sexta-feira, 6 de junho de 2008

E os que nunca ouviram o testemunho do Evangelho?

Aqueles que nunca ouviram o Evangelho serão salvos? Esta é uma pergunta que sempre é feita aos crentes, e muitas vezes ficam devendo uma resposta satisfatória. É bem verdade que tratar deste assunto é algo no mínimo delicado, não deixando realmente de ser um tanto quanto complexo, principalmente para com aqueles que não tem o conhecimento espiritual revelado da Palavra de Deus.

Para responder a esta pergunta o crente deve, como em todas as demais, procurar resposta na Bíblia Sagrada, pois sendo ela a perfeita Palavra de Deus aos homens, com certeza a mesma trará uma resposta que satisfará a cede dos que buscam esclarecimentos. Esta produção, portanto, não terá como norte a pura filosofia e emoção humana, mas sim o que a própria Palavra de Deus nos diz sobre o assunto.

Primeiramente cabe destacar que Deus criou o homem reto, justo, sendo que fora o próprio homem que se desviou dos caminhos puros do seu Criador (cf. Ec 7:29). Cite-se também que Deus sempre buscou ter um relacionamento mais próximo com o homem, mesmo depois do pecado, mas o homem é que tende a fugir da presença e da voz de Deus (cf. Gn 3:8,9). Percebemos que o homem originariamente tinha uma plena comunhão com o seu Criador, tendo sido criado puro, reto e justo, sendo que sua própria vontade o fez se distanciar dos caminhos de Deus. Este fato, por si só, já torna todo e qualquer homem culpado perante Deus, pois sempre fora o homem que buscou se afastar de Deus, além do fato de que originariamente a raça humana fora criada com uma plena comunhão e proximidade com Deus, sendo nós mesmos os responsáveis por este distanciamento do Criador.

Quando Adão pecou, ocorreu a queda do homem, onde a imagem e semelhança de Deus em nós fora arranhada, passando nossa natureza a tender para o erro e o pecado, sendo essa natureza pecaminosa transmitida a todos os descendentes adâmicos; é o que nos mostra o apóstolo Paulo em Rm 5:12 “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram”, e também em Rm 3:9-12,23 “Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado; Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Paulo mostra claramente que todos os homens pecaram, e isto é comprovado pelo fato de todo homem morrer, tendo em vista que o salário do pecado é a morte (cf. Rm 6:23). Portanto, mesmo aqueles que sempre viveram isolados também pecaram contra Deus em algum momento de suas vidas, fazendo algo que contrariasse a vontade de Deus, mesmo que eles não tenham tido o conhecimento direto da Palavra de Deus; com certeza eles cometeram algo que facilmente seria julgado como errado por qualquer pessoa de bom senso e de qualquer cultura, tornando-os assim pecadores e necessitados da graça de Deus, pois o homem não pode oferecer nada a Deus em recompensa por sua alma (Mt 16:26b), tendo em vista ser Deus o dono de tudo que há na terra (Sl 24:1; 89:11; Ag 2:8) e a perfeição da santidade (Hb 7:26; Ap 4:8).

Pela Bíblia nós também aprendemos que fora do nome de Jesus e sem fé neste Nome é impossível o homem obter o perdão dos pecados e, conseqüentemente, alcançar a salvação eterna, conforme bem disciplina Jo 14:6 “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” e At 4:12 “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Não há outro que leve o homem a salvação senão Jesus. Foi Cristo que morreu e pagou o justo preço pelos pecados de toda a humanidade. Portanto, sem Cristo o homem está fadado à condenação eterna. Excetua-se nesta regra as crianças que ainda não atingiram a noção do certo e do errado (Is 7:15,16; Rm 9:11; Mt 21:16), bem como os loucos de nascença (Is 35:8).

Mas a pergunta não deixa calar: mas se a pessoa nunca ouviu falar de Jesus, ela será condenada mesmo assim? Não seria Deus injusto?

Vamos analisar alguns textos bíblicos que falam profundamente sobre o assunto. Os dois textos se encontram na carta de Paulo aos romanos.

“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm” Rm 1:18-25,28. Este texto responde, com louvor, a questão aqui exposta, sendo necessário apenas poucas palavras para ajudar no entendimento. Paulo mostra que a natureza dá a plena condição do homem reconhecer a existência e o cuidado de um Ser Criador que está acima da natureza e de tudo, não possibilitando a inocência do homem que atribui à criação a criação, ou seja, adoram como divinos e criadores a natureza ou os astros do céu. Paulo também mostra que a idolatria para com animais e o com o próprio homem já torna o homem culpado perante Deus, pois foge à lógica natural apresentada pelo grandioso e complexo sistema de vida natural, bem como pelo gigantesco universo. O apóstolo encerra afirmando que, pelo homem não ter tido a vontade e o cuidado de buscar a este Ser Criador de toda a complexa e grandiosa natureza e universo, Deus o abandonou em seus próprios desejos e vaidades filosóficas, ou seja, obedeceu a vontade do homem de não querer se relacionar com Ele, se afastando assim do mesmo.

O segundo texto é: “O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade; Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os Rm 2:6-15. Este texto também trata com louvor do tema em análise, não cabendo muito o que comentar. Paulo mostra que Deus julgará cada um segundo o seu proceder, abordando vários aspectos daquilo que leva a salvação e daquilo que leva a condenação, além de destacar que para Deus não há acepção alguma de pessoas, ou seja, para Deus todos são igualmente amáveis e preciosos, tanto índios, europeus, americanos ou qualquer outra etnia. Dentro deste texto há uma afirmação muito importante: “todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados”; aqui Paulo diz que não importa se a pessoa teve ou não conhecimento da lei (Palavra de Deus; Antigo Testamento), mas se a mesma vier a pecar contra os santos padrões de Deus, será condenada. Destaque-se que os que pecaram sem lei não serão julgados pela mesma, mas pela “lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os”, pois “os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei”. Paulo nos mostra que os que nunca ouviram da Palavra de Deus poderão sim alcançar a salvação, não sendo os mesmos julgados da mesma forma dos que conhecem a lei, mas sendo julgados pela lei que está em seus corações, e esta lei está em conformidade com o padrão de justiça divina, pois somos filhos de Deus e herdamos o seu senso de justiça; é um fato que todo homem tem a noção do que é certo ou errado (não me refiro aqui ao pleno conhecimento da Palavra de Deus, mas aos padrões universais de justiça e lógica divina), mas infelizmente o que nós vemos é que o meio acaba por influenciar e ser mais forte na vida de muitas pessoas, levando-as a aceitarem e se conformarem com aquilo que lhes é imposto. Lembremo-nos de Jó, que provavelmente não era judeu e não teve conhecimento algum do judaísmo, mas mesmo assim nada o impediu de conhecer a Deus e de seguir uma vida justa diante do Senhor, tendo tido o próprio testemunho do Criador.

Portanto, o homem que nunca ouviu falar de Jesus pode sim ser alvo da graça divina do sacrifício de Cristo, obtendo assim o perdão dos seus pecados e a salvação eterna, observando-se o que já fora exposto acima.

Estes dois textos da carta de Paulo aos romanos já são mais do que suficientes para demonstrar o que a Bíblia diz sobre o assunto. Seguindo a mesma linha, o salmista assim se expressou: “OS céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz” Sl 19:1-3. O salmista chega a dizer que “não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz”, em uma clara alusão que tudo que envolve o homem aponta e testifica do Deus Criador. Cite-se ainda Lv 5:17 que diz: “E, se alguma pessoa pecar, e fizer, contra algum dos mandamentos do SENHOR, aquilo que não se deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo será ela culpada, e levará a sua iniqüidade”. O não conhecimento da Palavra não isenta completamente de culpa o homem que a desconhece, sendo o mesmo responsável pela sua iniqüidade, mas, como já fora exposto, o mesmo não será julgado do mesmo modo daqueles que conheceram a Palavra de Deus.

As palavras de Jesus em Lc 12:47,48 podem ser tidas como a síntese de todo este embate: “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. Aqui Jesus deixa claro, como já fora exposto, que o não conhecimento da Palavra Escrita de Deus não isenta totalmente o homem de sua responsabilidade perante Deus. Jesus apenas enfatiza aqui a justa justiça de Deus, onde nem todos sofrerão eternamente o mesmo peso, mas aqueles que fizeram por onde sofrer mais, padecerão mais dor. Jesus afirma, em suma, que aquele que teve o conhecimento do Evangelho e não o aceitou terá um julgamento mais rigoroso do que aqueles que nunca ouviram a Palavra; é o que Paulo fala na referência já supra citada “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados”. Ver ainda Mt 10:15; 23:14; Mc 6:11; Lc 10:13,14.

Devemos lembrar que Deus é justo, e que Ele julgará com justiça a todos os homens, fato este que já nos deixa tranqüilos quanto a possibilidade de haver alguma injustiça por parte de Deus. Lembrando que a justiça de Deus não é a nossa justiça (Is 55:8,9).

“Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” Atos 17:31.

Por fim, vale lembrar que a vontade de Deus é que todos os homens venham a se arrepender, alcançando o conhecimento da verdade e a salvação (2 Pe 3:9; 2 Tm 2:4), não excetuando-se nenhuma tribo ou nação (Ap 5:9), dando a entender que Deus proverá o anúncio do Evangelho para todos (Mt 24:14; Lc 3:6), principalmente para aqueles que Ele sabe que aceitarão a oferta de salvação (Jo 10:26,27), pois o Senhor conhece o coração e a intenção dos homens (Jr 1:5; 1 Cr 28:9; 1 Tm 4:10).

Portanto, como bem ficou exposto, o homem que nunca ouviu falar de Jesus pode vim sim a ser salvo pela graça de Deus, desde que ele dê espaço a lei natural que está escrita em seu coração, incluindo aí o reconhecimento de um Ser Divino Criador e Sustentador de todo o universo, bem como a não adoração da natureza ou do próprio homem, além do cumprimento da vontade moral de Deus para com o homem.

Anchieta Campos

3 comentários:

Talvany Luis de Barros disse...

O conhecimento natural de Deus e a boa conduta quanto ao que de Deus foi estraído desse conhecimento não o justifica diante de Deus. Assim, todos os homens são condenados ao inferno pelos pecado da raça humana e os pecado que individualmente cometemos, a não ser que Jesus Cristo intervenha e nos justifique!

César disse...

Olá Anchieta!

Gostei demais dessa postagem. Concordo plenamente contigo! Além disso quero acrescentar que quando nós cristãos dizemos que pessoas morrem sem a salvação porque supostamente não ouviram do evangelho, estamos afirmando nossa PRESUNÇÃO DE ONISCIÊNCIA. O mundo teve do ano 50.000 A.C. até nossos dias uma média de 107.000.000.000 (cento e sete bilhões de habitantes), ou seja, 16 vezes mais gente que a atual população. Precisaríamos conhecer toda a história humana para poder dizer que as pessoas viveram sem conhcer a Cristo pelo menos na luz que tiveram.
O Grande Dia em que Deus revelará os segredos do coração humano trará muitas surpresas para todos nós!

César disse...

Olá Anchieta!

Gostei demais dessa postagem. Concordo plenamente contigo! Além disso quero acrescentar que quando nós cristãos dizemos que pessoas morrem sem a salvação porque supostamente não ouviram do evangelho, estamos afirmando nossa PRESUNÇÃO DE ONISCIÊNCIA. O mundo teve do ano 50.000 A.C. até nossos dias uma média de 107.000.000.000 (cento e sete bilhões de habitantes), ou seja, 16 vezes mais gente que a atual população. Precisaríamos conhecer toda a história humana para poder dizer que as pessoas viveram sem conhcer a Cristo pelo menos na luz que tiveram.
O Grande Dia em que Deus revelará os segredos do coração humano trará muitas surpresas para todos nós!