

A murmuração tratada na Bíblia, notadamente no Novo Testamento, em seu sentido exegético, está relacionada com a idéia de sussurro. A palavra traduzida por “murmuradores” em Rm 1:30 é psithyristes, e significa alguém que sussurra, murmura. Logo a murmuração é uma queixa que se exterioriza de modo contrito, mas que pode carregar consigo uma queixa-reclamação forte. Ademais, não importa o modo como se exterioriza o sentimento queixoso, mas sim a real motivação subjetiva (i.e., do coração) do murmurador (cf. Mt 12:34; 15:18,19).

Os sussurros da murmuração nem sempre serão queixas ou reclamações, mas podem ser também conversas de cunho reservado sobre temas que desagradam, causam escândalo, ou não são aceitos pelo público em geral que se está ao redor (cf. Mt 20:11; Lc 5:30; 15:2; Jo 6:41-43,61; 7:12,32); mas também podem se referir a queixas e/ou reclamações propriamente ditas (cf. 1 Co 10:10; Jd 1:16; Nm 14:1-3,27; Dt 1:27). De todo modo, a murmuração é reprovável pela Bíblia (Fp 2:14; 1 Pe 2:1; 4:9), notadamente esta última espécie de murmuração (a queixosa, reclamante), a qual é a tratada neste artigo.

Por fim, a murmuração queixosa revela a falta de paciência do crente, a qual é a origem da nossa esperança (Rm 5:3,4), e se reveste ainda de suma importância para a vida do cristão (Cl 1:11; 1 Tm 6:11); além de revelar também uma falta de confiança na providência e no cuidado do nosso Pai Celestial para conosco (Mt 6:25-34).

Que possamos ser, a cada dia mais, crentes afastados da prática da murmuração, pacientes para com as adversidades desta vida, sempre confiantes no amor e no cuidado de Cristo por nós (1 Pe 5:7); sabendo que, se alguma adversidade nos atinge, com certeza não é Deus o culpado, mas sim o agente capaz de nos fazer superar a mesma. Amém!

Anchieta Campos

sábado, 16 de junho de 2012

De volta ao ministério escrito

“TUDO tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” Eclesiastes 3:1

Após mais de dois anos sem fazer aquilo que sempre me deu prazer, que é escrever sobre a Bíblia e a fé cristã, estou de volta a este tão importante ministério cristão.

Nos primeiros anos de blog (2007-2009) aprendi bastante sobre a Palavra de Deus, cultivei relações de amizades que até hoje se mantém firmes e sinceras, inclusive com nomes ilustres da Assembléia de Deus do Brasil e da CPAD, e pude, mesmo com as limitações de um novo convertido, produzir mais de 200 artigos teológicos e ganhar uma notoriedade no meio evangélico que jamais pensei que fosse alcançar. Toda honra e toda glória seja para o nome de Jesus!

Por motivos seculares, parei por dois anos (2010-2011) de escrever e atualizar este blog. Final de faculdade, monografia, estudos para exames da OAB e concursos, e uma estranha (e nunca assimilada) oposição de uma pessoa que nunca pensei que iria se sentir ofendido com os meus escritos me levaram a fraquejar na produção de artigos, até findar na paralisação total das atualizações.

Durante este período de inércia sempre senti em meu espírito o desejo ardente de voltar a escrever sobre a Bíblia e sobre a fé cristã, desejo este sempre mantido vivo pelo Espírito Santo de Deus, o qual é a origem de toda boa dádiva e capacidade que recebemos nesta vida. Amém!

A cada atentado (novo ou já velho conhecido) contra a sã doutrina das Sagradas Escrituras, meu coração sentia uma dor enorme no peito, e minha consciência era acusada pelo Espírito do SENHOR de negligência ao ministério que o Eterno Deus havia me confiado e capacitado a realizar.

Boa surpresa sempre vinha quando eu acessava a página de administração do blog, onde contemplava muitos comentários elogiosos e de incentivo para eu voltar a escrever. Observava também que o número de acessos ao meu blog nunca diminuiu (até hoje, como constatei), sempre se mantendo em um patamar considerável de acessos diários. Glória a Deus por isso!

Aprendi e amadureci bastante nestes dois anos de inércia no ministério. Certas coisas só se aprendem com o tempo e com o convívio na igreja. Oremos pela Igreja do Senhor e pela igreja evangélica em todo o Brasil e no Mundo. Isso é algo mais que necessário!

Eu sabia que não podia renegar a este ministério que o Senhor Jesus me entregou. Sabia que a volta era questão de tempo!

Nos últimos meses o cenário foi tomando forma para uma volta a este tão nobre ministério. A posse do Pr. Martim Alves da Silva como o novo Presidente da Igreja Evangélica Assembléia de Deus no Rio Grande do Norte, sucedendo o nobre e ilustre Pr. Raimundo João de Santana, e a posse do também ilustre e nobre Pr. Israel Caldas Sobrinho na Presidência da Assembléia de Deus em Pau dos Ferros-RN (minha igreja local), apontavam para um cenário de renovação e recomeço de obras inerentes ao Reino dos Céus, o que acabou influenciando em meu ministério.

Consegui minha formatura em Direito, passei no Exame da OAB, passei em dois concursos públicos e estou aguardando a nomeação no que vou assumir; nunca me afastei da Casa do Senhor e da comunhão com o Eterno Deus; nunca reneguei a graça do Senhor Jesus, a qual todos os seres humanos são necessitados.

Hoje estou aqui, mais do que nunca dependente da graça e do amor do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Sou um vaso pequeno, que tem muito a aprender, mas que se põe (assim como em setembro de 2007, quando iniciei este blog) nas mãos do Oleiro, para ser usado em defesa da Palavra de Deus, refutando as heresias e os modismos contrários a Sã Doutrina Bíblica, a qual é sem misturas e sem interesses.

Realizei algumas mudanças no blog, tanto na aparência quanto no conteúdo, onde houve alterações na estrutura de links da lateral direita, com a inclusão e remoção de alguns itens, bem como com a atualização de outros. O padrão para a aceitação dos comentários continua o mesmo, onde serão evitados comentários anônimos e de pessoas que procuram apenas causar contendas, sem interesse real e sincero em debater sobre a Palavra de Deus e assuntos pertinentes com a fé cristã.

Rogo as orações de todos os santos que lêem este humilde espaço. O único objetivo deste blog é honrar a Sagrada Escritura e o nome de Jesus, anunciando-o como o único e suficiente Salvador de nossas almas, e proclamando a Bíblia Sagrada de modo puro e sem misturas, anunciando-a como a perfeita, inerrante, infalível, perfeita e suficiente Palavra de Deus aos homens.

Hoje se cumpre em minha vida a palavra do Apóstolo Paulo em Romanos 11:29, que diz: “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”, para que assim eu possa cumprir com a missão delegada em Judas 1:3: “Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos”. Amém!

Em Cristo,

Anchieta Campos