sábado, 15 de novembro de 2008

Debates soteriológicos – Livre arbítrio X Predestinação incondicional (Parte 02)

Ver a parte 01 em Debates soteriológicos – Livre arbítrio X Predestinação incondicional (Parte 01).

“Anchieta,

Alguém pode pensar que de nossa conversa pouco proveito se tira. De minha parte, foi bastante proveitosa, pois mesmo não chegando num consenso, aprendi um pouco mais sobre uma posição diferente da minha e, acima disso, com um irmão em Cristo.

Para terminar minha participação neste tópico (vou ler os outros artigos citados e talvez comente-os), quero falar um pouco sobre a certeza resultante da onisciência. Permita-me uma exemplificação, que pode corrigir se achar necessário.

O conhecimento de deus é perfeito e infalível. Então na eternidade, Ele sabia que o Zé iria aceitar um convite para ir à praça, ali ouviria o evangelho e receberia a Cristo.

Na história e no dia previsto, o Zé recebe o convite, vai à praça e ouve o evangelho. Chega a hora da decisão. Existe alguma possibilidade real, ínfima que seja, que ele rejeite o convite para receber a Cristo?

Creio que tanto você como eu cremos que ele "fatalmente" crerá em Cristo. Portanto, aqui há uma certeza, mas não há fatalismo, pois embora a sua escolha tenha sido pré-determinada na eternidade, sua escolha foi livre.

Até aqui, calvinistas e arminianos concordam em gênero, número e grau. Portanto, nem arminianos, nem calvinistas são fatalistas e impingir este rótulo ao calvinismo não me parece ser necessário nem proveitoso.

Onde divergimos, então?

Na eleição, pois nós cremos que ela não dependeu da decisão prevista do Zé, já os arminianos (boa parte) crêm que ele o que motivou Deus escolhe-lo foi o fato de Deus saber que Ele iria crer.

E na conversão, pois nós calvinistas cremos que o homem por si mesmo é incapaz de crer no evangelho, precisando da ação decisiva da graça de Deus. Já os arminianos crêem que o homem tem capacidade, por si mesmo, de aceitar ou rejeitar a Cristo.

Resta saber qual das duas posições são apoiadas pela Bíblia.

Em Cristo,

Clóvis”.

“Ilustre irmão Clóvis, a paz do Senhor.

É sempre bom trocar idéias com pessoas cultas que nem o amado irmão. A bem da verdade, tenho mais prazer em discutir idéias com pessoas que tem um posicionamento divergente do meu em determinado assunto.

Seu último comentário fora bastante interessante. Gostei mesmo do exemplo do Zé (risos). Agora, como o amado irmão me deu a pré-liberdade de "corrigí-lo", faço uso desta prerrogativa, pelos fundamentos a seguir:

Realmente vinha concordando com tudo que o amado escreveu, até este exato momento "embora a sua escolha tenha sido pré-determinada na eternidade, sua escolha foi livre"; sinceramente, amado irmão, para mim esta sua sentença soa como uma contradição enorme! (risos). Para o meu pequeno entendimento, vejo o caro irmão defendendo a predestinação incondicional em um primeiro momento, e o livre-arbítrio em um segundo momento.

Continuo com a idéia de que os amados irmãos da linha calvinista não compreendem bem a onisciência de Deus em relação a salvação do homem individual.

Quanto à capacidade para crer, cremos que o Espírito Santo opera em todos para a salvação, pois esta é a vontade de Deus, mas cremos ser plenamente possível o homem resistir e não dar crédito à pregação do Evangelho.

Por fim, não é e nunca fora a minha intenção postar artigos relacionados ao tema, com o intuito de debater com os irmãos calvinistas (não sou contrário ao encontro de idéias divergentes, pelo contrário, sou um alto defensor do debate de idéias, pois assim é que se cresce intelectualmente), pois creio que ambas as partes estão firmes e fundamentadas em suas doutrinas (claro, com nós bem mais coerentes e fundamentados do que vocês... risos). Meu objetivo maior é mais dar subsídios para quem já crê no livre arbítrio.

Forte abraço, caro amigo.

Anchieta Campos”.
“Caro Anchieta,

Por favor, não entenda que vim transformar seu blog num debate para ver quem ganha a questão. Esse seria um objetivo pobre demais para nós dois. Mas é muito bom que possamos esclarecer o que cremos para que os que já crêem no livre-arbítrio tenham subsídio, bem como os que um dia já creram, também.

O irmão estanhou minha afirmação "embora a sua escolha tenha sido pré-determinada na eternidade, sua escolha foi livre" classificando-a como uma "uma contradição enorme" pois me vê "defendendo a predestinação incondicional em um primeiro momento, e o livre-arbítrio em um segundo momento". Por isso esclareço, se me permite, com um exemplo.

Imagine que eu tivesse condições de prever o futuro. Bom, eu poderia prever as dezenas da loto, mas como não me interesso por dinheiro, prevejo que no dia 31 de dezembro de 2009 o irmão estará usando uma camisa rosa com margaridas amarelas enormes. O irmão não sabe disso, então no dia 31 pela manhã abre o guarda-roupa e vê camisas azuis, amarelas, brancas, xadrez, listradas, pretas... mas nenhuma lhe apetece. Então vê, lá no fundo, uma camisa rosa com margaridas amarelas e diz: é essa!

Me responda, em que sua liberdade de escolha foi violada? Em nada. Quando rirem do irmão na festa, poderá dizer "eu uso a roupa que eu quiser". Por outro lado, o fato de eu ter previsto que o irmão usaria tal camisa, se eu tivesse onisciência, tornaria certa a escolha.

O que seria fatalismo: seria o irmão querer vestir uma camisa azul e ser forçado, por forças impessoais, a usar camisa rosa com margaridas.

O que eu quero dizer é que Deus determina todas as coisas com certeza infalível, porém de modo que a liberdade humana não é violada.

Então, eu creio no livre-arbítrio? Depende o que se quer dizer por livre-arbítrio. A maioria dos que o defendem nem sabem defini-lo. A propósito: o irmão poderia nos dar sua definição para livre-arbítrio?

Em Cristo,

Clóvis”.
“Caro irmão Clóvis, a paz do Senhor.

Jamais passará por minha cabeça uma idéia pejorativa em relação ao amado irmão e aos seus comentários neste meu humilde espaço.

Respondendo a sua ilustre pergunta, profiro a minha sucinta resposta:

Dividindo as palavras temos:

LIVRE = liberdade, sem estar preso a algo (seja vontade, pessoa, lugar, instituição, etc.);

ARBÍTRIO = é capacidade de arbitrar, tomar decisões, escolher, fazer julgamentos.

Logo livre-arbítrio seria a faculdade da qual o homem goza de poder tomar decisões livremente, sem estar preso a uma determinada vontade e/ou circunstância.

E. g.: Quando um homem é levado a sacar seu dinheiro de um caixa eletrônico de um banco e entregá-lo a um bandido que está com uma arma de fogo apontada para sua cabeça, ele não deixou de usar de sua livre escolha para digitar sua senha e sacar o dinheiro, mesmo que ele tenha sido coagido para isto. Ele ainda tinha a faculdade de não ceder ao ladrão e assumir as conseqüências que resultariam desta sua escolha. Aí pergunto: Deus sabia qual escolha a vítima iria tomar? Claro que sim! Mas isto não quer dizer, em hipótese alguma, que Deus DETERMINOU que assim ele o procedesse. Deus tem a certeza de quem irá se salvar ou não, isto é uma conseqüência lógica da sua onisciência! Agora o fato dEle saber não quer dizer que Ele quis. Usando o exemplo do amado: você sabia que “eu” iria usar uma camisa horrível (risos), e sabia que eu iria ser motivo de chacotas, então eu pergunto: você queria que eu usasse esta camisa que iria resultar em um mal para mim? Como o amado é filho de Deus e tem o mesmo caráter dEle, além de querer sempre o meu bem, a resposta é um não! E o que concluímos? Concluímos que você sabia qual escolha eu iria tomar, mas não queria que eu tomasse tal escolha (1 Tm 2:4; Tt 2:11; 2 Pe 3:9), pois seria um mal para mim, mas mesmo assim por você conhecer o futuro, tinha a plena certeza que eu iria tomar uma decisão que resultaria em um mal para mim!

Deus SABE, CERTAMENTE, INFALIVELMENTE, qual decisão iremos tomar em relação à salvação, mas não DETERMINOU FORÇOSAMENTE qual decisão teremos que tomar!

Tomando a liberdade de re-modular uma frase sua, creio que sua frase “O que eu quero dizer é que Deus determina todas as coisas com certeza infalível, porém de modo que a liberdade humana não é violada” ficaria mais bíblica se fosse escrita assim: “O que eu quero dizer é que Deus CONHECE todas as coisas com certeza infalível, de modo que a liberdade humana não é violada”.

Dt 30:15-19.

Forte abraço.

Anchieta Campos”.
“Amado,

Muito obrigado pela sua resposta. Ajudará muito na compreensão de seus textos em que o irmão se refere ao livre-arbítrio.

Que Deus o abençoe sempre.

Em Cristo,

Clóvis”.

“Prezado irmão Clóvis, a paz do Senhor.

Nossas trocas de idéias neste artigo foram bastante proveitosas para mim. Além de ter aprendido mais com o irmão, fora possível estreitar nossos laços de amizade e fraternidade.

Que Deus o abençoe e use cada vez mais. Amém.

Forte abraço!

Anchieta Campos”.
Continua.

Anchieta Campos

3 comentários:

Clebison disse...

Paz seja com o irmão..

Algo me suscita dúvida em sua declaração "em hipótese alguma, que Deus DETERMINOU que assim ele o procedesse", pois se Deus não DETERMINOU soa como se Ele não estivesse no controle ou domínio - no governo, se partirmos para a semântica da palavra CONTROLE (e.g. Is 9.6,7).
Também gostaria de saber, biblicamente, até onde vai a vontade humana sem a intervenção divina,não do que ele pode fazer de si e para si, mas do que pode fazer de si para Deus (I Pe 4.2,3)?

Certo de que podes tirar-me estas dúvidas

Em Cristo
'Santos', PE

Clebison disse...

Paz seja com o irmão!

Mais uma coisa, minha ultima questão parte pelo fato de ainda não ter ouvido alguém falar sobre o assunto, apenas vejo as pessoas acusando ou defendendo seja o livre-arbítrio, seja ou a predestinação (incondicional) defendida pelos calvinistas...

Sem mais por agora
Em Cristo Jesus
'Santos', PE

Anchieta Campos disse...

Caro irmão Clebison, a paz do Senhor.

Primeiramente desculpas pelo imenso atraso em responder aos seus comentários.

Em relação a sua primeira dúvida, creio que ela se encontra perfeitamente respondida nos três artigos deste debate. O domínio e o governo de Deus são verdadeiramente absolutos, e foi Ele mesmo que escolheu dar a faculdade de escolha ao homem em relação aos seus atos e decisões em geral.

Em relação a sua segunda inquirição, a "vontade de Deus" que Pedro fala se refere aos padrões morais e éticos que o Senhor estabeleceu para nós. A vontade humana em seguir a Deus é livre, mas os padrões, caso ele decida seguir, já estão pré-estabelecidos pelo Eterno (cf. Ef 2:10).

Espero poder ter ajudado.

Forte abraço.

Anchieta Campos