Ver a parte 01 em Mais debate sobre Livre Arbítrio X Predestinação Incondicional.
“Caro Anchieta,
Obrigado pelo seu retorno, apenas uma correção não sou calvinista nem arminiano, estou a estudar as duas vertentes mais ainda não tenho uma posição clara sobre o tema embora tendo a teologia reformada, inclusive não gosto do termo calvinista, prefiro o termo cristão reformado, até por esse motivo encontrei o seu blog e lhe contatei para esclarecer duvidas e discutir o tema. Será de grande valia pois ultimamente tomei uma "overdose" de teologia reformada e vai ser otimo ver o "outro lado".
Com Certeza a Assembleia de Deus é uma boa igreja, eu freqüentei durante 2 anos embora não concorde com algumas doutrinas e acho uma igreja muito material.
Vamos la: (Suas Citações estarão em itálico ok ?)
"O texto de Romanos 7 trata sobre a ineficácia da lei salvar ao homem devido a mesma se encontrar enferma (ineficaz em seu propósito de salvar) por causa da carne (Rm 8:3), devido a impossibilidade humana de a cumprir por completo, e sendo assim"
irmão Anchieta a lei não é inferma (Rom 7:12) segundo Paulo a lei é santa e boa ( os mandamentos de Deus não podem ser ruins e injustos) o irmão mesmo diz que a lei é ineficaz para salvar o homem, a lei também não ineficaz em salvar o Homem e sim o homem e ineficaz de cumprir a lei por isso Jesus veio cumprir a lei o que era impossivel para o homem natural por que ?
Por causa da raiz do pecado em que esta em nosso ser.( SAL51.5, SAL58.3, GEN6.5, GEN8.21, ECL9.3, MAR7.21, ROM3.9-12, JÓ14.4, JER13.23)
Vemos que somos espiritualmente mortos irmão Anchieta (Romanos 3.10 a 18, EFE2.1)
Perceba que Paulo em nenhum momento, bem como toda a Bíblia, afirma que o estado de “morte” espiritual torna o homem inapto de se dirigir a Deus (Rm 3:10)
Agora se somos justificados pela fé, estando mortos espiritualmente, não podemos “produzir” nossa fé, a fé é dom de Deus (Efe 2:8 ) onde esta nosso livre arbítrio ? Se a salvação esta “ em nossas mãos” qual o mérito de Deus nisso ? Deus é soberano ele tem misericórdia de quem quer (ROM 9:15) Por isso os calvinistas dizem que não temos o Livre Arbítrio porque o espírito Santo abre nossos corações para podermos crer e receber a palavra.
Veja o exemplo:
E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. (Atos 16:14) Note bem caro Anchieta, que Deus usou abriu o coração de Lídia para o Evangelho entrasse em seu coração.
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” Mateus 23: 37. O querer da salvação de Israel por parte de Deus foi impedido pelo livre arbítrio do povo judeu? Onde está o querer divino (que segundo vocês é incondicional e absoluto para a salvação) determinante para salvação sobre o povo de Israel?
Irmão Anchieta, Paulo explica isso em Romanos 9: 30-33.
Paulo Deixa Claro Aqui que Israel é responsavel por sua rejeição.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido” 1 Co 13:8-12. Quando vier o que é perfeito e passarmos a ver face a face (e não mais haverá o que agora é conhecido em parte), não é uma clara alusão ao céu de glória?! Se for assim as línguas, profecias e a ciência apenas desaparecerão na glória?! Não é isso mesmo meu caro amigo tradicional?
Não sei se entendi seu questionamento aqui, mais se for o que estou imaginando deve se refereir aos dons de profecias e Línguas, Eu acredito que o dom de profecias e Línguas são doutrinas biblicas e estão ativos nos dias de hoje, porém em um idioma Humano conhecido (Atos 2: 7-11).
Veja que Todos esses "cidadãos" ouviram falar das grandezas de Deus em suas linguas nativas, como vejo em muitas igrejas por ai os membros em extase gritando silabas sem nexo como LILILI, Chama LaLa LAi, isso para mim é blasfêmia, como Paulo fala em I Cor 14: 19-33 o objetivo do dons de Linguas é falar das grandezas de Deus ao povo em sua lingua natal sem a necessidade de se estudar o idioma, por isso Paulo fala que quando ouver alguem falando em linguas que faça um de cada vez e que haja interprete.
Quanto a questão da profecia também acredito que esse dom esteja ativo nos dias de hoje porém da forma ordenada e que seja julgado se o profeta fala em nome de Deus, quantas profecias eu ouvi no meu tempo de pentecostal que nunca se cumpriram, eu vejo muita blasfemia nas igrejas pentecostais, principalmente nas NEO, mais fico feliz por ver que apesar de termos algumas divergencias, o irmão se dedica ao estudo da palavra para vosso engrandecimento diante de Deus, isso esta em falta hoje, fico por aqui para não me prolongar muito
ATT
Thiago”.
“Caro irmão Thiago, a Paz do Senhor!
Primeiramente peço desculpas pela demora para lhe responder. Ultimamente estou muito, mas muito ocupado mesmo.
Você realmente demonstra ser um crente temente e sincero em Cristo Jesus e em sua Palavra. Saiba que quem assim é sempre procura ler, pesquisar e estudar muito as coisas de Deus, ficando sempre sedento por estudar a Teologia Bíblica e Sistemática, digo isto por experiência própria e pelo o que já vi nestes mais de três anos de evangelho.
O importante é sabermos ser críticos daquilo que lemos, não críticos para procurar/caçar erros, mas críticos para comparar aquilo que nos ensinam com a Palavra de Deus escrita, nossa única fonte de doutrina e autoridade máxima em matéria de fé. Era isso o que os cristãos de Beréia faziam, eles examinavam “cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. Eles não procuravam o erro, mas sim a concordância, se esta não fosse achada, concluiriam que os ensinos eram contrários a Palavra de Deus. Foi assim que eu me desapeguei da crença na predestinação incondicional, a qual eu era um ferrenho defensor no início da minha fé (sempre fui da Assembléia de Deus), por causa que nos meus estudos os primeiros sites que tirei para ler e estudar eram páginas de orientação calvinista (me perdoe, mas não achei outro termo para designar a corrente teológica que a igreja presbiteriana segue), mas que ao ser questionado, e procurar respostas na Bíblia Sagrada, não as achei, e ao passar a pesquisar mais, e a ler os argumentadores da predestinação condicional, não vi outra alternativa qual fosse a aderir a esta corrente, a qual achei sem culpa teológica em meus estudos mais imparciais e maduros.
Realmente não devemos ser religiosos, mas sim espirituais (1 Co 2:14,15; Gl 6:1). Usamos os termos “protestante”, “reformado”, “evangélico” ou o tão martirizado pelo mundo, “crente”, não por sermos religiosos, mas por ser por estes termos que o mundo nos identifica, e negarmos estes termos seria o mesmo que estarmos negando nossa fé perante os ímpios.
Quanto a sua afirmação referente a ser a Assembléia de Deus uma igreja material, não concordo com ela. Digo isso embasado pela minha igreja local, pela organização eclesiástica da mesma e pelo trato da mesma para com a Palavra. Agora é evidente, como eu já havia exposto no e-mail anterior, que nada é perfeito, principalmente aonde o homem está no meio. Existem pastores e igrejas locais espirituais e materiais em todas as denominações evangélicas, e não é este fato que caracteriza nenhuma delas como errada ou herética, mas sim a sua confissão de fé, literaturas e práticas costumeiras.
Oro e torço, sinceramente, para que você venha a estar firmado e seguro cada dia mais nos ensinos absolutos e imutáveis da Bíblia Sagrada. Neste estágio você não terá grandes dificuldades para perceber quando algum movimento ou ensino contradiz ou não as Sagradas Escrituras.
Quanto ao seu primeiro comentário: verdadeiramente a lei estava enferma e não podia, em hipótese alguma, tornar o homem digno de salvação, como bem afirmou Paulo em Rm 8:3: “Porquanto o que era IMPOSSÍVEL à lei, visto como estava ENFERMA pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne”. A exegese aqui é bem simples: a lei NUNCA poderia salvar ao homem, primeiro pela razão do mesmo ser carnal e não conseguir em sua carne e desejos se abnegar de tudo e a cumprir perfeitamente (cf. Tg 2:10 e 3:2). Segundo: a lei não podia vivificar o homem nem o tornar justo, por isso que a justiça não foi por meio dela (cf. Gl 3:21). Ela chega a ser chamada de inútil e novamente de fraca (i.e. enferma) em Hb 7:18. Terceiro: mesmo a lei sendo cumprida em seus sacrifícios pelo pecado, a transgressão nunca deixou de habitar debaixo dela (cf. Hb 9:15), pela simples razão que a lei, mesmo sendo cumprida em seus sacrifícios pelo pecado, não tinha eficácia real e definitiva alguma (cf. Hb 10:1-4,11), diferente do EFICAZ e ÚNICO sacrifício realizado por Cristo (cf. Hb 9:25-28; 10:10,12,14).
Quando Paulo disse que a lei era santa, justa e boa, ele queria dizer que a mesma proviera de Deus (cf. Rm 7:22). Veja atentamente o que Paulo diz em Rm 7:7-13. Perceberá que a lei não é má nem pecado, mas a mesma apenas apontava o pecado do homem (Rm 5:13), sem poder solucioná-lo, em hipótese alguma (Gl 2:16; 3:11).
Em suma, a lei serviu para apontar para Cristo (Cl 2:17; Hb 10:1), apontar nossos erros (Gl 3:19), guardar os crentes do AT em Deus (Gl 3:23), revelar a santidade de Deus (Rm 7:12,22) e conduzir os judeus a Cristo (Gl 3:24), mas nunca ela teve como característica a eficiência em salvar o homem.
Perceba que a nossa salvação está no sacrifício de Cristo, o fato dEle ter cumprido a lei fora para que o mesmo fosse perfeito e para que a lei não tivesse mais poder para nos acusar (Rm 7:1-6; 8:1-4).
O amado irmão cita Rm 3:10-18 e Ef 2:1, provavelmente como defendendo que o homem em seu estado natural de pecado e desobediência, não pode, por si só, se dirigir a Deus, ou talvez, Lhe responder ao convite de salvação. Perceba que os versos 10-18 estão inseridos entre dois comentários sobre os judeus, mais especificamente sobre o mesmo nível de pecado e condenação que havia entre os judeus e os gentios. Em suma, Paulo usa os versos dos Salmos 14 e 53, além de usar outros termos e características, para reforçar a verdade de que todos pecaram (Rm 3:23). Perceba que tudo o que ocorre com o homem nos versos anteriores ao 18, é pela razão de não haver temor de Deus neles (cf. v 18). É isso o que o próprio Paulo explica em Ef 4:17-19,22-24: “E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente. Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; Os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez cometerem toda a impureza. Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; E vos renoveis no espírito da vossa mente; E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade”. Ver ainda 2 Co 7:1; Jó 28:28; Sl 76:7,8; 85:9; 103:11; 111:10; Dt 6:1,2. Como bem sintetiza Êx 14:31: “temeu o povo ao SENHOR e creu no SENHOR”. Além do mais, a passagem citada de Rm 3 não fala em lugar algum que essas pessoas estavam impossibilitadas de se voltarem para Deus, respondendo ao seu chamado. Esse ensino não se encontra em nenhuma parte da Bíblia.
Do mesmo modo em Ef 2:1, não vemos em parte alguma mostrando que os atuais crentes e antigos ímpios estavam impossibilitados de responder ao chamado divino, através do Espírito Santo. Os “mortos” do verso 1 não querem passar a idéia de uma morte aonde os sentidos fossem aniquilados. É o caso do já citado Filho Pródigo, o qual o irmão não me respondeu, bem como a exegese de Lc 13:48 e a citação de Rm 11:20-22. O que Paulo quis dizer em Efésios é que a salvação provém de Deus para o homem (Jn 2:9), e nunca do homem para Deus (Mt 16:26), como se pode perceber claramente no sentido em que o véu do Templo se rasgou na morte de Jesus, ou seja, de cima para baixo (Mt 27:51; Mc 15:38). O homem, em seu estado caído, nunca poderia por si só tomar a iniciativa de buscar a Deus, sendo necessária uma intervenção do Espírito Santo para convencer o homem que está no mundo do pecado, da justiça e do juízo (cf. Jo 16:8; Cl 2:13; bem como Ef 2:1), mas sendo um fato também que é possível ao homem resistir à verdade e a obra regeneradora do Espírito Santo (At 7:51-53; 18:5,6; Fl 1:8; 2 Tm 2:25,26; 3:8), podendo inclusive até extinguir totalmente o operar do Espírito em suas vidas (1 Ts 5:19).
Perceba no caso da conversão de Saulo, aonde Cristo lhe apareceu e lhe fez um chamado, o apóstolo disse que não foi desobediente à visão celestial que tivera, incluindo aí aceitar a fé em Cristo e o ministério que o próprio Senhor estava lhe confiando naquele momento (cf. At 26:15-19). Perceba que o próprio Paulo afirmou a possibilidade dele ter desobedecido à visão que tivera, mas Deus, como conhecedor de todas as coisas em todos os tempos, sabia que ele aceitaria ao chamado (Gl 1:15).
Estes raciocínios já desmontam a sua argumentação em relação a “produzirmos nossa fé”, pois a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm 10:17), pois é a Palavra que testifica de Cristo (Jo 5:39), e é ela que nos santifica (Jo 17:17) e tem poder para salvar a nossa alma (Tg 1:21). O “dom” que fala em Ef 2:8 não é a “fé”, senão a própria salvação, que é um “dom”, ou “dádiva”de Deus. Paulo confirma este raciocínio ao afirmar que “Não vem das obras, para que ninguém se glorie”, aonde claramente ele fala sobre a salvação. A “fé” em 1 Co 12:9, como um “dom”, não é a fé para salvação em Cristo, mas de uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas. É a fé que remove montanhas e que freqüentemente opera em conjunto com outras manifestações do Espírito, tais como as curas e os milagres (Mt 17:20; Mc 11:22-24; Lc 17:6). Perceba que a fé para salvação é nossa (Lc 7:37-50; Hb 4:2), mas a fé que engloba dons ministeriais procede de Deus (Rm 12:3-8; 1 Co 12:7). Pedro nos manda acrescentar a nossa fé a virtude (ou poder), cf. 2 Pe 1:5.
Verdadeiramente, como já fora exposto acima, nós não temos mérito próprio algum na salvação, pois nós mesmos não poderíamos nos salvar, ficando a graça salvadora 100% como mérito divino (Jo 15:5b). Mas não é porque algo provém exclusivamente de outra pessoa que nós não a podemos rejeitar (Lc 7:30; 10:16; Jo 12:48; At 7:39; 13:46; 1 Tm 1:19; Hb 12:25).
Quanto a Rm 9:15, citado pelo irmão, não é a primeira vez que eu irei lhe explicar o sentido. Estes versos de Romanos talvez sejam os versos neo-testamentários mais usados pelos calvinistas. Realmente a uma primeira vista eles deixam pairar a idéia de uma salvação individual determinada pelo Senhor, mas quando todo o contexto do capítulo 9 é analisado, com o apoio dos capítulos 10 e 11 do mesmo livro, fica-se mais do que claro, como já fora exaustivamente provado teologicamente pelos defensores do livre arbítrio, que a eleição referida em Romanos 9 é estritamente da nação de Israel, através do eterno plano divino para com os israelitas.
Antes de partirmos para uma análise bíblica da questão, devemos expor, para uma melhor compreensão, a divisão temática que Paulo fez do livro de Romanos:
1:1 – 3:20 = A pecaminosidade universal do homem
3:21 – 5:21 = A justificação dos nossos pecados pela morte de Cristo
6:1 – 8:39 = A libertação dos grilhões do pecado
9:1 – 11:36 = O passado, o presente e o futuro de Israel
12:1 – 15:13 = Responsabilidade individual
15:14 – 16:27 = Observações pessoais
O cerne da questão é que os partidários da predestinação vêem nos versos 11, 12 e 13 Deus amando Jacó para a salvação e rejeitando Esaú para a mesma, mas isso não passa de uma verdadeira aberração exegética. O que nos é revelado nesses versos é que Deus escolhe uma pessoa para um determinado propósito não por causa das suas boas ou más obras, mas sim por sua soberana vontade de escolha, pois o propósito e o plano são dEle e não do homem, a salvação só podia partir de Deus para o homem, e não do homem para Deus; Deus era quem poderia alcançar o homem, e nunca ocorrer o inverso, sendo assim, Deus tinha total liberdade para montar o seu plano divino de salvação como bem Lhe aprazia, seguindo sempre a sua perfeita justiça (Sl 11:7). Rebeca teve dois filhos, apenas um poderia dar continuidade a linhagem da qual viria a surgir a nação Judaica e o Messias, pela lógica deveria sempre ser o primogênito, mas o que se aprende nesses versos é que Deus, como soberano em sua graça, poderia muito bem escolher qualquer um, independentemente de primogenitura ou de obras, é o que se verifica quando Deus escolheu Jacó e não Esaú; em suma, Deus não segue cartilhas humanas de como proceder em seus atos e decisões. Ao se compreender isso, percebe-se claramente a coerência da resposta que Paulo faz a sua própria pergunta no verso 14: “Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma”.
A afirmativa do verso 13: “Amei Jacó e aborreci Esaú”, não se refere, absolutamente em nada, ao destino final das almas de cada um, refere-se sim, as nações de Israel (cujo pai era Jacó) e Edom (que nasceu de Esaú), em outras palavras Deus estava dizendo: “Amei Israel e aborreci Edom”, mas amou em que? Amou ao escolher Israel para ser a nação detentora da glória, dos concertos, da lei e das promessas (Rm 9:4), para que de Israel saísse a salvação para todos os povos, gentes e nações, inclusive para os edomitas, pois a salvação é para todo aquele que invocar o nome do Senhor (Joel 2:32; At 2:21; Rm 10:13).
Em suma, Paulo lembrou aos judeus (que não tinham se convertido a Cristo) o privilégio imerecido que tinham, depois os alertou que a justiça que eles buscavam, que era pela lei, não foi alcançada, pois a salvação é pela lei da justiça (que é pela fé no sacrifício de Cristo), sendo que esta fora alcançada pelos gentios, que semelhantemente a Abraão, a conquistaram pela fé. É o que se compreende no desenrolar do capítulo 9, aonde a salvação pela fé transcende linhagens biológicas, nações e culturas, sendo todo o raciocínio deste capítulo muito bem sintetizado pelo apóstolo nos versos 30, 31, 32 e 33, que dizem: “Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; tropeçaram na pedra de tropeço; Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido”.
Os versos 22 e 23 do mesmo capítulo merecem um comentário especial, mesmo não fazendo parte das referências em estudo. Esses versos dizem o seguinte: “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou”. Esses versos costumeiramente também são usados pelos calvinistas, mas o uso deles como apoio para a doutrina da predestinação é de uma fragilidade só. Paulo apenas disse qual era o destino que Deus havia preparado para os ‘vasos da ira’ e para os ‘vasos de misericórdia’, mas não especificou em nenhum momento quem eram esses vasos, nem disse que Deus havia determinado todas as pessoas individualmente para um em específico. Os vasos da ira são todos aqueles que irão gozar da ira de Deus, rejeitando o seu plano de salvação, o grupo desses vasos está predestinado por Deus a ir para a perdição eterna, já os vasos de misericórdia são aqueles que irão gozar da misericórdia de Deus, aceitando o seu plano de salvação, o grupo desses vasos está predestinado pelo Todo-Poderoso a ir para a glória; mas é cada pessoa individualmente que decide aceitar ou não o sacrifico de Cristo, crer ou não na Bíblia.
Quanto a sua citação de At 16:14, tenho que admitir que fiquei surpreso em se fazer uso dele, pelo mesmo não fazer a mínima apologia a doutrina calvinista da predestinação incondicional. Não se faz necessário nem o uso de uma exegese para esclarecer o significado do mesmo. Perceba que o verso em nada se refere ao conhecimento para salvação da irmã Lídia, visto que a mesma já era convertida “que servia a Deus”. Portanto, percebemos que o Senhor abriu o coração da irmã para que a mesma compreendesse o que Paulo ensinava, não para que a mesma se convertesse, mas para que a mesma entendesse as coisas espirituais que lhe eram pregadas. É o mesmo caso dos apóstolos, que já eram crentes e salvos na pessoa de Cristo, mas que fora necessário uma intervenção divina para que os mesmos compreendessem as Escrituras, no tocante a ressurreição de Cristo e ao seu ministério terreno (cf. Lc 24:45). No demais, somente aqueles que são ensinados pelo Espírito Santo, que são espirituais, podem compreender as coisas de Deus (cf. 1 Co 2:10-15; Jo 14:26). Perceba que o texto de Jo 14:26 afirma que o Espírito Santo iria ensinar os já discípulos, ou seja, aqueles que já haviam crido e se convertido.
Quanto ao meu verso de Mt 23:37, os versos que o caro usou, qual sejam, Rm 9:30-33, não respondem a minha indagação, senão que os mesmos versos usados pelo irmão já encontram-se explicados em seu devido contexto, como o caro poderá atestar ao reler esta produção mais acima. No demais, o próprio irmão acaba concordando que a própria nação de Israel (i.e. os judeus em sua maioria) são os responsáveis pela rejeição, quando Deus queria o contrário.
Quanto a sua explicação concernente as línguas estranhas, não é a primeira vez também que eu a irei explicar. Os cessacionistas alegam que as línguas de pentecostes e do início da Igreja eram somente línguas humanas de outras nacionalidades, e não novas línguas, línguas estranhas ou angelicais. Realmente o texto de Atos 2 não deixa dúvidas que as línguas de Pentecostes eram outras línguas humanas, de outros países e nacionalidades. Mas será realmente que a Bíblia sustenta a tese tradicionalista de que as línguas eram somente humanas?
Antes de qualquer referência, vamos pensar um pouco. Se as línguas eram somente outras línguas humanas, para que é que serviria então o dom de interpretação? Ora, quando em Pentecostes os discípulos de Jesus falaram na língua nativa de cada pessoa, não tinha a necessidade da interpretação, pois a língua já era dirigida para cada gentio ali presente, a função era que todos entendessem a pregação e que ficassem (como realmente ficaram) pasmados com a capacidade de uma pessoa judia falar nas línguas nativas de cada pessoa ali presente; era uma forma de demonstrar o poder do Espírito Santo. Se as línguas seriam sempre outras línguas humanas, qual seria o sentido de que em um meio aonde só estavam judeus congregados, uma pessoa falar em italiano e ser necessário se levantar um interprete? Mas as línguas estranhas, as que ninguém entende, essas tem duas finalidades, que são: “O que fala em língua edifica-se a si mesmo” (1 Co 14:4) e “de modo que as línguas são um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos” (1 Co 14:22).
Haviam as línguas humanas, dos homens, como também haviam as línguas desconhecidas, angelicais (‘ainda que falasse as línguas dos homens e dos anjos’ - 1 Co 13:1), que nenhum homem podia entender pois “o que fala em língua não fala aos homens, mas a Deus; pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios” (1 Co 14:2), a não ser aquele que tivesse o dom de interpretação (‘o que fala em língua, ore para que a possa interpretar’ - 1 Co 14:13), e que no momento oportuno, para a edificação da igreja, este interprete comunica-se a igreja a interpretação das línguas (‘Quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação’ - 1 Co 14:26). Quando o Senhor Jesus falou em Marcos 16:17 que “E estes sinais acompanharão aos que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas”, ele usou a palavra ‘novas’ e não ‘outras’ línguas, ora, se é novas é por que elas ainda não eram conhecidas no dia em que Ele ascendeu aos céus; o Senhor não disse que os seguidores não falariam em ‘outras’ línguas, apenas disse que ‘um’ dos sinais seria o de falar em ‘novas’ línguas.
Concordo com o irmão que existem desvios e exageros quanto ao uso do dom de variedade de línguas, os neo-pentecostais, os católicos da RCC, os adventistas e os mórmons são provas reais que se pode existir engano (inclusive no meio pentecostal clássico), tanto humano quanto demoníaco, no uso deste dom, devendo, realmente, a igreja julgar o profeta (incluindo também, sem formar uma heresia, os que falam em línguas), cf 1 Co 14:29. Mas vale lembrar que a infidelidade humana não anula a fidelidade divina e a sua imutável palavra, com suas eternas doutrinas (Nm 23:19; Rm 3:3; 2 Tm 2:13). Mas volto a repetir: a Assembléia de Deus, como instituição, repudia o mau uso dos dons e a sua banalização, podendo isso ser perfeitamente perceptível em seus editos denominacionais, como o Mensageiro da Paz e os demais editos da CPAD.
Em relação ao seu comentário sobre as profecias, apenas gostaria de destacar que sempre existiram falsos profetas (Dt 18:20-22; Ez 13; 1 Jo 4:1), e hoje não é diferente. É semelhante ao dom de línguas, como eu explanei no capítulo anterior. Não é porque existem pessoas que usam erroneamente e/ou brincam com esses dons que eles deixam de existir ou que vamos deixar de usá-los em nossos dias. É uma questão de trato, e não de existência.
No demais, sinto-me alegre em ver um irmão tradicional que crer na manifestação e atuação do Espírito Santo na Igreja do Senhor, distribuindo os dons espirituais para o proveito e edificação espiritual da mesma.
Despeço-me esperando poder ter ajudado em algo, esclarecendo alguma dúvida ou mau entendimento quanto a algumas doutrinas bíblicas. Colocando-me sempre a disposição para colaborar com aquilo que esteja dentro de minha limitada capacidade.
Atenciosamente,
Anchieta Campos”.
Continua.
Anchieta Campos
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