domingo, 19 de abril de 2009

A necessidade do pensamento crítico

“Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” At 17:11.

Nós, seres humanos, somos verdadeiramente o destaque da terra. O título costumeiramente a nós atribuído de “Coroa da Criação”, é uma expressão totalmente verossímil. A nossa inteligência ímpar (verdadeira herança divina) nos diferencia de todas as demais criaturas. Enfim, fomos dotados com nobres atributos e virtudes, o que, por conseguinte, nos reveste de uma responsabilidade diretamente proporcional a nossa capacidade natural.

Pois bem, indo direto ao assunto e aplicação prática para nós cristãos, digo sem medo que Deus não nos deu essa “massa cinzenta” apenas para enfeite, mas sim para ser usada! Se Deus nos deu inteligência, é para usá-la! Se temos capacidade de pensar, é para pensarmos! Se temos capacidade de analisarmos o que nos é posto, devemos analisar! Se temos a capacidade de examinar tudo e reter apenas o bem, devemos fazer uso desta nobre faculdade! Se temos a Bíblia em nossas mãos, e a inteligência e capacidade de pensarmos e ver se o que é pregado está de acordo com ela ou não, é dever individual se fazer uso desta mui excelente qualidade!

A velha tradição e cultura de recebermos e aceitarmos tudo que nos é apresentado, sem o menor exame crítico, é algo que vai totalmente de encontro com o que Deus quis para o homem. Costumo dizer que mesmo nós sendo criaturas emotivas, influenciáveis pelo meio, é plenamente possível realizarmos uma análise pura, imparcial, e totalmente cativa para com a Palavra de Deus, a qual é a Mestra de todo o pensamento humano, haja vista sua comprovada elevação cultural em todos os aspectos, que transpõe tempo, gerações e culturas regionais, atestado objetivo de sua origem divina.

A passagem bíblica posta como texto áureo deste artigo, é sem dúvidas uma das mais conhecidas e “batidas” no meio ortodoxo, e não poderia ser diferente. Pessoalmente a tenho como uma das passagens mais lindas da bíblia, juntamente com 1 Co 15:50-58. Creio que Paulo deve ter ficado muito alegre ao ver a fé racional e crítica da igreja em Beréia, marcas essenciais de uma fé verdadeiramente bíblica. Mas, infelizmente, nem sempre foi assim. É bem verdade que de um tempo desse para cá a situação deu uma melhorada considerável, e a Reforma Protestante fora, sem sombra de dúvidas, um movimento que resgatou muito do nobre “espírito dos bereanos” para a Igreja Cristã; contudo, ainda estamos distantes do padrão de crítica que Deus espera de nós. As “grandes ondas” doutrinárias e modistas ainda arrastam multidões pelas igrejas do Brasil (e não somente aqui, com certeza), com uma facilidade tamanha que é de deixar qualquer um perplexo. Não há resistência alguma por parte dessa “grande multidão” evangélica; não há nenhuma luta individual onde o ortodoxo ao menos suspire, sendo imediatamente tragado pelo modismo/heresia, o qual é recebido abertamente, sem nenhuma análise crítica à luz da Palavra de Deus.

Mas, assim como o é em relação aos equívocos do nosso tempo trabalhoso, o é também em relação aos antigos equívocos evangélicos. Muitas tradições sem pé nem cabeça, herdadas muitas das vezes nem se sabe de quem; algumas herdadas do catolicismo romano (mantidas pela reforma) e adaptadas pelo tempo, outras herdadas de nossos fundadores denominacionais. Temos também “o pacote” de algumas práticas que eram normais entre os reformadores, e que hoje são martirizadas por boa parte da igreja evangélica, e faça-se todas as combinações de alterações possíveis (de onde foram abolidas, criadas, etc.) da nossa liturgia, fé prática e declaração doutrinária.

E o motivo de tudo isto? Tem dois lados, o bom e o mal. O bom é que às vezes estas alterações são frutos de um pensamento crítico, bíblico, conforme o nobre espírito bereano, fazendo uso da nossa nobre faculdade de pensar, o que é o ideal, ou seja, mudar quando se tem que mudar, e manter quando se tem que manter. O lado mal, por conseguinte, é que muitas dessas mutações no seio protestante (como um todo) são frutos não de uma análise crítica-bíblica, pensada, mas sim de uma absorção natural e sem resistência alguma do que nos apresentam, sejam as heranças tradicionais/culturais, sejam os modismos hodiernos.

A causa já fora exposta, bem como a solução. Em suma, enquanto não houver uma conscientização mais ampla e eficaz da grande massa evangélica, com um trabalho voltado para se criar e estabelecer uma cultura teológica (e não religiosa) em nossos membros, o seguimento evangélico estará fadado a continuar lhe dando com os problemas e dificuldades que há tempos vem padecendo. Vejo em nossa grandiosa CPAD (através de uma CGADB mais atuante e atenta, verdadeiramente eficaz) um poderoso veículo para essa essencial obra (notadamente no meio pentecostal), podendo fazer muito mais do que faz atualmente, onde o alcance e eficácia do seu rico acervo teológico estão bastante limitados, se restringindo praticamente às Lições da Escola Dominical, as quais, por si só, não conseguem obrar milagres.

Por fim, o que um simples blogueiro que nem eu pode fazer, é continuar postando seus humildes artigos e estudos, na esperança e oração de que os mesmos sejam, de alguma maneira, proveitosos para quem o possa ser.

Anchieta Campos

3 comentários:

Anônimo disse...

Irmão Anchieta,

Infelizmente para nós pentecostais, somo por demais tendentes a separar mente e coração, Palavra e Poder, doutrina e prática. Vivemos tentando fazer uma escolha entre uma coisa e outra, quando Deus nos abençoou com ambas!

Por isso, acho bastante útil a leitura, por todos os pentecostais, do livro Pentecostal de coração e mente, que aponta as raízes e a solução para o antiintelectalismo que vigora em nosso meio.

Em Cristo,

Clóvis

Anchieta Campos disse...

Caro irmão Clóvis, a paz do Senhor.

Realmente os pentecostais (ortodoxos) foram bastante agraciados por Deus. Pois enquanto os mesmos tem em seus sangues o fervor da fé, ao mesmo tempo se tem essa fé regrada pela pura e sistemática Palavra de Deus. Isto é realmente glorioso!

Quanto ao livro indicado, já o tinha visto realmente em seu blog. Com a graça de Deus irei lê-lo em breve.

Forte abraço.

Anchieta Campos

SIlva disse...

A paz do senhor irmão
Concordo plenamente.
A própria palavra diz em Oséia 4.6: O meu povo erra porque não conhece a minha palavra..
É necessário tomarmos conhecimento da palavra de Deus,como se fosse nosso estatuto,tudo está contido na palavra,e Deus em sua enfinita sabedoria deixou a palavra imutavel,e o espirito santo para nos guiar, só buscando conhecimento na palavra,não iremos cair em doutrinas erradas