sábado, 15 de novembro de 2008

Debates soteriológicos – Livre arbítrio X Predestinação incondicional (Parte 01)

Recentemente tive o prazer de interagir e trocar algumas idéias, de forma absolutamente respeitosa e edificante, com o amigo e irmão Clóvis Gonçalves, editor do http://cincosolas.blogspot.com/. Eu, como um bom defensor do Livre Arbítrio do homem, e ele defendendo com honrarias a Predestinação Incondicional do homem, tudo isto no campo soteriológico da salvação individual.

Estava relendo os comentários postados por nós em dois artigos de minha autoria que tratam do tema, quais sejam: As ovelhas do Bom Pastor e a predestinação incondicional, e Faraó, predestinação e livre arbítrio, e achei por bem publicar estes debates saudáveis entre duas pessoas que, mesmo divergindo em pouquíssimos pontos, tem em comum o mais importante, que é a crença na inspiração plenária da Bíblia Sagrada, a qualificando assim como a única fonte de fé e a autoridade maior para o cristão, devendo o crente fiel se submeter, de todo o coração e incondicionalmente, aos seus ensinos e princípios que se aplicam para todos os campos de nossa vida.

Não quero com estas publicações reacender o eterno debate teológico entre “arminianos” e “calvinistas”, mas, pela riqueza dos comentários, julguei por justo para com os adeptos de ambas as linhas, publicá-los com destaque neste blog, o que ajudará não somente aos meus co-defensores do livre arbítrio humano, mas também será de proveito para os defensores da predestinação incondicional.

Segue-se abaixo a transcrição dos comentários feitos por minha pessoa e pelo o irmão Clóvis, no artigo As ovelhas do Bom Pastor e a predestinação incondicional (os comentários do irmão Clóvis estão de vermelho, e os meus de azul escuro).

“Anchieta Campos,

Paz em Cristo!

Permita-me comentar alguns pontos de sua última postagem. Num primeiro momento, gostaria apenas de fazer alguns esclarecimentos que julgo necessários.

Primeiro que me soa estranho o pedido de “uma analise exegética contraria”. Exegese posicionada é eisegese. Exegese é exegese, não existe exegese favorável ou contrária, pois o objetivo dessa ciência é extrair do texto o único sentido verdadeiro.

Convém também esclarecer que “predestinação incondicional fatalista” é qualificação arminiana. Os calvinistas crêem na predestinação bíblica que pode ser incondicional no sentido de que ninguém precisa nem pode preencher uma condição prévia para ser predestinado, mas jamais é fatalista. Quem qualifica a predestinação como a entendem os calvinistas como fatalista, ou está mal informado ou mal intencionado, procurando enfear uma doutrina porque não concorda com ela.

O irmão erra também ao dizer que “a idéia calvinista de uma salvação pré-ordenada” significa que “os salvos no calvinismo são sempre salvos, e não passam a serem salvos a partir de um dado momento”. A eleição ocorre na eternidade, a salvação é aplicada na história. Portanto, a eleição não é salvação, é para a salvação. A eleição torna certa a salvação, mas não se confunde com ela.

Em Cristo,

Clóvis”.

“Prezado irmão Clóvis, a paz do Senhor.

Concordo plenamente quando o irmão diz: “Primeiro que me soa estranho o pedido de ‘uma analise exegética contraria’. Exegese posicionada é eisegese. Exegese é exegese, não existe exegese favorável ou contrária, pois o objetivo dessa ciência é extrair do texto o único sentido verdadeiro”. Não realizei uma exegese contrária, mas apenas uma exegese bíblica e imparcial, e para mim o produto disto é o que fora exposto em minha resposta.

Com todo respeito e admiração que tenho por sua ilustre pessoa, para mim a predestinação pregada pelos calvinistas é sim incondicional e fatalista, digo isto não só pelo o que li, mas também por conversas que já tive com irmãos seguidores desta linha teológica.

Por fim, suas últimas sentenças: “A eleição ocorre na eternidade, a salvação é aplicada na história. Portanto, a eleição não é salvação, é para a salvação. A eleição torna certa a salvação, mas não se confunde com ela”, só vem, ao meu ver, confirmar a idéia de uma predestinação incondicional fatalista, pois no “final das contas” acaba dando no mesmo; apesar de uma tentativa de separar as coisas, não há como vocês mesmos negarem o caráter incondicional/fatalista.

Por fim, repito neste blog que admiro a ortodoxia dos irmãos que seguem a linha calvinista, onde os mesmos sempre se mostram seguros em suas doutrinas, e como, ao meu ver, tira-se basicamente esta questão da predestinação, o demais é para mim concordância e harmonia.

Forte abraço.

Anchieta Campos”.

“Irmão Anchieta,

Obrigado por sua consideração ao meu comentário.

Reafirmo que a eleição é soberana e graciosa, vale dizer, incondicional. Não nego este aspecto e creio que pode ser demonstrado irrefutavelmente pela Bíblia.

Porém não é fatalista. A Bíblia não ensina o fatalismo, os calvinistas não são fatalistas e portanto não há porque os arminianos se preocuparem em rotular assim essa doutrina.

O que ocorre é que os arminianos em geral não se preocupam muito em definir bem os termos que usam em seus debates teológicos. E geralmente causam confusão, tanto em termos que lhe são caros, como livre-arbítrio, liberdade, vontade e escolha, como os que procuram combater.

Um bom começo para entender essa questão é procurar saber a diferença entre certeza e fatalismo. Por trás de uma está um Deus todo poder e todo bondade. Por trás de outra está a necessidade cega. O reformado crê na primeira, em total acordo com a Bíblia.

E se o Daniel, que escreveu o comentário acima, for coerente, ele será tão “fatalista” quanto eu, pois a conseqüência lógica da onisciência é a certeza.

Em Cristo,

Clóvis”.
“Caro irmão Clóvis, a paz do Senhor.

Minha consideração e respeito por vossa pessoa são sinceros e fiéis.

Agora, também reafirmo a minha posição dantes externada.

Cremos, como bem sabe o amado, que a onisciência gera a certeza para Deus, pois o mesmo conhece o futuro humano. Agora, como também sabe o irmão, cremos que a onisciência não significa uma influência divina determinante na posição adotada pelo homem, seja ela para salvação ou condenação.

Uma coisa é Deus saber do futuro soteriológico do homem individual, outra é Ele decidir este futuro pelo homem. Uma coisa é Deus ofertar a única opção ao homem para a salvação, outra é Ele fazer com o que o homem adentre forçosamente (ou não) por este caminho.

Uma característica divina não anula a outra.

Por fim, cremos em uma certeza divina em relação ao futuro, mas não em uma vontade divina fatalista em relação ao destino eterno de cada pessoa em individual. É inegável que a predestinação incondicional para a salvação é sim fatalista em seu resultado, seja para salvação ou para condenação.

O cerne da questão está em que para nós o “fatalismo” repousa nas escolhas do homem sob um parâmetro pré-estabelecido por Deus, e para vocês o “fatalismo” repousa em uma vontade (eleição) para salvação que não se pode mudar, o que para mim é, e sempre será, a mais pura demonstração de um “fatalismo” individualista soteriológico.

Encerro renovando nossos votos de alta consideração, estima e apreço para com a vossa ilustre pessoa.

Forte abraço.

Anchieta Campos”.

Continua.

Anchieta Campos

4 comentários:

Edmilson Batista BH-MG disse...

Concordo com o livre arbítrio humano. A Bíblia até fala em predestinação, o que importa é como é entendida; e não concordo com uma predestinação incondicional. "... aos que de antemão conheceu, também os predestinou ..." Rm 8:29 Ou seja, Deus não predestina, sem antes conhecer por presciência, qual será a atitude dum indivíduo, ante a oferta de salvação. Ver 1Pe 1:1.

Edmilson Batista BH-MG disse...

A condenação de Esaú é questionável, este pois exibiu virtudes das quais os crentes de hoje muito carecem. Perdão Gn 33:4, ausência de ganância Gn v 8-11, Retomada da rever~encia paternal Gn 35:29, Retirada de Canaã, deixando-a para seu irmão, reconhecendo a promessa na vida daquele Gn 36:6-8. Era um crente na promessa.

Edmilson Batista BH-MG disse...

Jacó e Esaú são um tipo profético de eleição coletiva, uma vez que Esaú nunca foi servo de Jacó coforme se afirma em Rm 9:11-13. Mas a descendência de Esaú, é que foi menor e subjugada pela descendência de seu irmão; ou seja, a eleição é tratada de forma coletiva, não individual.

Anchieta Campos disse...

Caro Edmilson Batista, a paz do Senhor.

Ótima intervenção de sua parte, vindo muito a enriquecer esta publicação.

Costumo dizer que a idéia de uma predestinação incondicional do homem individual (seja para salvação ou condenação) é antiética, injusta, ilógica e antibíblica. Com certeza Deus não faria como pensam os calvinistas nesse aspecto.

Forte abraço e obrigado por sua participação.

Anchieta Campos