quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Compreendendo a Santa Ceia

O culto onde se celebra a Santa Ceia do Senhor é, sem sombra de dúvidas, o culto que se reveste de maior importância para o crente em Jesus, não que os outros cultos não tenham a sua importância também, é claro.

Aqui em minha igreja o culto é realizado todo último domingo de cada mês, sempre iniciando a liturgia da parte dedicada à celebração da Ceia com a tradicional leitura de 1 Co 11:23-34. Mas, será mesmo que o povo de Deus compreende a Ceia do Senhor de um modo realmente bíblico e puro? É justamente este o objetivo deste sucinto artigo, qual seja, esclarecer, de um modo bíblico, o sentido da Santa Ceia do Senhor e as suas particularidades.

A Ceia do Senhor é descrita também, além da passagem de 1 Coríntios, em Mt 26:26-30; Mc 14:22-26 e Lc 22:14-23, nos chamados evangelhos sinóticos.

A Santa Ceia, antes de mais nada, é um memorial (grego ἀνάµνησιν, trans. anamnesis) ao Senhor Jesus, mais especificamente ao seu sacrifício vicário na cruz do Calvário para nos salvar. Este memorial é uma instituição do próprio Cristo (Lc 22:19; 1 Co 11:24,25). Portanto, um elemento essencial que deve se fazer presente no cristão quando da celebração da Santa Ceia é a recordação do pesado e doloroso sacrifício de Cristo em nosso favor. Apenas este ato da recordação da morte de Cristo para redimir a toda humanidade já deve ser o suficiente para que o crente se conscientize da importância do momento da Ceia, principalmente da importância da morte do Senhor, devendo haver um constrangimento em nosso ser por tal dedução, haja vista que “porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram” 2 Co 5:14. Assim sendo, apenas o ato memorial já deve ser motivo para uma avaliação de nossas vidas (1 Co 11:28), reconhecendo o nosso estado caído (Rm 3:23), nossa impossibilidade de nos salvarmos a nós mesmos (Ef 2:8,9), bem como reconhecer que a morte de Cristo é o único meio de alcançarmos o perdão pelos nossos pecados (Hb 5:9; 9:12).

Outro aspecto da Santa Ceia diz respeito à comunhão (grego κοινωνία, trans. koinonia) que a mesma representa, tanto de nós para com Cristo, simbolizada no ato de comer do pão e beber do cálice, os quais representam, respectivamente, o corpo e o sangue de Jesus (1 Co 10:16; 11:27), bem como comunhão entre nós, membros do Corpo de Cristo (At 2:42; 1 Co 10:17; 1 Jo 1:7). Portanto, no momento da Santa Ceia do Senhor devemos estar conscientes que estamos nos apropriando do pão que representa o corpo de Cristo e do cálice que representa o seu sangue, o que significa que afirmamos estar em comunhão com Cristo, bem como com os demais membros do Corpo. E agora é que entra os ensinos de Paulo aos crentes de Corinto no capítulo 11 de sua primeira carta.

Na igreja de corinto estava ocorrendo uma verdadeira bagunça no momento da Ceia, e o pior, não estava havendo compreensão (discernimento) de uma parte daquela igreja sobre o real significado da Ceia do Senhor. A repreensão foi pesada mesmo! Os crentes de Corinto para pior se juntavam na ocasião da Ceia (v. 17), ocorriam dissensões (grego trans. dichostasia) e heresias (grego αιρεσις, trans. hairesis) entre eles (vs. 18,19), sendo que, verdadeiramente, haviam perdido o sentido central da reunião da Ceia do Senhor (v. 20).

Paulo fez inicialmente um relato da situação desastrosa que era a Ceia em Corinto (vs. 17-22), onde, além das faltas acima já descritas, estava ocorrendo um verdadeiro fracionamento da igreja em grupos durante a Ceia do Senhor, notadamente entre os ricos e os pobres (v. 22), bem como uma verdadeira “celebração” a parte de cada grupo (v. 21), todos estes fatos que contrariam o sentido puro de comunhão apresentado pela Santa Ceia, como acima exposto. Em seguida Paulo relata como fora instituída a Santa Ceia, pelo próprio Cristo (vs. 23-25), seu significado imediato (v. 26) e a consequência de participar da mesma de um modo indigno (v. 27). Mas, o que seria participar da Ceia de um modo indigno? O que realmente leva a Ceia a ser um fator de possível condenação para um membro da Eclésia?

Primeiramente cabe destacar que a própria pessoa é que é capaz de realizar este exame próprio/individual (cf. vs. 28a,31). Esta característica mostra o fator subjetivo como preponderante no nosso exame pré-ceia, e não o objetivo. Paulo diz que o “que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do SENHOR v. 29, logo a condenação não está em participar da Ceia após ter cometido pecados essencialmente externos (objetivos), e/ou carnais, até porque a situação de pecado em si está sempre presente em todos (1 Re 8:46; Ec 7:20), o que, realmente, se este fosse o fator primário de condenação, logo nenhum homem poderia participar da Ceia. Mas não é o fator do pecado objetivo (externo) que faz com que a Ceia seja um ato de condenação para o participante, mas sim, como já adiantamos, o fator subjetivo, de discernimento e compreensão do real significado e importância da Ceia para os crentes em Jesus. E o que é não discernir o corpo do Senhor que Paulo falou no versículo 29? É justamente o que a igreja de Corinto estava fazendo, ou seja, estavam fazendo da Ceia um agente promovedor de divisões no Corpo (v. 18), onde uns ficavam com fome, e outros embriagavam-se (v. 21), transformando a Ceia do Senhor em uma refeição qualquer como se faz em casa, com o fim não de relembrar a morte do Senhor Jesus e a importância/necessidade do seu sacrifício para nos salvar, mas sim para matar a fome física (cf. vs.22,34a).

Em suma, comer e beber indignamente é quando se retira o sentido especial/espiritual do ato, dando uma conotação puramente material e religiosa, bem como não prestar a reverência que a Ceia, por tudo o que ela significa, faz jus por merecer (cf. vs. 33,34). É claro que os pecados externos/objetivos devem ser também reconhecidos (quando praticados) e censurados por nós antes da Ceia, pois como bem falou o Senhor Jesus, o que procede do nosso coração é que contamina o homem (Mt 15:18), “Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem” Mc 7:21-23, e não se pode participar da Ceia do Senhor (que representa comunhão com Cristo) com um coração impuro e contaminado, não arrependido e não contristado (Sl 51:17); isto seria incidir no que está escrito em Hb 10:26-29.

Por fim, o regramento geral é que o crente participe da Ceia do Senhor (Mt 26:26,27; Mc 14:22,23; Lc 22:17; 1 Co 11:24,28), realizando-se antes o exame próprio, tendo a ciência do que realmente está fazendo, do que representa a Ceia e a sua importância, bem como reconhecendo o significado e valor da morte de Cristo em nosso favor; confessando os pecados cometidos, com um coração sincero em rejeitá-los e vencê-los, tanto os cometidos unicamente contra Deus, bem como os cometidos também em relação aos nossos irmãos.

Anchieta Campos

5 comentários:

Marcelo Oliveira disse...

A Paz do Senhor! Irmão Anchieta!

Postagem bastante relevante,pois a santa Ceia do Senhor deve ser sim celebrada sempre como memorial de gratidão ao nosso Senhor Jesus com nossa máxima reverência. E como os irmãos de coríntios em nossos dias muitos não estão dando a sua devida importância e precisando igualmente serem repreendidos.

Que o Senhor continue te abençoando e dando vitória! (1 Co 15.58)

Anchieta Campos disse...

Caro irmão Marcelo Oliveira, a paz do Senhor.

Muito obrigado por sua valiosa visita neste meu símplice espaço.

Realmente é inegável o valor que a Santa Ceia do Senhor tem para a Igreja. Sua importância e significado exigem a máxima compreensão e reverência a esta celebração.

Infelizmente é verdade que muitos hoje em dia estão em falta no que diz respeito aos fatores que qualificam a Santa Ceia como realmente bíblica. Oremos e mostremos as razões bíblicas!

Forte abraço.

Anchieta Campos

Anônimo disse...

Olá irmão Anchieta Campos,


A Paz de Cristo esteja sempre convosco!


É muito triste que sempre que os protestantes tentam mudar o sentido real da Santa Ceia, dificilmente fazem referências ao Capítulo 6 de São João, é o que sempre digo em várias refutações que faço diariamente aos irmãos separados protestantes.

Retire o Capítulo 6 de São João de suas bíblias, pois não tem significado algum manter tal capítulo em suas bíblias.

Vou citar um só versículo:

São João6:51
"Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo."

Que Deus o abençoe

Anônimo disse...

Olá. Boa tarde, a Paz do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo! Estamos iniciando um trabalho de evangelismo através do servidor blogger. Gostaríamos de contar com sua ajuda na divulgação de nosso trabalho. http://evangelismobrasil.blogspot.com

Caso aceitem nossa proposta nos comuniquem que faremos o mesmo quanto ao de vocês. Desde já agradecemos e desejamos uma excelente tarde de Domingo na graça do nosso Deus e que Ele continue te abençoando hoje e sempre. Abraço

Atenciosamente: Leandro Sciolpi e Weverton Campos.

Anchieta Campos disse...

Caro amigo romanista Anônimo, saudações fraternas.

Seu pensamento já se encontra esclarecido e refutado em meu artigo "A festa do Corpus Christi", que pode ser lido no link http://anchietacampos.blogspot.com/2008/05/festa-do-corpus-christi.html

Por fim, sua frase "irmãos separados protestantes" é bem engraçada mesmo!

Que Deus te abençoe e ilumine grandemente, não com filosofias ou tradições humanas, mas com a Santa Palavra Escrita de Deus. Amém.

Anchieta Campos